Aos preconceituosos que não sabem fazer conta

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É compreensível que a elite reacionária dos grandes centros urbanos seja analfabeta política, seus preconceitos cegam, impedem que vejam como este país mudou para melhor nos últimos oito anos. Seus medos de perder seculares privilégios fazem com que esta elite lute contra toda e qualquer política pública de inclusão e se encastele em seus ódios.

Infelizmente esta elite existe com diferentes colorações, inclusive no Nordeste (lá se manifesta de outras formas). Mas em alguns estados, especialmente, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, ela parece ser ainda mais perniciosa.

A de São Paulo é, com raríssimas exceções dentro da elite ilustrada, uma das mais perniciosas porque, muitas vezes, seu discurso atinge a classe média baixa, incluindo aí muitos filhos de nordestinos que se desvincularam de suas raízes e incorporaram o discurso xenofóbico.

São Paulo tem jovens de classe média que têm a ousadia de fazer um manifesto xenófobo que pede a expulsão dos nordestinos do estado: o preconceituoso manifesto São Paulo para os paulistas.

Nestas eleições e em outras, esse ranço paulista pôde ser visto em diferentes ocasiões e de diferentes maneiras na boca de políticos tucanos ou de seus aliados. Os políticos paulistanos, especialmente os de direita, são arrivistas, provincianos, voltados para si. Imagine uma cidade* que não tem nenhuma avenida, nenhuma rua com o nome de Getúlio Vargas, esta é a cidade de São Paulo, capital do estado (segundo informações do jornalista Altamiro Borges).

Mas São Paulo tem também um grande número de pessoas que, além de morrerem de vergonha alheia destes adeptos do nosso Bush Tupiniquim, reagem bravamente contra os preconceitos. Por isso, queridos nordestinos de todos os estados da maravilhosa região Nordeste do país, saibam que nós amamos vocês; amamos a beleza de cada um dos estados do Nordeste; admiraramos a força dos baianos, pernambucanos, paraibanos, piauienses, sergipanos, maranhenses, alagoanos, potiguares, cearenses. Sabemos que o Brasil é rico e belo com a força de todas as suas regiões e continuaremos a mostrar ao mundo que nossa maior riqueza é a diversidade. Contem conosco na luta contra esta xenofobia ridícula e sem noção.

Contudo, gostariam que vissem como além de preconceituosos esta minoria que não nos representa são também deficitárias de educação matemática. Parece que o ensino formal não anda em risco apenas nas escolas estaduais governadas pela péssima administração tucana, a educação matemática anda muito ruim também nas escolas de elite. Só isso explica a reação no twitter dos reacionários preconceituosos imputando aos nordestinos 'a culpa' da vitória de Dilma Rousseff.

As demonstrações xenofóbicas dos reacionários contra os nordestinos estampadas no twitter, cuja denúncia e repúdio podem ser vistos em muitos posts da blogosfera como aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui, mostram que além de analfabetos políticos os preconceituosos também não sabem fazer contas, não é mesmo?

Então, para vocês preconceituosos (de um Brasil que é bem maior que vocês) mando com carinho este post aqui. Ofereço também a trilha sonora dos derrotados, enjoy!

E, finalmente, energúmenos, arrivistas, preconceituosos,  reproduzo duas matérias que mostram que sem os votos das regiões Nordeste e Norte, mesmo assim, Dilma Rousseff venceria. #Ficaadica para que vocês da próxima vez escolham um verdadeiro argumento para a derrota de vocês e não mostrem que o grande problema dos preconceituosos é a péssima educação matemática que tiveram :P

PS. Cuidado! Ao expressar o preconceito da forma virulenta como vocês fazem na rede, vocês podem ser processados e presos. Expressar o ódio regional como fizeram é crime. Vocês podem ser denunciados aqui.

Lembrem-se: o Brasil grande, bonito, rico em diversidade e vitorioso não permitirá que o Brasil feio, pequeno, minúsculo, preconceituoso e excludente de vocês vençam.

*ATUALIZAÇÃO: No texto inicial me referia ao estado de São Paulo e fui corrigida pelo leitor Marcos Alves que me informa que algumas cidades do estado de SP têm referências a Getúlio Vargas, também a leitora Gláucia, via e-mail, informa-me que na cidade de Franca, a capital do calçado, uma das principais avenidas chama-se Presidente Getúlio Vargas. Muito possivelmente Miro tenha se referido à cidade e eu tenha entendido estado. Se alguém souber da tese a que ele faz referência, gostaria de conhecer.

