Hezbollah: "Organizem a flotilha 2"!

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E a estupidez das ações sionistas do Estado de Israel conseguiu acordar até mesmo o Hezbollah. Trago mais um texto traduzido pela Caia Fittipaldi desta vez do secretário geral do Hezbollah Sayyed Nasrallah.

Sayyed Nasrallah: “Unam-se em apoio a Turquia e Egito. Organizem a Flotilha 2.

Por: Mohamad Shmaysani, Al-ManarTV, Beirute, Líbano 4/6/2010

­­O secretário geral do Hezbollah Sayyed Nasrallah disse, na 6ª-feira, que árabes e muçulmanos devem apoiar Egito e Turquia, para impedir que Israel e os EUA concentrem suas forças contra aqueles países. Sua Eminência conclamou todos a organizarem e participarem da Flotilha 2, que será meio para levantar o bloqueio de Gaza.

O secretário geral falou durante evento organizado pelo Hezbollah no subúrbio sul de Beirute, em solidariedade à Flotilha da Liberdade. Dirigindo-se a uma multidão que agitava bandeiras do Líbano, da Turquia, da Palestina e do Hezbollah, Sayyed Nasrallah saudou o povo de Gaza e da Palestina. “Homenageamos hoje os ativistas que organizaram a Flotilha da Liberdade, seus mártires e os feridos. Saúdo também os ativistas libaneses que lá estavam, mensageiros da resistência e da vontade dos libaneses.”

Nove esquifes cobertos com bandeiras turcas foram postos ante a plataforma, para lembrar os nove mártires, massacrados pelos encapuzados da Marinha de Israel na 2ª-feira, quando navegavam em águas internacionais levando ajuda humanitária aos sitiados de Gaza.

A Turquia marcou presença, com coragem

Muitos mártires da Flotilha são turcos. Não por coincidência. É a vontade de Deus. Deus escolhe os que quer como mártires. Congratulo-me com a Turquia e manifesto minha solidariedade às famílias dos mártires. Minhas homenagens especiais, e meu respeito, a todos que apoiaram a Flotilha e aos líderes turcos que souberam responder com coragem, sem se omitir”, disse Sua Eminência.

O chefe do Hezbollah destacou que “estamos ante incidente gravíssimo no curso da luta de nosso povo contra o inimigo que ocupa e usurpa, e entendemos muito claramente o que aconteceu.”

Uma flotilha de vários navios, em que havia pessoas e materiais necessários em Gaza, partiu para romper o bloqueio e chegar ao porto. Centenas de pessoas, de várias nacionalidades, muitas de nações que mantêm laços diplomáticos com Israel. Muitos turcos, e a Turquia tem laços diplomáticos e importantes acordos de segurança com Israel.

Todos os passageiros foram presos; mas foram liberados em tempo recorde. O massacre foi mais uma prova da natureza agressiva desse inimigo, já mil vezes confirmada com crimes, brutalidade e massacres. Foi mais uma prova de que, sim, Israel mata civis desarmados, para implantar seu estado de terror, sem jamais respeitar qualquer valor, qualquer lei, qualquer compromisso diplomático.

É mais uma prova de que Israel crê-se acima da lei e acima de convicções religiosas, quando se trata de atender aos seus interesses diretos (...). O que aconteceu no Mediterrâneo é prova também de que o governo dos EUA continua comprometido com defender Israel e seus crimes: não condenaram Israel, nem apoiaram o clamor internacional por investigações externas isentas. Os EUA acreditam que o crime de Israel seria “direito de autodefesa”.

Os aliados dos EUA já estão obrigados a perguntar-se: “Será que a única coisa que jamais muda é o relacionamento entre EUA e Israel?” O que aconteceu expôs muitos governos, em vários países, que se têm declarado defensores de direitos humanos. Mas mantêm-se omissos e calados, quando o criminoso é Israel.”

A Flotilha expôs a impotência dos árabes

Os árabes estavam e ainda estão em posição de impotência. Os ativistas foram libertados em prazo recorde, mas milhares de palestinos permanecem presos nas prisões israelenses. De diferente que, dessa vez, houve centenas de turcos envolvidos no massacre.

Israel calculou mal seus passos; logo percebeu que a agressão a cidadãos turcos obrigaria o governo turco a tomar posição em defesa dos seus cidadãos. Não tenho qualquer dúvida de que Israel assustou-se ao saber da reação dos turcos, no plano popular e oficial. Quando a Turquia declarou que romperia laços com Israel, se as autoridades do regime sionista mantivessem presos ou tentassem levar a julgamento qualquer dos cidadãos turcos presos. Israel sabe que a Turquia é país forte, com liderança política forte e lúcida, que sabe usar o poder que tem. (grifos nossos).

Para Israel, o rompimento de laços com a Turquia seria cataclísmico. A Turquia, então, usou a arma que tinha, para proteger todos, não só os turcos: e exigiu a libertação de todos os ativistas. Aí está boa lição para os que pregam a política da humilhação, da mentira, da ilusão geral, que só gera mais desgraças. Só as ações de política baseada em poder real levam aos resultados que se almejam.”

Elogiamos a decisão do Egito, que abriu imediatamente a passagem de Rafah

A Flotilha da Liberdade conseguiu o objetivo de repor o sítio de Gaza ante os olhos de todos, antes que árabes e, de fato, todo o mundo, esquecesse de vez, dos palestinos de Gaza. O sangue dos mártires e o clamor indignado do mundo impõem hoje que todos os governos incluam a Palestina em lugar prioritário em suas agendas.

