DIÁRIO DA CHINA

Sou brasileira de corpo e alma, mas tenho jurado que sou cidadã de Beijing

Com o passar do tempo me sinto cada vez mais confortável em viver na capital chinesa

Créditos: Wikimedia Commons - Vista do distrito comercial central de Beijing, que fica no distrito de Chaoyang, onde moro aqui na China
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Há mais de um mês na China, e desde o dia 29 de julho em Beijing, tenho me sentido a cada dia mais à vontade na minha vizinhança. Praticamente uma cidadã da capital chinesa. [Em português, o gentílico para quem é dessa metrópole não soa muito bem, pois é também o nome de uma raça canina conhecida por adorar morder calcanhares, o pequinês]. 

Para uma pessoa que nasceu sem GPS e tem uma dificuldade enorme de se localizar com mapas - um eufemismo, sou realmente incapaz de fazê-lo - me locomover dentro do complexo em que moro, conseguir ir sozinha ao supermercado, ao restaurante e à loja de conveniência é digno de aplausos pessoais. Estou bastante orgulhosa de mim mesma.

Nesta semana eu fui a um salão de beleza na companhia de uma colega mexicana. E juro que consigo voltar sozinha. A comunicação com o cabeleireiro que me atendeu foi feita por meio do tradutor do WeChat (que é muito melhor do que o do Google, posso garantir) e por meio de fotos.

Acervo pessoal - Durante o corte de cabelo em Beijing

O corte foi bem simples, aparar a minha franja e a lateral raspada que uso no lado direito. Não mexi no comprimento. Antes da tesoura e da máquina ganhei uma das melhores lavagens de que me lembro, com direito a uma massagem caprichada no couro cabeludo. O corte da franja pareceu ter sido feito com a ajuda de uma régua, de tão exato. O sidecut também ficou muito bom. Recebi até uma escova completa. Um dia de Barbie em Beijing. Já risquei da minha lista do que fazer encontrar um lugar para cuidar das madeixas.

Outro motivo de orgulho foi achar um restaurante bem pertinho, com preço justo e refeições ocidentais. Depois de um mês eu me esbaldei em carne vermelha com batata frita. Com direito a um suco de maracujá do deuses. Acabei indo mais uma vez ao lugar e comi um hambúrguer excelente. 

Por aqui choveu praticamente a semana toda, e qual não foi o meu orgulho de ter ido até uma loja de conveniência para comprar um guarda-chuvas, transparente e grande. Um luxo.

Nesta sexta-feira (19) recebi uma notícia que me deixou extremamente animada. A partir da próxima segunda-feira (22), farei um estágio no Global Times, um veículo de imprensa que eu leio diariamente e que na minha avaliação é o que melhor se comunica com o público ocidental que tem interesse em conhecer a China.

Isso significa que vou vivenciar o dia a dia de uma trabalhadora chinesa, pegarei transporte público para ir e voltar do jornal, cumprirei jornada de trabalho e providenciarei minhas refeições por lá. Eu tenho certeza de que vou aprender muito com essa experiência e poderei compreender melhor o funcionamento da mídia desse país. 

O fato de já ter 30 anos de lida no jornalismo não me impede de aprender todos os dias, com profissionais mais ou menos experientes do que eu. Para mim não importa a idade nem o tempo de profissão, eu acredito que qualquer pessoa tem muito a ensinar. Do meu lado, sempre estou aberta ao aprendizado e à troca de experiências. Faz parte do meu jeito de ser. No dia que achar que sei tudo, não fará mais sentido ser comunicadora. Agora imagina essa troca com jornalistas da China e de países como Guiana, Vietnã, Egito, Paquistão, Sri Lanka, Tanzânia e Indonésia? Vai ser demais!

Sábado é minha folga e vou almoçar com uma jornalista chinesa que fala português e trabalha na CCTV. Vou inclusive dar mais um passo na minha sensação de cidadã de Beijing e pegar um táxi sozinha para me encontrar com ela. Sempre na companhia da minha fé em Nossa Senhora Aparecida e do tradutor online, claro.

Até domingo!