Azenha e a série Infância Roubada no Amapá: Poder, pedofilia, impunidade e nós o que faremos?

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Azenha é um dos grandes jornalistas que se salvam na mesmice do lixo televisivo e da imprensa venal do monopólio midiático brasileiro.

Ele não brinca em serviço, uma pauta não é espaço de chantagem barata, ou busca desenfreada de audiência:  uma pauta para Luiz Carlos Azenha é algo que precisa ser contado, conhecido,  pensado e se problema resolvido, se solução compartilhada.

Há cerca de uma semana ele apresentou uma série destas soco no estômago: no segundo episódio entrevistou um ex-presidente do Tribunal de Contas (que como Carlinhos Cachoeira foi investigado por uma mega operação da polícia federal cheia de gravações, grampos, provas) acusado também por pedofilia e o sujeito continua com a sua vaga reservada no estacionamento do Tribunal de Contas, seus carros de luxo em garagem climatizada e seu processo de crime de pedofilia arquivado!

Azenha descobriu no Amapá uma rede de pedófilos, conversou com mães que tiveram de entrar para o programa de proteção à testemunha e tiveram seus filhos violentados por estes animais protegidos pela Justiça (porque há juízes envolvidos) e esses animais continuam soltos e as crianças vítimas de abuso sexual completamente destruídas: esquizofrênicas, dependentes químicos etc.

Conversou com mães que estão sendo processadas por uma Justiça machista e medieval que criminaliza as vítimas: uma das mães que teve sua filha menor estuprada e que a levou para fazer um aborto está sendo processada, enquanto o pedófilo estuprador esta solto!

Vejo meu amigo pedindo socorro ao seu modo:

Conceição Oliveira, faço através de vc uma pergunta às mulheres: será que tem saída? Depois de ver o que vi no Amapá -- diga-se, em relação a uma minoria de poderosos, não a todos os amapaenses -- e de ver a reação tíbia de homens, inclusive de esquerda, será que vcs mulheres podem contar com os homens para combater a misoginia, a pedofilia, o abuso sexual, o assédio? Será que não é preciso radicalizar? Talvez a pergunta expresse apenas minha frustração com as injustiças que testemunhei num microcosmo, mas que são comuns em todo o Brasil. E os nossos políticos, isso vi de perto, fazem cara de pastel, como se não fosse com eles...

Numa outra postagem em seu facebook, Azenha volta ao tema:

As "bruxas" do século 21

Existe um paralelo entre a onda de estupros na Índia e a violência contra as mulheres que testemunhei no Amapá mas que existe em todo o Brasil.

As sociedades na era da informação mudam muito rapidamente e os homens não se conformam com a quebra de hierarquia representada pela visibilidade política das mulheres, gays, etc. E tome o pastor Feliciano para dar um sentido político e religioso à reação, construindo artificialmente um discurso de nós contra eles em que ELES são demonizados e satanizados, como se colocassem em risco a existência do mundo.

O discurso milenarista funciona porque mobiliza as pessoas como se a própria sobrevivência delas estivesse em jogo, quando o que se tenta perpetuar é uma sociedade hierarquizada, excludente, antidemocrática e intolerante à diversidade. No Amapá encontrei alguns gaiatos supostamente bem informados -- homens, naturalmente -- dizendo que as mulheres do Norte do Brasil são sexualmente precoces e que isso está na origem da violência e dos abusos que elas sofrem. Foi preciso uma delegada de polícia para colocar ordem na casa: "Ah, gente, parem de tentar culpar a vítima. É o machismo que dá a vocês a crença de que são donos das mulheres". Boa!

PS: A direita vai dizer que a culpa é do Lula, que deu o cartão do Bolsa Família na mão das mulheres!

Dá pra ver todos os capítulos desta reportagem doloridíssima aqui.

No último episódio da série sobre a infância roubada de nossas crianças no Amapá, o que mais me chocou foi a mãe que abandonou suas filhas pra ficar com o companheiro estuprador e a tia que ao saber que seu marido abusa dos sobrinhos que ela cuida diz não querer se envolver. Espero que estas vítimas encontrem em nós mais solidariedade e envolvimento na cobrança de atitude por parte das autoridades que destas duas mulheres que perderem a referência do que é ser adulto nestas circunstâncias.

No Facebook, Azenha confessa: 

Essa doeu fazer, Conceição Oliveira. Todas as ações públicas para enfrentar o problema são tíbias e a Justiça medieval ainda considera que as crianças devem ter os filhos dos estupradores, mesmo que for para doar depois. Triplo trauma contra as mulheres." 

Sei o quanto doeu, conheço Luiz Carlos Azenha cujos olhos já viram Serra Leoa e que em todos os lugares que passa nunca deixa de registrar o poderoso sorriso das crianças que nesta terra desgraçada está sendo roubado por bandidos da pior espécie.

Conte comigo pra tudo,  amigo,  ficarei rouca e com tendinite, mas vou continuar a atormentar a vida das autoridades deste país ao menos pra atrapalhar o sono deles e espero que nossos amigos e inimigos da rede que são diferentes desta corja e que ainda não mataram a alma também se juntem a nós nesta cruzada por Justiça e pela proteção de nossas crianças.

Apelo às feministas e aos homens de bem que façamos  algo de concreto contra toda a barbárie que Azenha revelou no Amapá.

O que faremos?