Encontro com Fernando Sabino: a falta que ele faz!

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Vou falar já do Fernando Sabino. Mas, antes, peço licença pra lembrar de umas coisas... Quando eu era criança, não havia propriamente uma "biblioteca" lá em casa. Meus pais guardavam os livros numa prateleira, num quarto que servia também para que meu irmão e eu esparramássemos nossos cacarecos, nossos jogos e, principalmente, nossos times de futebol de botão... Quando eu tinha já 11 anos, minha irmã nasceu, ocupou aquele quarto, e os livros de meus pais foram parar no quarto onde dormíamos meu irmão e eu. Imagino que nada disso tenha sido proposital. As coisas foram se ajeitando como era possível. Meus pais não puseram os livros em nosso quarto para que ficassem mais acessíveis a nós. Simplesmente, botaram onde havia mais espaço. Mas isso acabou sendo providencial. E até hoje agradeço... Bem perto da minha cama, ficaram por anos e anos títulos e autores que, aos poucos, foram me capturando. Havia a coleção completa de Monteiro Lobato (aquela de capa dura, verde, um clássico nas estantes da classe média brasileira). Essa muita gente leu. Devorei todos antes dos 14 anos. E aos poucos fui devorando os outros. Lembro-me especialmente de três deles: "Meu amigo Che", de Ricardo Rojo (biografia de Che Guevara; li aos 16 anos, despertou-me o interesse pela política e a história da América Latina, que segue comigo até hoje); "Memórias", de Nelson Rodrigues (uma coletânea de textos que me transformou, aos 16 anos, em fã perpétuo do genial dramaturgo e cronista); e "O Encontro Marcado", de Fernando Sabino. Este último li aos 17 anos. Foi o primeiro romance "adulto" a me marcar profundamente. Foi a primeira vez que compreendi (na verdade, senti antes de compreender) até onde a literatura pode nos levar. Não sei se vocês conhecem "O Encontro Marcado": conta a história de três amigos que vivem intensamente, juntos, as primeiras aventuras de juventude. Combinam de, no futuro (aconteça o que acontecer), voltarem a se encontrar. As circusntâncias  levam cada um pra um lado, nessa fase de entrada na vida adulta. Evidentemente que, no fim das contas, o tal "encontro marcado" não acontece. Dito assim, parece banal. Mas nao é. Não vou contar mais, pra não estragar a leitura de quem se dispuser a encarar o romance... O livro lançou-me numa grande catarse. Quando o li, eu mesmo estava nessa fase de sair da escola e descobrir o mundo adulto, chegando à Universidade. As primeiras dores de amor começavam a aparecer, algumas amizades iam ficando pelo caminho... O "Encontro Marcado" falava disso tudo, de forma magistral. Nunca mais esqueci. Quando me perguntam quais romances foram os mais importantes em minha vida, incluo sempre "O Encontro Marcado" - sem pestanejar. Talvez, se eu o tivesse lido mais tarde, aos 25 ou 30 anos, o impacto teria sido menor. Mas àquela altura da vida foi inesquecível. Tão importantes como "O Encontro Marcado" foram, para mim, em épocas (e por motivos) diferentes: "Conversa na Catedral", de Mario Vargas LLosa;  "Os Irmãos Karamazov", de Dostoievksvi; Anna Kerênina, de Tolstói;  e "A Trégua", de Mario Benedetti. Vejam que, na minha lista pessoal, o único brasileiro é o livro de Fernando Sabino. Claro que depois li muitos outros romances que considero (eu e a torcida do Flamengo) até mais elaborados, esteticamente mais importantes - como "Grande Sertão, Veredas"; ou "Memórias Póstumas de Brás Cubas". Mas nada me marcou tanto como (perdoem a redundância) o "Encontro Marcado". Por isso, fiquei comovido quando recebi nesse dia 12 de outubro o e-mail do leitor Rafael Rodrigues, com link para um site que presta justa homenagem a Fernando Sabino. O site chama-se "A falta que ele faz" - http://afaltaqueelefaz.com.br/. No site, há uma bela entrevista do Zuenir Ventura e um comovente texto do Affonso Romano de Sant´Anna, sobre Fernando Sabino. Vale conferir! Humildemente, presto aqui minha homenagem. Não com o brilhantismo de Zuenir ou de Affoso Sant´Anna. Mas declarando minha admiração de simples leitor. Neste dia 12 de outubro de 2009, Fernando Sabino completaria 86 anos de idade. Viva Fernando Sabino, um brasileiro que sabia contar histórias!