Da série ler para acreditar: Fatura atrasada?

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No fundo, o artigo é um recado ao Serra, que vários articulistas da Folha já deram: "Ou Serra arranja um sonho novo para vender ou a maioria do eleitorado pode ser levada a perguntar: Se é para continuar, por que não a candidata de Lula?"

Para Serra,  Jefferson apenas ‘denunciou’ o mensalão

Por: Josias de Souza*

Para o presidenciável tucano José Serra, Roberto Jefferson frequenta o escândalo do mensalão apenas na condição de autor da “denúncia”.

Instado a comentar a presença do PTB de Jefferson em sua coligação, Serra se esforçou para acomodar a batata quente exclusivamente no colo do petismo.

“Os personagens principais do mensalão nem foram do PTB, foram do PT. Aliás, mediante denúncia do Roberto Jeferson, que era então líder do PTB”.

Nenhum constrangimento? “Olha, o Roberto Jefferson, é o presidente do PTB, ele não é candidato. Ele conhece muito bem o meu programa, o meu estilo de governar”.

Serra mimetizou Dilma Rousseff. Acha que o PTB está com porque concorda com as suas diretrizes. “Quem está comigo sabe o jeito que eu trabalho”, disse.

“[...] Para mim, não tem grupinho de deputados indicando diretor financeiro de uma empresa ou indicando diretor de compras de outra...”

“...Para que um deputado quer isso? Evidentemente não é pra ajudar a melhorar o desempenho. É para corrupção. Comigo isso não acontece”.

Para que seja tomado a sério, o lero-lero de Serra precisaria ser antecedido de uma conversão de Jefferson. Algo que viraria o aliado do avesso.

No caso do mensalão, Jefferson levou os lábios ao trombone depois que Maurício Marinho, então responsável pelas compras dos Correios, foi às manchetes.

Marinho, como se recorda, é aquele personagem que, em vídeo, recebeu propina e expôs o e$quema que convertera os Correios num núcleo de arrecadação do PTB.

Jefferson chamou-o de “petequeiro”. E iniciou a autópsia das arcas clandestinas do PT. Em meio à dissecação do cadáver foi à mesa uma mala.

Dentro dela, uma valeriana de mais de R$ 4 milhões. Jefferson admitiu ter recebido a prebenda. Disse ter rateado a grana. Deu para quem? Até hoje não disse.

Assim como José Dirceu (PT), Jefferson teve o mandato de deputado passado na lâmina. Encontra-se sentado no banco de réus do STF.

Ou seja, ainda que se esgoele, Serra terá dificuldades para convencer a platéia de que Jefferson fechou com ele porque adorou o programa de governo do PSDB.

Entre os três presidenciáveis levados ao ar pelo “Jornal Nacional”, Serra foi o menos espremido. Nenhuma menção a Orestes Quércia (PMDB), outro apoiador inusitado.

Nenhuma pergunta sobre os panetones do DEM do Distrito Federal. Nada sobre as emendas de ambulâncias que começaram a ser pagas sob Serra, na Saúde.

Afora a menção a Jefferson e uma questão sobre pedágio, o casal de entrevistadores preferiu iluminar as incongruências presentes no discurso do candidato.

Representante da oposição, Serra é capaz de tudo, menos de criticar Lula. Por quê?

“O Lula não é candidato a presidente”, tentou justificar Serra.

Mirou em Dilma Rousseff: “Não há presidente que possa governar na garupa, ouvindo terceiros ou sendo monitorado por terceiros”.

Virou-se em direção ao pára-brisa: “Eu estou focado no futuro. [...] O que nós temos que fazer? Reforçar aquilo que está bem e corrigir aquilo que não andou direito”.

O discurso de Serra parece arrumadinho. Mas está escorado num equívoco. As evidências demonstram, à saciedade, que a eleição gira ao redor de Lula.

Sem ser candidato, o presidente dá as cartas. Sem ele, a estreante Dilma seria o oco do vazio. Um pedaço do eleitorado parece dar de ombros para a tese da “garupa”.

É como se a idéia de ter Lula nas rédeas por mais tempo provocasse não aversão, mais encantamento.

Como se fosse pouco, Serra evoca os tempos difícies da era FHC. Na entrevista, recordou o Real. A exemplo do que fizera no debate da Band, citou Antonio Palocci.

“Foi ministro da Fazenda do Lula e hoje é o principal assessor da candidata do PT. Nunca parou de elogiar o governo Fernando Henrique”.

Nessa matéria, Serra tem toda razão. Lula serviu-se dos êxitos de FHC. Nenhuma dúvida.

O diabo é que, submetido a uma atmosfera econômica benfazeja, o eleitor já não quer saber se o Real foi concebido por um grupo de economistas escalados por FHC.

A sensação de prosperidade como que empurrou a estabilidade da moeda para dentro da biografia de Lula.

Ou Serra arranja um sonho novo para vender ou a maioria do eleitorado pode ser levada a perguntar: Se é para continuar, por que não a candidata de Lula?

Fonte: Blog do Josias de Souza*, aquele do 'vadias', 'vagabundas' que discutimos aqui.