Aula 1 para midiotas: a cobertura sobre propinas no Metrô e na Petrobras

Escrito en BLOGS el

Arnaldo Ferreira Marques*, em seu Facebook

Vamos ver se eu entendi.

1. A grande imprensa (basicamente a Folha de SP) revela uma enorme rede de propinas e desvio de dinheiro no sistema de transporte metropolitano da Grande São Paulo - Metrô e trens da CPTM.

O esquema paulista envolve basicamente empresas europeias e autoridades do governo estadual. Governo há 20 anos nas mãos de 3 políticos do PSDB que vêm sistematicamente concorrendo à presidência da República: Covas, Serra e Alckmin.

Do PSDB paulista saiu o único tucano eleito para a presidência: Fernando Henrique Cardoso.

Portanto, com todo o respeito aos irmãos piauienses, não é o PSDB de Teresina. Trata-se da unidade do partido de maior relevância nacional.

Mais: na chefia do sistema de transporte da Grande SP, ao que consta, nunca houve políticos de partidos aliados ao PSDB. Foram gestões "puro sangue", como os tucanos gostam de chamar, não sem arrogância equestre.

Apesar de tudo isso, não li UMA ÚNICA LINHA na mídia dizendo que o Metrô paulista ou a CPTM estavam às portas da falência (apesar do Metrô ser deficitário desde o início), tampouco exigindo o impeachment do governador. Não houve nem prisões neste caso, aliás. . . 2. As atuais denúncias envolvendo a Petrobras repetem denúncias idênticas veiculadas pela imprensa nas décadas de 1980 e 1990. Durante governos do PMDB e do PSDB. O PT governa há 12 anos, apenas.

Por outro lado, o PT concedeu cargos na Petrobras a membros de partidos aliados, como é praxe (legal e aberta) do presidencialismo de coalizão implantado pela Constituição de 1988.

Se a presidência da Petrobras sempre esteve nas mãos petistas, o mesmo não se pode dizer de diretorias e afins.

Tanto que o PMDB (de novo ele) está sendo citado insistentemente nas atuais investigações.

O fato é que a Petrobras, se sempre sangrada por esquemas políticos (e possivelmente também não políticos), também sempre deu lucro.

Na verdade, a Petrobras nunca cresceu tanto, no período democrático, quanto com Lula e Dilma. Cresceu a produção de óleo e gás, a capacidade de refino, a frota de petroleiros e o achamento de novas jazidas - entre as maiores do mundo.

As dificuldades atuais (além do escândalo, claro) têm a ver com o valor das ações, que são ativos voláteis e especulativos por natureza, como qualquer investidor bem sabe.

Não havendo possibilidade de assumir o controle da empresa por meio da compra de ações (como não há), resta ao mercado lucrar ou perder com o sobe e desce dos papéis, e pouco mais do que isso.

Falar em falência de uma empresa que detêm, por lei, 30% das gigantescas jazidas do Pré-Sal é uma piada de mau gosto. Isso sem contar o parque de refino, distribuição etc., sistema altamente eficiente e lucrativo.

Por outro lado, propor o impeachment da presidenta sem que haja qualquer indício de participação da mesma nos esquemas da petroleira, uma irresponsabilidade que aponta diretamente ao golpismo sem qualquer legitimidade.

Metrô, CPTM e Petrobras são evidências claríssimas de como vêm agindo as forças políticas que disputam o poder hoje no Brasil.

Um dos lados, claramente, querendo ganhar no grito - já que não consegue ganhar no voto e no Direito.

Alguém está muito enganado de achar que estamos em 1964.

Espero que não paguem para ver.

*Arnaldo Ferreira Marques é historiador