Adoção e mais dois presentes

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Apesar de o Dia dos Pais ser uma data comercial, os amigos se emocionam no twitter. Quem já perdeu o pai, faz a homenagem com a saudade ocupando o peito. Emocionei-me com todos eles. Saudade é uma dor profunda.

Desde fevereiro tenho um texto para concluir e não consigo. Comecei a escrevê-lo no hospital quando meu pai estava na UTI, sem saber quem éramos e onde ele estava. Ver meu pai hoje se recuperando, mesmo muito magro (ele perdeu uns quinze quilos) e sem fazer algumas coisas que tanto gostava (como andar o bairro todo de bicicleta) é um presente.

Este ano ganhei dois presentes, meu pai ter sobrevivido sem sequelas muito grandes a um traumatismo craniano que afetou 3 camadas de meninge e minha mãe estar se recuperando. Foram muitos dias ininterruptos de hospital. Eu ando com um cansaço físico e na alma, por ver tanto sofrimento nos três hospitais em que permaneci algumas semanas.

Por isso, hoje, e todos os dias eu agradeço o fato de ainda poder conviver com os meus pais.

mundo mundo2

Há algum tempo para o meu pai que me escolheu como filha, eu fiz este poema de agradecimento:

ADOÇÃO A mãe se achava perdida, abandonada. Corria atrás de um suposto pai. Descobriu, depois, que perdida não era, nem abandonada estava: conheceu Carlos que lhe deu nome à filha. Ele fez casinha de boneca (com armário e cômoda). Lixou madeiras para os trabalhos escolares. Enxugou lágrima, passou merthiolate. Tirou satisfação com a vizinhança. Olhou de mansinho, fez carinho, deu broncas.

Meu pai nasceu assim: meu presente aos quatro anos, adotado com o avô, que se foi há tempos. ************* Originalmente publicado em OLIVEIRA, Maria da Conceição C. Paratodos- História. São Paulo: Scipione, 2004, vol 3, p. 16.