panglossismos

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não é preciso exercícios pernósticos de semiologia para perceber que os nossos heróis de araque aí de cima estão a bufar. pose para as câmeras. veja esse sujeito regando uma planta na chuva. não se parece com essa encenação tosca que estamos a ver na imprensa nos últimos dias? com mil diabos. o ministro da justiça – faca nos dentes e facão na mão – investe, quixotescamente, contra uma plantação de maconha, enquanto seus camaradas o observam de braços cruzados. joão doria se travestiu de gari - não sem antes pedir ao seu alfaiate para ajustar o modelito ao seu biotipo -, chamou uns fotógrafos da mídia-amiga e varreu meio metro de calçada que já estava devidamente varrida. toda essa mise-en-scène é parte da agenda de desinformação da turma da alfafa. o que querem dizer com isso é que “tudo está para o melhor no melhor dos mundos”, como ensinou o dr. pangloss. pangloss, personagem que voltaire construiu para destruir o otimismo infantil de leibiniz, parece ser o grande mentor dessa gente. o presidente vai anunciar cortes profundos nos direitos dos trabalhadores, o que vai pesar diretamente na mesa do cidadão. aí ele pensa: e por que não fazer isso durante um banquete? e pimba, contrata um catering para distribuir salmões e camarões para os convivas brancos, machos e endinheirados. afinal, está tudo maravilhosamente indo bem no melhor dos mundos. há rebeliões nas penitenciárias, ouvimos gritos vindos do norte. não se preocupem – tranquiliza o careca capinador de maconha – , está tudo sob controle. mas, ministro, arrancaram cabeças, e o senhor havia recebido um pedido de ajuda antes da cobra fumar. olha, rapaz, você tem razão, diz o ministro. é que eu não me esqueci de esquecer que tinham me avisado. agora o senhor me dá licença que tenho que ir a um coquetel. o país está em crise econômica, o que fazer? vendam o petróleo para os estrangeiros, mitiga parente. e olha, a preço de água mineral, ouviu? já são 12 milhões de desempregados, o pib cai e a economia anda em marcha à ré... enquanto isso, a senhora cunegundes resolve redecorar o palácio e depois relaxa na banheira, com sais. como se vê, tudo está para o melhor no melhor dos mundos. a popularidade do presidente tá ridiculamente baixa? não se preocupem com isso, disse o neoguru nizan guanaes, veja o lado bom da coisa. a impopularidade é o combustível que move os homens públicos a tomarem medidas impopulares. sentenciou o dono da áfrica, confirmando a assertiva do idiossincrático pangloss. afinal, não há efeito sem causa. sejamos práticos, os caras arrancaram dilma do poder pelos cabelos, meteram o pé na porta e caíram pra dentro. como retaguarda, há um exército de midiotas que os protege nas redes. são os chamados zero à direita, como nos ensinava o poeta italiano trilussa. um zero à esquerda, dizia trilussa, de nada vale. mas se você perfila esse mesmo zero ao lado direito de um número um, os dois já valem 10. dois zeros à direita, e o mísero 1 se converte em 100, daí para mil, um milhão, depende somente da quantidade de zeros à direita. assim, a mídia vai manipulando os fantoches ajumentados, construindo candidatos artificiais e engrossando o cordão dos porraloucas. orientam quando devem e quando não devem bater panelas, quando devem e quando não devem ir às ruas, etc. e para dar legitimidade ao ilegítimo, criam factoides. com dilma os jornais só falavam em crise. agora não falam mais. afinal, tudo está para o melhor no melhor dos mundos. a aposentadoria tardia vai pesar muito nas costas de cortadores de cana, pedreiros e estivadores? bobagem, diz a revista, mirem-se no exemplo de mick jagger. sorria e rebole enquanto trabalha e você fará isso até os 73anos, no mínimo, e de boa. o otimismo delirante que vemos em manchetes de jornais e no sorriso insensível dos golpistas é apenas mais um produto da indústria do simulacro e da simulação do qual nos fala baudrillard. eu, nutrido pelo pessimismo consciente de nietzsche e schopenhauer, faço um lembrete aos golpistas: deu ruim pro cândido, viu. e oh, quando cacambo, seu infeliz criado, pede que seu senhor lhe explique que fuleiragem é essa filosofia otimista panglossiana, cândido, já desiludido de mentir para si mesmo, retifica, candidamente: “é a mania de sustentar que tudo vai bem quando tudo vai muito mal.” por isso, precisamos cultivar o nosso jardim. palavra da salvação.