Flavio Sousa: quem fala contra as medidas afirmativas não tem a mínima ideia do que está falando.

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Transformo em post um comentário/depoimento (feito neste post aqui) de mais um leitor competente que este blog ganhou nos últimos tempos: Flávio de Sousa, que pode ser encontrado no twitter aqui: @flavio_as

Destaque p/ detalhe importante: De fato, alunos ingressos por meio de cotas mostram invariavelmente desempenho acadêmico excepcional, tanto objetiva -- isto é, pelas notas -- como subjetivamente -- pela aptidão intelectual que demonstram em sala de aula e nos outros espaços acadêmicos. Não faço aqui suposições. Infelizmente perdi a fonte, mas lembro de ter saído em 2007/08 da Folha matéria dizendo que os melhores alunos de turmas de Engenharia da Unicamp (e de outras turmas da UnB) eram todos cotistas. Cabe vasculhar a rede atrás dessa pesquisa. O mesmo vale p/ os bolsistas do ProUni, pelo menos entre aqueles que têm a oportunidade de obter bolsa numa boa universidade -- o que, infelizmente, não tem acontecido c/ todos, já que o programa tem despejado inúmeros estudantes carentes em "estabelecimentos comerciais de ensino", as famosas UniEsquinas. Nesse aspecto, posso dar meu depoimento pessoal, já que eu próprio e amigos de faculdade estudamos na PUC-SP graças ao programa do Governo Federal. A contar que a mensalidade gira em torno de 3 salários mínimos/mês, pessoas da nossa condição jamais teriam oportunidade se não fosse por meio desse benefício. Especialmente os colegas negros, que sim, são visivelmente mais carentes. E o que vemos lá dispensa barroquismos discursivos: tenho a satisfação de fazer parte do grupo de alunos com o melhor desempenho na turma (e no curso), grupo este quase todo formado pelos bolsistas. Costumamos dizer que, se o diploma da PUC vale alguma coisa, isso certamente não é graças a quem paga por ele. Muitos de nós têm projetos de pesquisa em andamento ou procuram orientação. Nossa vontade de crescer intelectual e profissionalmente se tornou a referência p/ o curso, não tenho dúvidas. E que se tenha claro: dos colegas bolsistas negros, que entraram até com pontuação menor que a minha (que não fui cotista), não há um que não mostre e demonstre com sua capacidade intelectual o merecimento de estar lá. Por isso que, não só como esquerdista, mas como parte dessa revolução social, eu posso dizer: quem fala contra as medidas afirmativas, para os pobres no lato, para as etnias marginalizadas no stricto sensu, não tem a mínima ideia do que está falando.