Corinthians: Como na piada de Groucho Marx, não queria um clube que só aceita gente como eu

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Subo o comentário do Victor Farinelli aos corinthianos que sabem bem o que ele diz e aos não corinthianos para nos entender melhor.

Por Vitor Farinelli, nos comentários do Maria Frô

Desde quarta feira eu digo que não me doeu nada a desclassificação da Libertadores, e que, embora eu não a esperava, a considerava totalmente normal. Meus amigos tiram onda achando que eu estou fingindo, mas não, é a mais pura verdade.

Já não dói ver o Corinthians perder quando você vê que o Corinthians não é mais o Corinthians. Eu me apaixonei pelo Corinthians porque é o único clube do Brasil onde você pode ser o que você quiser, e ainda ser corinthiano.

Prá ser santista você tem que ser nascido em Santos, ou o pessoal te olha feio na Vila. Se é palmeirense e não é descendente de italianos, acontece o mesmo. Se é sãopaulino e não é almofadinha, elitista e arrogante, idem. Eu nasci em Santos, sou descendente de italianos e tenho cara de almofadinha, e fui na piada do Groucho Marx, não queria um clube que só aceitasse gente como eu.

O Corinthians era um clube que eu pensava que deveriam ser todos os clubes. Mas só o Corinthians é assim, plural, um clube do povo. Ou pelo menos o Corinthians que eu conheci era assim. Qualquer um podia ser corinthiano, desde que amasse o clube com todas as forças - o que não era prá qualquer um, mas era um filtro muito mais razoável.

O Corinthians que eu conheci nunca impressionou pelas belas jogadsas em campo, e sim pela força da arquibancada que fazia times medianos jogarem como gigantes. Neto, um dos protagonistas das discussões medíocres de agora, era o capitão de um time sofrível, que foi campeão brasileiro em 1990 porque uma gigantesca e fanática torcida empurrou aqueles jogadores a uma façanha histórica. A arquibancada corinthiana sempre esteve lotada de pretos, pobres e miseráveis, aquela parcela da sociedade que, sobretudo em São Paulo, nunca teve direito a nada, mas que tinha sua revanche quando se juntava no estádio (muitos passavam fome prá ir ver o Timão jogar) e fazia o Corinthians, mesmo com jogadores de nível inferior, vencer os rivais e suas torcidas elitistas.

Hoje, o Corinthians é um clube prá quem pode. As entradas prá qualquer jogo do Corinthians são caríssimas, mesmo em jogos contra adversários menores. O Corinthians já não é o clube que leva o povão prás arquibancas. Você vai no tobogã do Pacaembú e já não vê aquela gente que se sacrificou prá poder ir ver o jogo, e que eram os que faziam a diferença a nosso favor nos estádios. Nenhum sacríficio é capaz de juntar R$ 50 por jogo, fora o preço do cada vez mais caro transporte público.

Durante esse tempo em que descaraterizaram o Corinthians, e tiraram dele o povo que era seu principal patrimônio, o clube ganhou muitos títulos, muitos dos quais eu comemorei bastante, mas juro que trocaria metade desses títulos pelo prazer de trazer o povão de volta e resgatar aquele Corinthians de antigamente. Sei que meus amigos vão achar isso ridículo, mas é que eles podem entender muito de futebol, mas não entendem nada de Corinthians.

E quem é corinthiano sabe que o Corinthians é muito maior que o futebol.