Nesta quarta-feira (10) participei de uma atividade externa do programa do qual participo aqui na China. Eu e dois colegas do meu grupo de jornalistas da América Latina e Caribe - um da Guiana e outro da República Dominicana - nos juntamos a outra turma com profissionais de países da Ásia e de África.
O primeiro destino do passeio foi o Parque Florestal do Grande Canal, localizado no distrito de Tongzhou, em Beijing. Percorremos um trecho de dois quilômetros. Muitos foram de bicicleta, mas preferi ir de carro elétrico e poupar o meu quadril. Para ser sincera, tem uns 30 anos que não subo num 'camelo' (gíria brasiliense para a magrelinha). Melhor não arriscar nem o vexame nem machucar de novo o meu quadril.
Esse parque está localizado no trecho norte do Grande Canal, estrutura com uma história de cerca de 2 mil e 500 anos que é a maior via navegável artificial do mundo, com 1.776 km de extensão. Liga a China de norte a sul e é tombada como patrimônio mundial da Unesco. Conecta o rio Amarelo e o rio Yangtze e começa em Beijing, passa pela cidade costeira de Tianjin e pelas províncias de Hebei, Shandong, Jiangsu e Zhejiang até a cidade de Hangzhou.
Qual não foi a minha surpresa quando vi várias partes do canal tomadas por flores-de-lótus. Eu nunca havia visto uma ao vivo e em cores. Gosto tanto dessa flor que tenho duas tatuadas na pele. Essa planta aquática que floresce sobre a água tem vários significados para os povos orientais, como pureza espiritual, do corpo e da mente. A água lodosa que acolhe a planta é associada ao apego e aos desejos carnais, e a flor imaculada que desabrocha sobre a água em busca de luz é a promessa de pureza e elevação espiritual. Poético, né?
A segunda parada do passeio foi o Centro de Convenções de Tongzhou, onde assistimos a uma apresentação sobre o “Plano de Integração Beijing-Tianjin-Hebei” que tem a capital chinesa como centro de um pólo de desenvolvimento. Vou contar em detalhes sobre essa iniciativa em uma reportagem especial nos próximos dias.
A terceira parada foi um almoço em um hotel no distrito de Tongzhou que foi uma experiência muito enriquecedora. Durante a refeição troquei ideias com dois colegas, um do Sudão e outra da Jordânia. Entre os assuntos, os estereótipos criados pela indústria cultural estadunidense marcada por preconceitos contra países do sul global e em desenvolvimento, como nossas nações.
O jornalista sudanês comentou que a ideia geral sobre o país dele é que é um lugar marcado por violência: assassinatos e sequestros. Nada mais longe da realidade, ressaltou. Sobre o Brasil, em tom de brincadeira, disse que imagina uma floresta tropical cheia de anacondas. Brinquei que de fato eu criava uma cobra gigante no meu quarto e que era um pet para os meus filhos. A colega da Jordânia, compartilhou, como é um país de maioria muçulmana, seria repleto de terroristas fundamentalistas.
Risadas à parte, o assunto é sério. A própria China, país que tem nos acolhido com tanto respeito e cuidado, é a bola da vez na fábrica de mentiras da mídia hegemônica ocidental. Basta seguir o conselho de Roger Waters, o co-fundador da banda Pink Floyd, e ler um pouco sobre a realidade do gigante asiático.
Você vai se surpreender como os fatos são tão distantes do arsenal de mentiras sistematicamente difundidos mundo afora e tomados como verdade pelos incautos. Além da questão de Taiwan, o assunto quente do momento (leia a coluna China em Foco e conheça o ponto de vista chinês), vale uma pesquisa sobre a maldosa história de que existe perseguição à minoria étnica de uigures em Xinjiang. Eu fiz um programa bastante informativo no meu canal no YouTube no qual entrevistei o camarada e historiador Jones Manoel.
Conhecer os fatos não é negar que há contradições na China, no Sudão, na Jordânia e no Brasil. É ter a chance de desenvolver o pensamento crítico e parar de seguir tendências e enfrentar a realidade.
A quarta parada foi a fábrica de produtos lácteos Mengniu, que participa ativamente da iniciativa Cinturão e Rota e com presença global. Em breve você vai ficar por dentro do que aprendi por lá. Um detalhe da visita me chamou a atenção: um corredor cheio de bandeiras do Partido Comunista da China (PCCh). É bastante curioso esse encontro entre o empreendedorismo e o comunismo.
O quinto e último destino do passeio eu considerei um presente pessoal. Fomos à Chinatown Art Gallery e participamos de uma mostra guiada de vestimentas tradicionais da China, de várias dinastias, e de bonecas que reproduzem essas peças deslumbrantes e cheias de história. Claro que também vai virar uma matéria especial. Afinal, moda é o tema que faz meus olhos brilharem. Aguardem.
Até amanhã!