Vale a pena investir na TV digital aberta interativa

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Texto publicado em: Telesíntese

Artigo de André Barbosa Filho*

Sua rede de grande capilaridade deve tornar-se um braço importante na disseminação dos conteúdos audiovisuais.

É obvio que a internet e as redes sociais vieram para ficar. São conquistas das sociedades humanas, ávidas por se expressar, por participar, por se informar, por se educar e por se divertir. Novas formas de comunicação estão nascendo baseadas no ciberespaço, na integração de plataformas. Os modelos da radiodifusão analógica no formato centralizado, de um para todos, vão aos poucos se transformando com o evento da TV digital interativa, influenciada pela necessidade de responder a ânsia de interação dos indivíduos e grupos sociais.

Entretanto, cabem aí algumas reflexões:

A TV, em países desenvolvidos como Japão, Inglaterra, França, Itália, os escandinavos, Alemanha, Austrália e Estados Unidos tem um espaço significativo da atenção, seja em alguns casos, majoritariamente por assinatura, em outros em modelos abertos e gratuitos. A TV e o cinema são os grandes produtores de conteúdos audiovisuais da indústria cultural. Portanto, determinam padrões e hábitos de consumo.

A TV nos países em desenvolvimento é o meio de maior penetração domiciliar e apresenta-se no formato aberto e gratuito, cenário que coincide com a baixa oferta de infraestrutura de internet de alta velocidade. A TV digital interativa não existe em países que possuem redes de banda larga. Estes já utilizam a interatividade por outros meios. A TV digital nesses países reúne a oferta de modelos de programação onde imperam os conceitos de entretenimento e os espetáculos artísticos, as produções audiovisuais caras e com alto acabamento, as grandes coberturas jornalísticas. Tudo com alta definição e com toda tecnologia que puder somar-se a qualidade de imagem e de som de seus programas

A TV digital proposta pelo Brasil é interativa, quer proporcionar a bidirecionalidade, ou seja, incluir em seu modelo, o canal de retorno para introduzir a possibilidade de interação entre produtores e o público. Estão sendo criados modelos para a publicidade comercial, para compras e acessos bancários, e, especialmente, na oferta de serviços públicos como a marcação de consultas no SUS, pagamento e acompanhamento de impostos, educação à distância em todos níveis e diversos objetivos de formação e capacitação, em apoio a produção cultural audiovisual, nacional, regional e local e ao desenvolvimento da cidadania plena.

A convergência da TV digital com as plataformas IPs vai ser necessária entre outras necessidades para baratear os custos de transmissão de conteúdos locais, para propiciar o intra-fluxo de programação, para utilização como canal de retorno. As TVs por IP vão acontecer socialmente na medida em que a oferta de banda larga, rápida, barata e universal for uma realidade nestes países sem desenvolvimento que somam 4,5 bilhões de pessoas. Mas vão tornar-se hegemônicas quanto à exibição de produções sofisticadas e que respondam a grandes investimentos de produção? Vão poder, a curto prazo, transmitir simultaneamente os sinais em alta definição relativos aos grandes eventos que envolvem bilhões de pessoas como a Copa do Mundo e as Olimpíadas? A lógica industrial deve continuar a ordenar a exibição em mídias seletivas, que atendam o deleite da percepção sensorial humana e garantam a remuneração dos investimentos, numa cadeia que tem como ponto terminal a mídia massiva. E neste contexto estão as salas de cinema a TV a Cabo e a TV Digital Aberta em Alta Definição.

A internet e as redes sociais já são responsáveis pelo aparecimento de miríades de novos produtores e de conteúdos que rapidamente vêm se tornando hits globais. Entretanto, dizer que os trash movies, as produções de garagem, as manifestações individuais por mais espaço que ocupem da atenção do público em geral, vão impor à indústria de conteúdos seus modelos, é um pouco temerário. O que podemos e devemos propor é um ambiente público onde as manifestações do individuo ou de coletivos sejam livres para florescer. Seja através dos espaços em redes sociais, blogs, sites, dos celulares e handsets, mas, igualmente, disputar espaço nas telas maiores, onde os investimentos são mais robustos. Aí, se soma a cobertura em nossos países em desenvolvimento da TV aberta.

A TV digital pública interativa deve respeitar suas características de veículos de radiodifusão. Ela não é IP. É transmitida pelo ar. E isto não a faz velha ou ultrapassada. Ao contrário. Sua rede de grande capilaridade deve tornar-se um braço importante na disseminação dos conteúdos audiovisuais produzidos por agentes nacionais e, de preferência, com temáticas ligadas a nossa identidade cultural. E, portanto, soma-se ao esforço do avanço do PNBL na construção de uma economia da cultura e de uma industrial de conteúdos pujante e com grande aceitação popular. Entretanto, a rede de banda larga, com seus backbones, backhalls e as tecnologias que permitem o acesso final tem características de tráfego de dados e conteúdos audiovisuais diferentes das redes de radiodifusão. Estas não podem prescindir do projeto de retransmissão de sinais nacionais simultâneos por entes afiliados que, por sua vez, devem ser alimentadas regionalmente ou localmente. Assim, podemos afirmar que o mesmo objetivo de propiciar a participação a todos que os querem se comunicar livremente está contemplado, mesmo que através de modelos diversos de transmissão e recepção que evidentemente não se excluem entre si, mas se somam, por sua complementaridade.

Finalmente, todos sabem, o Estado induz as políticas. Estas devem corresponder aos anseios da sociedade. Banda Larga é um desejo legítimo. Vamos, portanto, apoiar as iniciativas nesse sentido. Mas não nos esqueçamos que o único meio de acesso que permite o acesso à informação sem custos diretos para as audiências ainda é a TV aberta e gratuita. Nenhum mais. Vale a pena investir dinheiro público neste projeto? Temos certeza que sim.

*André Barbosa Filho é a assessor especial da Casa Civil e conselheiro do Fórum SBTVD