Dilma se elegeria sem contar com Norte e Nordeste

Por: Eliano Jorge, no Terra Magazine

01/11/2010

Pessoas descontentes com a eleição da petista Dilma Rousseff atribuíram aos eleitores da região Nordeste peso decisivo no resultado do segundo turno, neste domingo (31). Porém, os nordestinos apenas aumentaram a vantagem que a futura presidente obteve no resto do País. Considerando apenas Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, ela somou 1.873.507 votos a mais do que o tucano José Serra.

E, antes que novos discursos discriminatórios - canalizados contra o Nordeste na internet - se direcionem a outro alvo fácil, o Norte, vale destacar que Dilma também ganharia a eleição sem o saldo positivo de 1.033.802 votos com que os nortistas lhe agraciaram.

O Sudeste, idealizado pelos críticos de nordestinos e nortistas como bastião do PSDB, deu à petista 1.630.614 eleitores a mais do que seu adversário. Esta quantidade supera em 839.695 votos a soma das vantagens que Serra teve no Sul, 656.485, e no Centro-Oeste, 134.434.

Embora o candidato tucano tenha acumulado 1.846.036 votos a mais do que Dilma em São Paulo, ele perdeu no segundo e no terceiro maiores colégios eleitorais do País, Minas Gerais e Rio de Janeiro, respectivamente com saldo negativo de 1.797.831 e 1.710.186.

Mesmo sem o Nordeste, Dilma venceria Serra

Por: Cristian Klein, no Valor Online, via blog do Marcelo

01/11/2010

SÃO PAULO - Depois de uma das campanhas mais acirradas à Presidência da República, a petista e ex-ministra chefe da Casa Civil, Dilma Vana Rousseff, 62 anos, se consagrou ontem como a primeira mulher a governar o Brasil. Com 99,94% das seções apuradas, Dilma Rousseff amealhava 55.724.713 de votos (56,05% do total de votos válidos) contra 43.699.232 (43,95%) de José Serra (PSDB), 68 anos.

Oito anos após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro operário, os eleitores brasileiros deram a Dilma Rousseff uma vitória que a põe em restrito grupo. Apenas 7% dos chefes de Estado no mundo são mulheres.

A diferença da petista para o tucano foi de pouco mais de 12 milhões de votos. Essa vantagem ocorreu graças à enorme votação de Dilma no Nordeste, onde ganhou 10.717.434 de votos a mais do que Serra. Logo, mesmo se o Nordeste – maior reduto eleitoral do PT – fosse excluído dos cálculos, a candidata governista venceria a eleição por um saldo de 1,3 milhão de votos, ou 0,9 ponto percentual (50,9% a 49,1%).

Até o fechamento desta edição, Dilma alcançava uma votação 9,14 pontos percentuais superior à que obteve no primeiro turno. E Serra, 11,34 pontos acima. Isso indica que o espólio de 19.636.359 de votos (19,33%) de Marina Silva (PV), terceira colocada na primeira etapa, migrou mais para o candidato tucano. A abstenção, de 21,39%, foi maior que no primeiro turno (18,12%). Mas os votos nulo e em branco, que foram respectivamente de 5,51% e 3,13%, caíram para 4,40% e 2,31%.

A geografia eleitoral do segundo turno mostra que José Serra avançou em três territórios que foram dominados por Dilma Rousseff. A petista, que na primeira rodada vencera em 18 Estados, levou a melhor em 16. O tucano, que tivera vitórias em oito, superou a adversária em 11: além dos Estados vencidos no primeiro turno – Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul , Acre, Rondônia e Roraima -, Serra conquistou mais três: Espírito Santo, Goiás e Rio Grande do Sul. O Distrito Federal, única unidade da Federação vencida por Marina Silva, foi conquistada desta vez por Dilma Rousseff. Em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, onde Serra vencera Dilma por 40,66% a 37,31% – tendo Marina alcançado 20,77% – o tucano ganhou de 54,1% a 45,9% e conseguiu uma vantagem de 1,8 milhão de votos sobre a adversária.

