Greve dos professores municipais de São Paulo: versões e percepções

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A greve é um direito de todo trabalhador,  mas a greve em setores públicos geralmente vitimiza aqueles que mais dependem dos serviços públicos: os que mais precisam ficam sem acesso à saúde,  à educação quando servidores de hospitais e escolas resolvem exercer o seu direito de protestar. Sem envolver a população nesta luta, os grevistas só conseguem mais antipatia da população.

Particularmente acho que deflagrar uma greve após 4 meses do início do mandato de um prefeito que vem mostrando disposição gigantesca para o diálogo desde que assumiu a prefeitura de São Paulo não é uma estratégia que me pareça ser bem sucedida e que consegui  apoio da população.

É estranho também um prefeito que já sentou pra falar com ambulantes, sem terra, juventude, movimentos culturais etc esteja sendo intransigente com os professores. Algo está errado aí.

E a greve tem sujeitos respeitáveis em lados opostos: o professor Rodrigo Ciriaco, historiador, um dos idealizadores do projeto Mesquiteiros, fez o vídeo abaixo, organiza twitaços e usa seu facebook para uma campanha dura contra Haddad e em defesa da manutenção da greve, segundo ele #naoexisteeducacaoemSP

Do outro professores e coordenadores petitas como @mimfoi e professor Matias Vieira que argumentam que a greve é partidária e só tem como objetivo desestabilizar o governo de Haddad. Segundo @mimfoi, um movimento liderado por um presidente de sindicato do PPS, e uma "oposição ensandecida" do PSTU e do PSOL.

Por: Matias Vieira

Companheiros e companheiras, educadores e educadoras da cidade de São Paulo.

Estou no Sinpeem deste 1992, acompanhei todas as lutas sindicais por melhorias salariais, condições de trabalho e avanços na qualidade social da educação.

Nesta greve da rede municipal, assumi a defesa do governo por achar INOPORTUNO o momento da greve e também por acreditar que tenho uma opção política e militância partidária e não oportunista.

Fui vaiado duas vezes por defender o encerramento da greve e agora vejo que tinha minhas razões partidárias e de reversão do quadro educacional sofrido que ficou a educação após 8 anos de Serra/Kassab e os 20 anos de sustentação do PSDB no governo do estado, e, para muitos, todos sabemos o que significa para São Paulo e para o Brasil.

Nestes 8 anos em que esta dupla governou, avançou em toda a rede a terceirização da vigilância, da limpeza e cozinha. Criou-se escolas polos de EJA (Educação de Jovens e Adultos), fechamento de várias salas de aulas, o programa de prevenção da violência nas escolas abandonado, os GCM foram cuidar dos ambulantes, a Saúde do professor só piorou e o ensino também.

Não vi nestes 8 anos nenhuma Marcha Cívica sendo convocada pelo sindicato, nas reuniões de RE tinha que defender minhas idéias em um minuto, em nenhum destes governos foi concedido reposição de inflação nos 4 primeiros meses de governo e nenhuma luta foi tão defendida, inclusive com setores que nunca fizeram greve (Aprofem, apoio de supervisores e pessoas que nunca se manifestaram nas greves).

Hoje, o Comando de greve, composto pelo PSTU, PSOL e a Diretoria do Sindicato se alinharam e querem derrotar 4 meses de governo. Um governo que enfrentou a truculência da PM na ocupação no Jardim Alto Alegre, evitando o 2° Pinheirinho e assumiu construir 20.000 moradias no centro de São Paulo.

Um governo que trata o funcionalismo público, nível básico e médio, com recuperação salarial entre 80% e 42%, saindo do salário de R$ 447,00.

Um governo que apresenta uma pauta de negociação de melhorias das condições de trabalho na mesa de negociação.

Um governo que cumpre um mau acordo feito e aprovado pela Diretoria do Sindicato, ajustando milhares de professores na mesma faixa salarial (piso) por 4 anos, até 2014.

Depois disso tudo, ter encerrado uma greve em andamento da categoria no governo Kassab, ter um presidente de Sindicato que foi vereador da base do governo e continuou na presidência do sindicato todo esse tempo, conduzindo a categoria.

Estou assumindo publicamente, ser contra a greve e vou defender as negociações com o governo Haddad. Muito obrigado a todos e todas, amigos/as.

Toda greve é política, mas não necessariamente partidária. Esta me parece mais partidária que outras, porque o PPS não é um partido com história de luta nas bases, era e é aliado dos adversários políticos do PT. Mas o PT é governo e sabe que não tem o monopólio das lutas. E é exatamente por isso que não consigo entender onde está o ruído de comunicação que impede que o prefeito ouça efetivamente e fale à categoria.

Carimbar Haddad como um político intransigente pode ter algum efeito no discurso do embate da categoria em greve e nos rituais da luta, mas não tem pé na realidade. Haddad vem mostrando uma inteligência política muito acima da média. O que emperra esta negociação?

Espero que os professores participem ativamente do movimento e avaliem a condução que suas lideranças (reais e burocráticas) estão dando à greve para que possam escolher qual é o melhor caminho: se tem força política pra pressionar o governo e ampliar conquistas ou se estão mais uma vez contribuindo com um líder sindical que era vereador da base do prefeito Kassab e ano passado encerrou a greve de modo arbitrário passando por cima dos professores.

Espero que a militância petista que orgulhosamente defende uma administração que vem se mostrando aberta ao diálogo, progressista e que está empenhada em ampliar a cidadania aos moradores desta cidade mantenha o debate político em alto nível e reconheça o direito do PSOL e PSTU divergirem, afinal há militantes petistas em greve, assim não me parece um bom caminho reduzir o movimento a uma luta exclusivamente partidária, desqualificando as lideranças do PSOL e PSTU. Do mesmo modo, as lideranças do PSOL e PSTU ao igualarem Haddad a Kassab e Serra despolitizam e infantilizam o movimento e não me parece que este seja o caminho mais produtivo para mostrar à sociedade a importância da greve dos professores.