Escondidinho de chuchu - Por Lelê Teles

"Lula tá jogando xadrez e os caras tão brincando de dama"

Foto: João Bittar
Escrito en OPINIÃO el

“nem só de pão viverá o homem”,

Djízus

Volto a usar metáforas gastronômicas porque os tempos pedem palavras que nos deem água na boca.

Em infames tempos de fome é preciso encher o bucho de imaginação, como disse certa vez o sapientíssimo Josué de Castro, o geógrafo que cartografou a falta de comida.

Castro cria que o povo usava expressões alimentícias, de boca cheia, para enganar a barriga vazia: “é mamão com açúcar”; é pão-pão, queijo-queijo”; “é uma ova”; “é batata”, “é uma sopa...”

Pois bem, Lula vai demonstrando ser um osso duro de roer.

Carne de pescoço, tem enfrentado com sagacidade as críticas acríticas de ex-companheiros de governo que andam a se assanhar nas redes sociais ameaçando fazer picadinho da possível dobradinha LulAlckmin.

Há até um abaixo-assinado rolando nas redes tendo caciques petistas como abaixo-assinantes.

Pra oposição isso é um prato cheio.

Caciques que abaixo assinam esse tipo de sabotagem estão, em verdade, cuspindo no prato que comeram.

Demonstram, na verdade, que confiam mais em suas intuições instintivas do que na liderança calculada de Lula da Silva.

“Alckmin roubou a merenda das crianças, não vamos engolir essa...”

Temem que, como Temer, Alckmin traia o Barba, ejetando-se do Jaburu diretamente para o Alvorada, dando uma punhalada nas costas de Lula, qual um Brutus de Pindamonhangaba.

Creem, esses incréus, que somente gente de fora é capaz de dar rasteira em sacis; esquecem-se, esses empedernidos e precavidos paranóicos, que Palocci quase foi o nosso candidato à presidência.

E isso só não aconteceu porque ele, cheio de poder, violou o sigilo bancário de um humilde caseiro, deixando claro o canalha que era.

E não nos esqueçamos, Dias Toffoli, até pouco tempo, era advogado do petê e hoje é o que é.

Ou seja, tem gente por aí tentando comer sopa de garfo.

O mundo, diz o adágio, dá voltas.

E nessas voltas que o mundo dá, Bolsonaro, que é um banana, temendo a revolta dos famintos, ou desafiando-os, se disse incomível; se é que era disso que ele tava falando.

O bispo Sardinha, coitado, não teve a audácia de fazer esse tipo de analogia, uma vez que o infeliz foi batizado com nome de piscosa iguaria.

E por falar em iguaria, Bolsonaro quase morre engasgado com um camarão mal mastigado.

Dizem que foi praga.

O sujeito havia batido com a língua nos dentes e criticado o MST por ter  servido uma quentinha com camarão para o Wagner Moura.

Como se vê, a vingança é um prato que se serve frio.

Lula, sagaz e astuto, vai comendo pelas beiradas, cozinhando o galo e esperando a coisa ferver.

O Barba nunca afirmou que Alckmin é seu candidato a vice, mesmo porque Lula ainda não confirmou que é candidato, tá tudo em banho-maria.

Há uma máxima gastronômica irrefutável, "quem tem pressa come cru".

Engula essa: Lula precisa de Alckmin porque, entre outras coisas, quer deixar o caminho livre para uma vitória certa de Haddad em São Paulo, o que cacifará o sujeito como o futuro sucessor do Barba.

De quebra, uma vitória de Haddad seria decisiva para que Boulos, finalmente, pudesse chegar à prefeitura da capital paulista.

Lula tá jogando xadrez e os caras tão brincando de dama.

Lula é digno de crítica, claro, Lula comete erros, é óbvio, mas Lula não ficou 580 dias num cárcere jogando playstation.

Quando essa rapaziada vinha com a farinha, Lula já tava comendo o pirão.

E outra, com Alckmin é mais fácil a vitória de Lula na primeira volta?

Se sim, vale a pena, uma vitória no primeiro turno é incontestável.

Porém, se formos ao segundo turno e vencermos, não tenham dúvidas, haverá um terceiro turno e esse pode ser traumático; capitólico, diria.

Exageram os que temem uma trama alckiminsta? Não, faz todo sentido crer que o narigudo possa ser um cavalo de tróia.

Mas é a ocasião que faz o ladrão; lembrem-se que Temer passou todo o primeiro mandato de Dilma preocupado em afugentar os fantasmas que o assombravam no Palácio do Jaburu. 

Só virou ele mesmo uma assombração já no segundo mandato; porque foi levado pelas forças ocultas do poder, com Supremo e com tudo.

"A solução mais fácil era botar o Michel... num grande acordo nacional...", lembram?

Não foi Michel quem se mexeu, foi a República que o moveu ao remover a Dilma. 

"ah, mas e se ocorrer uma desgraça natural, uma vez que o Barba já não é nenhum moço?"

Bem, desculpem-me os admiradores de Schopenhauer, mas sou um otimista.

Luís Inácio tá malhando, engrossou as coxas e anda a dizer que a ciência confirma que já nasceu o homem que vai viver 120 anos.

Sim, nenhum cientista disse que esse longevo sortudo nasceu no dia 27 de outubro de 1945, em Garanhuns; portanto, pode não ser que seja Lula.

Mas como não estamos elegendo um faraó, ele viverá o tempo suficiente para governar e melhorar a vida dos brasileiros.

"Mas e se não viver?", perguntam os necrófilos.

Bem, aí já é contar com o ovo na cloaca da galinha.

Lula vive! 

E o Sapo Barbudo tá com a faca e o queijo na mão, é hábil o suficiente para vigiar os passos do seu vice; é acordar cedo e nadar na piscina do Alvorada, comer granola e açaí, caminhar com as emas, namorar o pôr do sol com a Janja e governar com um olho na carne e o outro no gato.

No mais, se Lula disser que irá de Alckmin a alquimia estará feita.

Só restará a seus críticos votarem em outro candidato, ou terão que engolir um foie gras de chuchu.

Goela abaixo.

Palavra da salvação.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum