DIÁRIO DA CHINA

Se o inferno existe ele voa e se chama Latam

Depois da mala trocada no Brasil, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, estou passando por um verdadeiro calvário com o atendimento sádico da cia aérea brasileira

Créditos: Wikimedia Commons - Joseph Anton Koch, Inferno de Dante (1825) - caneta, tinta marrom e preta, aquarela e guache
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Fiquei toda feliz quando uma atendente da Latam me informou via mensagem de WhatsApp que a minha bagagem havia sido localizada e que seria enviada para o Aeroporto Internacional de Beijing. Um lugar colossal, que ocupa uma área de 1480 hectares de terra, que equivale a mais de dois mil campos de futebol. 

A orientação que recebi foi a de aguardar o contato de outra área da Latam, responsável pelas bagagens extraviadas. No nome da conta comercial do WhatsApp que me mandou mensagem aparece  'Lost Luggage WFS - Orbital'. Na página na internet a empresa, que pelo visto é uma terceirizada, se apresenta como "líder no mercado de prestação de serviços aeroportuários" e que desde a fundação, em 2002, tem "uma imagem de excelência na qualidade e confiabilidade". Vai vendo. 

A pessoa dessa WFS Orbital que falou comigo me disse para ir ao aeroporto da capital chinesa nesta segunda-feira (8) buscar a mala que chegaria no voo OZ 335, operado pela Asiana Airline (uma cia aérea sul-coreana). Também informou um código sob o qual a bagagem estaria registrada. Não disse o horário, nem de onde vinha a aeronave nem tampouco o terminal em que chegaria.

Além disso, a atendente me incubiu de achar um contato com a companhia aérea para que eu despachasse de volta a mala do outro passageiro que está comigo. Precisei vasculhar a internet para achar essas informações e repassar para a pessoa. Assim como tive que me virar para saber para qual terminal daquele aeroporto gigantesco eu deveria ir. 

Fui acompanhada de uma pessoa que trabalha no programa do qual participo aqui na China. Descobrimos que não havia nenhum voo como informado pela companhia. Ainda fui orientada pela administração do aeroporto a buscar mais informações, pois as que haviam sido repassadas a mim pela atendente não seriam suficientes.

Depois de gastar tempo, paciência e dinheiro de transporte, cheguei em casa e mandei mensagem para a atendente para relatar o ocorrido. Ela já informou outro número de voo, OZ 452. Como havia instalado o aplicativo da companhia aérea, chequei que o novo voo informado faz o trajeto Frankfurt (Alemanha) para Seoul (Coreia do Sul). Outra informação errada.

Sem ao menos pedir desculpas pela informação equivocada, ela insistiu que a bagagem estava nesse novo voo e que houve uma conexão. Embora não consiga localizar o registro de que esse voo tenha passado por Beijing, ela se deu por satisfeita. Acha que cumpriu o papel dela e eu que lute.

O que me fez concluir que não é apenas incompetência. É caso de má-fé com altas doses de sadismo. Submeter uma mulher sozinha em um país estrangeiro no qual não fala o idioma e que sequer conhece o alfabeto não é uma atitude apenas irresponsável. É crueldade. 

Então, a novela da minha mala perdida está longe de acabar. Se existe um inferno, ele voa e se chama Latam. Se Dante Alighieri, autor do poema épico do século XIV, Divina Comédia, vivo fosse, certeza que teria dedicado um lugar especial em um dos nove círculos do inferno para empresas como essa.

Até amanhã, espero que com boas novas.