No Paraná e em Santa Catarina, Serra obteve cerca de 1,1 milhão de votos a mais que Dilma. Nestes três Estados o tucano extraiu uma boa margem absoluta, totalizando vantagem de quase 3 milhões de votos. Nos outros oito, Serra ganhou, mas ou a diferença foi pequena – como no Rio Grande do Sul, onde o placar de 51% a 49% significou pouco mais de 100 mil votos de vantagem – ou o colégio eleitoral era pequeno. Nos demais sete Estados vencidos, Serra pôs sobre Dilma uma diferença de apenas cerca de 330 mil votos.

Dilma Rousseff recuperou essa desvantagem de quase 3,5 milhões de votos nos 11 Estados perdidos e ainda pôs a diferença de 12 milhões de votos do resultado final ao obter votações maciças no Nordeste, no Amazonas, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

Em Minas Gerais, onde Dilma já vencera por uma margem folgada (46,98% a 30,76%), o empenho do ex-governador e senador eleito Aécio Neves (PSDB) no segundo turno não foi suficiente para evitar uma derrota. Até o fechamento, a petista marcava 58,4% contra 41,6% de Serra.

No Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral, o tucano, com 22,53%, ficara em terceiro no primeiro turno, atrás dos 31,52% de Marina Silva. Subiu 17 pontos percentuais, para 39,5%, enquanto Dilma avançou praticamente o mesmo, 16,74 pontos. Antes fizera 43,76%, ontem marcou 60,5%.

Só com o resultado do Rio e de Minas, Dilma praticamente compensou a desvantagem nos 11 Estados perdidos para Serra. O lucro veio do Amazonas e do Nordeste, onde a petista alcançou votações arrasadoras, justamente nos maiores colégios eleitorais. No Maranhão, Dilma teve seu maior percentual da região (79,09%), seguido por Ceará (77,35%), Pernambuco (75,65%) e Bahia (70,85%). Nestes quatro Estados, Dilma pôs uma vantagem de 9 milhões de votos sobre o adversário. O Estado onde a futura presidente alcançou o seu melhor desempenho percentual foi o Amazonas, com 80,57% (o que significou 865 mil votos a mais que Serra). O melhor desempenho do tucano foi no Acre, com 69,69%.

Dilma Rousseff teve uma votação inferior a de seu padrinho, o presidente Lula, nos segundos turnos de 2002 e 2006. A petista conseguiu o terceiro melhor desempenho de um presidenciável nesta rodada de votação, desde 1989. Sua performance contra Serra foi pouco superior ao de Collor (53,03%) contra Lula (46,97%), há 21 anos, que permance como a eleição mais apertada desde a redemocratização.

Desta vez, os institutos de pesquisa erraram menos que na primeira etapa, quando não captaram com precisão o crescimento de Marina Silva. Ibope e Datafolha, respectivamente, apontaram Dilma Rousseff com 51% e 50%. Mas a votação da petista, fora da margem de erro, foi de 46,91%. No sábado, o levantamento do Ibope apontou uma vantagem de 12 pontos da petista (56% a 44%), enquanto o Datafolha, feito na sexta-feira e no sábado, estimou em 10 pontos (55% a 45%) a diferença para o tucano. O resultado ficou mais próximo do previsto pelo Ibope.

Era esperada uma alta abstenção, devido ao feriado de Finados e ao término antecipado das corridas estaduais. Apenas 14% do eleitorado nacional, em nove Estados, precisaram voltar às urnas para definir o governador, o que contribuiu para uma menor mobilização no segundo turno. O percentual de eleitores que deixaram de votar foi de 21,39%, entre os 135.804.433 que estavam aptos. A abstenção no primeiro turno, como de costume, foi mais baixa, 18,12%. Em relação aos últimos segundos turnos, a ausência foi maior. Em 2006, foi de 18,99%, e, em 2002, de 20,47%.

Desconhecida da maior parte da população – nunca havia se candidatado a um cargo eletivo -Dilma Rousseff apareceu nas pesquisas durante muito tempo atrás de José Serra. Mas foi impulsionada pelo apoio do padrinho e fiador político. Lula conseguiu transferir para a candidata parte de sua enorme popularidade, a maior já registrada por um presidente da República.

José Serra vê frustrada pela segunda vez sua tentativa de ser presidente da República. O tucano teve diante da adversária um desempenho melhor do que o obtido contra Lula. No segundo turno de 2002, Serra fez 38,73%, contra 61,27% do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.