"Cada sociedade tem a policia que quer ter, a polícia que paga para ter".

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Em 18 dias, 191 mortos a tiros na grande São Paulo. Neste ano, 90 PMs executados. Todos, supostamente, por ordens do PCC. Em 2006 se deu o primeiro grande ataque. Geraldo Alckmin havia deixado o governo para concorrer à presidência. Entre 12 e 21 de maio foram executados 41 policiais.

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As policias reagiram. Segundo o desembargador Magalhães Coelho, que citou pesquisas independentes, 564 pessoas foram mortas a tiros naqueles 10 dias. Ainda de acordo com o desembargador Magalhães, a PM admitiu ter matado 108 pessoas em 8 dias.

Somados esses dois surtos, o de 2006 e o de agora, os policais executados são 136. E o total de mortos passa dos 700. Em 2006 o morticínio só não foi maior porque Claudio Lembo, o vice- governador que havia assumido no lugar de Alckimin, se recusou a atender a pedidos do "olho por olho, dente por dente". Recusou, inclusive, porque nessas horas ninguém sabe quem é olho e quem é dente.

Em 2006 entrevistei o governador Lembo. Ele disse que não atenderia aos pedidos de promover um novo Carandiru. Contou que havia recebido telefonemas de uma "minoria hipócrita" com reclamos para tanto. Segundo palavras de Lembo, setores "cínicos e perversos da burguesia" queriam uma reação sem limites.

O então presidente do PFL, Jorge Bornhausen, chegou a insinuar uma vinculação entre o PT e os ataques do PCC; o PFL havia indicado o vice de Alckimin e Bornhausen opinou: "O PT pode estar manuseando, manipulando essas ações".

Se passaram 6 anos. Durante boa parte deste 2012, governo e secretaria de segurança negavam fatos. Até que a quantidade de cadáveres nas ruas impôs as óbvias digitais do PCC e das respostas.

Não há mágica nem solução fácil para um tumor como esse. Essa não é uma questão partidária num país com média de 40 mil homicídios/ano. Mas não há como eximir de responsabilidades quem está no poder.

Quando governador, Mario Covas tentou instituir uma taxa, coisa de R$ 2 reais ao ano, para reequipar a policia. A proposta foi rechaçada, como se fosse escandalosa. Covas se viu obrigado a desistir. Então, um especialista alemão, opinou: "Cada sociedade tem a policia que quer ter, a polícia que paga para ter".

Seis anos depois de se recusar a conduzir um massacre, Claudio Lembo volta ao tema. Em artigo na Terra Magazine, nesta segunda-feira, o ex-governador, alerta: "Em 2006, passados o susto e o medo, a sociedade e suas instituições se reuniram: forças armadas, polícias, MP, judiciário e entidades de classe buscaram soluções".

Diz ainda Lembo: hoje, agora, a sociedade e seus representantes assistem ao morticínio em silêncio, em estado de passividade social. "Isso é grave", conclui o ex-governador que viveu o primeiro grande ataque do PCC.

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