Educação de fato é problema de todos, faça a sua parte, mas qual parte?

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Há muitas falsas polêmicas no Brasil hoje. Uma delas gira em torno do 'kit gay', um nome inapropriado para denominar um conjunto de materiais didáticos, incluindo vídeos, voltado para educação de uma cultura de paz e anti-homofóbica. Por que será que a mídia velha resolveu adotar e disseminar a expressão usada por políticos fundamentalistas e homofóbicos?

Mais recentemente outra polêmica,  desta vez em torno do 'livro didático' (com diferentes vertentes). Em relação à polêmica entre 'norma culta' e o falar coloquial, fiquei realmente surpresa com o fato de pessoas que respeito se posicionarem de modo tão precipitado diante do livro da Ação Educativa. Espero que elas se debrucem de fato no assunto, reflitam e percebam que há que se lutar sim pela qualidade da educação, não exigindo do MEC que vire o censor, mas que cumpra os Planos Nacionais de Educação ampliando o percentual do PIB nos investimentos da educação do país, por exemplo. Deixem os livros didáticos com a Acadêmia, ela sabe o que faz.

Reproduzo, por hora, a nota da Ação Educativa, que assino embaixo.

Nota Pública: Livro para adultos não ensina erros notapublica_.jpg

Posicionamento institucional da Ação Educativa sobre a polêmica envolvendo livro distribuído pelo MEC. Uma frase retirada da obra Por uma vida melhor, cuja responsabilidade pedagógica é da Ação Educativa, vem gerando enorme repercussão na mídia. A obra é destinada à Educação de Jovens e Adultos, modalidade que, pela primeira vez neste ano, teve a oportunidade de receber livros do Programa Nacional do Livro Didático. Por meio dele, o Ministério da Educação promove a avaliação de dezenas de obras apresentadas por editoras, submete-as à avaliação de especialistas e depois oferece as aprovadas para que secretarias de educação e professores façam suas escolhas. O trecho que gerou tantas polêmicas faz parte do capítulo “Escrever é diferente de falar”. No tópico denominado “concordância entre palavras”, os autores discutem a existência de variedades do português falado que admitem que substantivo e adjetivo não sejam flexionados para concordar com um artigo no plural. Na mesma página, os autores completam a explanação: “na norma culta, o verbo concorda, ao mesmo tempo, em número (singular – plural) e em pessoa (1ª –2ª – 3ª) com o ser envolvido na ação que ele indica”. Afirmam também: “a norma culta existe tanto na linguagem escrita como na oral, ou seja, quando escrevemos um bilhete a um amigo, podemos ser informais, porém, quando escrevemos um requerimento, por exemplo, devemos ser formais, utilizando a norma culta”. Pode-se constatar, portanto, que os autores não estão se furtando a ensinar a norma culta, apenas indicam que existem outras variedades diferentes dessa.  A abordagem é adequada, pois diversos especialistas em ensino de língua, assim como as orientações oficiais para a área, afirmam que tomar consciência da variante linguística que se usa e entender como a sociedade valoriza desigualmente as diferentes variantes pode ajudar na apropriação da norma culta. Uma escola democrática deve ensinar as regras gramaticais a todos os alunos sem menosprezar a cultura em que estão inseridos e sem destituir a língua que falam de sua gramática, ainda que esta não esteja codificada por escrito nem seja socialmente prestigiada. Defendemos a abordagem da obra por considerar que cabe à escola ensinar regras, mas sua função mais nobre é disseminar conhecimentos científicos e senso crítico, para que as pessoas possam saber por que e quando usá-las. O debate público é fundamental para promover a qualidade e equidade na educação. É preciso, entretanto, tomar cuidado com a divulgação de matérias com intuitos políticos pouco educativos e afirmações desrespeitosas em relação aos educadores. A Ação Educativa está disposta a promover um debate qualificado que possa efetivamente resultar em democratização da educação e da cultura.  Vale lembrar que polêmicas como essa ocupam a imprensa desde que o Modernismo brasileiro em 1922 incorporou a linguagem popular à literatura. Felizmente, desde então, o país mudou bastante. Muitas pessoas tem consciência de que não se deve discriminar ninguém pela forma como fala ou pelo lugar de onde veio. Tais mudanças são possíveis, sem dúvida, porque cada vez mais brasileiros podem ir à escola tanto para aprender regras como para desenvolver o senso crítico.

Acesse o capítulo do livro na íntegra _________ Publicidade //