Ouvimos as palavras do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, da Rússia e de outros estados, que exigem o fim do bloqueio de Gaza; antes do massacre da Flotilha, essas vozes também estavam mudas. O governo egípcio abriu a passagem de Rafah e elogiamos e agradecemos ao Egito por esse gesto. Na Palestina, cresce a tendência à reconciliação interna.

Digo-lhes que a situação de Israel é hoje pior do que antes, e será cada vez mais insustentável. Israel não pode, agora, pensar em nova agressão contra Gaza. Nesse quadro, por outro lado, cresce a possibilidade de ataque israelense ao Líbano, à Síria ou ao Irã. O que aconteceu traz escândalo para Israel e escândalo para a política exterior dos EUA; e é prova do fracasso e do fiasco do governo de Israel.”

Para o secretário-geral, o ato de Israel foi ato de estupidez; e Israel já começa a ter de calcular suas perdas. “O chefe do Mossad disse que Israel está-se convertendo em peso excessivo às costas dos EUA, porque a cada fracasso dos israelenses, os EUA são obrigados a imiscuir-se e intervir. E os EUA já sabem disso. Isso, exatamente, foi o que disse, lá, o general Petraeus".

Algum Parlamento árabe seguiu a posição do Kwait e retirou-se da I niciativa Árabe?

Sayyed Nasrallah comparou a posição da Turquia hoje, na guerra do Líbano em 2006 e na guerra de Gaza em 2008- 2009. “A posição turca evoluiu muito significativamente entre aqueles momentos e o caso da Flotilha. Não direi que Israel perdeu a Turquia, mas posso dizer que Israel começou a perder a Turquia – e essa é mudança muito significativa na Região. Israel perderá completamente a Turquia? Para responder, temos de esperar o desenrolar dos acontecimentos".

Um dos resultados importantes dos eventos da semana passada é a posição do Kuwait. O Parlamento do Kuwait exigiu que o país retire-se da Iniciativa Árabe e o governo concordou. Algum outro parlamento árabe tomou essa iniciativa?

Saudamos o Kuwait por essa decisão, que honra a política feita por valores políticos morais, porque a Iniciativa Árabe inclui grandes concessões a Israel. O que aconteceu embaraça todos os que pedem normalização das relações com Israel e os que fazem políticas de barganhas com o inimigo.

O ataque de Israel à Flotilha da Liberdade embaraça os que pedem a dita ‘moderação’ aos árabes. Li em alguns jornais do Golfo artigos obscenos que defendem os soldados de israelenses, que teriam ‘cumprido o dever’; nem na imprensa de Israel leem-se tais coisas.”

Israel teme as bandeiras vermelhas e amarelas

Há uma boa chance hoje de levantar o bloqueio de Gaza. Para isso, é preciso mais flotilhas da liberdade. Com isso, fracassará o objetivo de Israel – se insistir em ações semelhantes à da semana passada. Conclamo mais libaneses a engajarem-se na Flotilha da Liberdade 2.

Hoje, a Iniciativa Europeia pela Paz anunciou que está organizando outra Flotilha. De que lado ficarão os árabes e os muçulmanos? Israel hoje teme a bandeira vermelha da Turquia, tanto quanto teme a bandeira amarela do Hezbollah. Os libaneses que participarem da Flotilha da Liberdade 2 lembrem-se de que participam de um movimento de resistência que não abandona ninguém nas prisões israelenses.”

Temos de defender as decisões de Egito e Turquia

Pedimos ao governo do Egito que mantenha aberta a passagem de Rafah. Governos árabes não precisam recorrer ao Conselho de Segurança, para conseguir a libertação dos prisioneiros. Podemos unir-nos como países árabes e muçulmanos e defender a posição do Egito. Se fizermos isso, ninguém atacará o Egito nem forçará o Egito a fechar novamente a fronteira norte de Gaza. Vamos nos unir e manter aberta aquela passagem. É um passo inicial, para o fim do bloqueio de Gaza.

É preciso apoiar também o governo turco – que enfrentará tremenda pressão. Obama já fez contato com Recep ‘Tayyib’ [homem bom] Erdogan. A pressão continuará e aumentará, para evitar que Erdogan ganhe espaço e prestígio entre vários estados árabes, em luta contra Israel; e para recompor os laços Turquia-Israel.

Engajem-se na Flotilha da Liberdade 2

O secretário-geral insistiu em que a questão palestina deve permanecer no centro das atenções internacionais. “A causa dos palestinos deve converter-se em causa internacional. No passado, diziam que a causa dos palestinos seria causa só do mundo árabe, não do mundo islâmico. No mundo árabe, muitos transformaram a causa dos palestinos em questão local. Hoje a causa de todos é a questão palestina, Gaza, a Cisjordânia e os refugiados.

É preciso não permitir que o mundo esqueça que a causa dos palestinos é causa humana, islâmica, árabe e global.

Temos de insistir em que os acontecimentos da Flotilha da Liberdade sejam investigados por comissão internacional, ainda que saibamos que essa investigação dará poucos resultados. Ainda assim, é preciso insistir na investigação internacional, para criar problemas para Israel, que terá de impedir essa investigação, como já disse que impedirá. O governo de Israel tem de ser levados aos tribunais, pelas vítimas da Flotilha da Liberdade, em todos os cantos do mundo.

Processar Israel pelos crimes praticados deixará perplexos os governantes de hoje. E mostrará ao mundo a verdade sobre Israel, que se apresenta como democracia que se submete às leis internacionais, mas pouca importância dá a elas. Temos de usar o feito da Flotilha da Liberdade para impedir que o mundo continue cego aos massacres perpetrados pelos israelenses.

Tradução: Caia Fittipaldi