Corregedor da Câmara agora é acusado de maltratar presos políticos em 1970

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Edmar Moreira, o tenente do óculos Ray-ban

  • Corregedor da Câmara agora é acusado de maltratar presos políticos em 1970

  • Relato de um preso: “[Edmar] soltou os cachorros, literalmente, nos pátios, mandou tocar as sirenes e ligar os holofotes, passou a noite inteira com a tropa dando tiros para o ar”.

Ele não chega ser um guarda de Abu Ghraib, que torturava presos no Iraque. Mas Edmar Moreira hoje teve uma nova acusação jogada contra suas costas. Em 1970, ainda tenente da Polícia Militar de Minas Gerais, o jovem Edmar costumava tratar com terror os cerca de 300 presos políticos na penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora. Quando ficava irritado, soltava os cachorros do quartel pelos pátios e dava tiros para ar. Tudo segundo relato de um dos presos daquela época.

Irritado porque os presos políticos se recusaram a ficar de pé para dizer os seus nomes na rotina diária de identificação, o tenente Edmar, com os indefectíveis óculos Ray-ban que usava, “soltou os cachorros, literalmente, nos pátios, mandou tocar as sirenes e ligar os holofotes, passou a noite inteira com a tropa dando tiros para o ar”. Esse relato foi reproduzido pelo jornalista Laerte Braga, mineiro, ex-preso político, que coletou os dados de um outro ex-preso político que estava na penitenciária por onde dava plantão o tenente Edmar em 1970.

O castelo, vista externa

Toda vez que Edmar Moreira era escalado para fazer as conferências de presos ao final do dia, a rotina se repetia. “Isso aconteceu uma, duas, três vezes, ou quatro vezes, até que a notícia vazou da vizinhança da penitenciária para a cidade –estão fuzilando os presos políticos de Linhares– o comando da 4ª Região Militar resolveu afastar do serviço o tal tenente de óculos Ray-ban”, relata Laerte Braga em seu texto, enviado para uma lista de e-mails.

O relato já vazou para vários blogs mineiros e alguns de abrangência nacional, como o “Amigos do Presidente Lula”.

Este blog entrou em contato com a assessoria do deputado Edmar Moreira (DEM-MG) para ouvir algum comentário do deputado. Não houve resposta, pois o corregedor está em viagem e não deixou o telefone do local para sua assessoria.

Abaixo, a íntegra do texto do jornalista Laerte Braga, tal qual postado em um e-mail (o blog entrou em contato com Laerte e ele reafirmou, por telefone, o inteiro teor do texto):

O corregedor da câmara dos deputados – O HOMEM DO CASTELO

Laerte Braga

Os principais sites, jornais e noticiários desta quinta-feira deram destaque às críticas feitas dentro do próprio DEM – DEMOCRATAS – pela indicação do deputado edmar moreira para o exercício da função de corregedor da Câmara dos Deputados. Corregedor é uma espécie de fiscal dos bons costumes, do decoro parlamentar e do exercício digno do mandato. Procedem as críticas.

O noticiário ateve-se ao castelo de propriedade do deputado, segundo ele em nome dos filhos, na cidade de São João Nepomuceno, próxima de Juiz de Fora. Não está declarado nos bens do deputado. Consta que edmar é proprietário ali de um terreno num valor ínfimo em relação ao castelo. Esse negócio de castelo é mania de novo rico aparecer. Pendurar pneu no pescoço.

Vamos a um relato sobre o corregedor.

“Primeiros meses de 1970. A penitenciária de Linhas em Juiz de Fora lotada de presos políticos, uns trezentos homens e mulheres de todas as idades e profissões. Todos já com inquéritos concluídos e aguardando julgamento pela Auditoria da Quarta Circunscrição Militar. Poucos com sentença já definida – os guerrilheiros do grupo de Caparão e sargentos rebeldes de Brasília –.

Todas as manhãs passava pelas galerias um oficial da Polícia Militar, quase sempre um tenente. Fazia o confere, ou seja, verificar se os presos estavam em suas celas e se havia alguma anormalidade. Olhava o número da cela, verificava se o preso estava lá e pronto.

Certo dia apareceu um tenente que usava óculos tipo ray ban e que ao invés de olhar e anotar que o preso continuava preso, chutava a porta de aço e exigia que cada um se levantasse e dissesse o nome e a organização a qual pertencia.

Como foi uma coisa nova alguns fizeram isso, outros não, mas resolvemos neste mesmo dia na hora que íamos para o pátio onde podíamos conversar uns com os outros, que não iríamos mais responder ao tal tenente. Aguardamos ansiosamente o dia em que ele estaria de serviço de novo. Ele chegou, bateu na porta de aço da primeira cela perguntou pelo nome e o companheiro nem virou a cabeça. Estava como havíamos combinado, deitado na cama e voltado para a parede. Nome? Chutes na porta. Organização? Chutes na porta. Levante-se. Comunista filho da puta!

O castelo, vista interna

Chutes na porta e assim foi por mais algumas celas, até que percebeu o que estava acontecendo. Ninguém se levantou, ninguém respondeu nada. À noite a resposta dele – soltou os cachorros, literalmente, nos pátios, mandou tocar as sirenes e ligar os holofotes, passou a noite inteira com a tropa dando tiros para o ar. Dia seguinte entrou outro oficial de dia e tudo voltou ao que era antes. Quando o tal tenente estava de serviço era a mesma coisa. Isso aconteceu uma, duas, três vezes, ou quatro vezes, até que a notícia vazou da vizinhança da penitenciária para a cidade – estão fuzilando os presos políticos de Linhares – O comando da IV Região Militar resolveu afastar do serviço o tal tenente de óculos ray ban.

Hoje ele é dono do castelo Monalisa e corregedor geral da câmara dos deputados.

Seu nome? edmar moreira.”

Anos mais tarde envolveu-se num incidente no clube D. Pedro e acabou reformado, quando já capitão.

Quando da CPI do mensalão, no depoimento do deputado roberto jéferson, esse saudou o deputado hoje corregedor como amigo e declarou ter sido seu hóspede em seu magnífico castelo e privado das delícias da cozinha do corregedor.

O institucional está falido.

Sugiro Beira-mar para deputado. Por sinal, o traficante está preso numa prisão particular. Simples. A tal prisão de segurança máxima é propriedade do deputado – sua empresa ou uma delas – e presta serviços terceirizados ao governo.

É especialista nesse negócio.

Por Fernando Rodrigues