Hoje, e todos os dias, digamos não à homofobia

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Eu quero apresentar a vocês o Igor: [caption id="attachment_1214" align="aligncenter" width="500" caption="Sandra, Conceição e Igor."]Sandra, Conceição e Igor.[/caption]

Igor, quinze anos, cursa o primeiro ano do Ensino Médio. Vive com a mãe e a ajuda a manter a vídeo locadora, que possuem. Eu e a educadora Sandra Sartoris quando visitamos sua escola, carinhosamente chamada pela comunidade de 'Geraldo', conversamos longamente com Igor que fazia questão de frisar que tinha muitos amigos na escola e que ninguém o destratava.

Igor é homossexual e explicita sua orientação no modo de vestir e agir: cabelos escovados, lenço no pescoço, bolsas estilosas. Observamos que de fato ele se relaciona com diferentes grupos, está sempre sorridente, tem uma forte personalidade.

A habilidade do grupo de adolescentes da escola Geraldo em lidar com as diferenças nos surpreendeu e nos demos conta que o contrato pedagógico vem se consolidado na prática.

Vários educadores mesmo com as políticas duvidosas e anti-educativas da Secretaria da Educação de São Paulo vêm enfrentando os preconceitos com a formação para a diversidade, para o respeito às diferenças. Vejam aqui um bom exemplo de projetos organizado pelo Grupo Corsa, dirigido pelo meu querido amigo Lula Ramires que pode ser adotado em sua escola, no seu trabalho, na discussão com a sua família.

Mas, infelizmente, muitos adolescentes como Igor têm negado o direito de viver sua adolescência e sua vida adulta com liberdade, pois eles são alvos da homofobia.

Preconceito é uma forma abominável de enxergar o mundo, porque esse modo de ver de maneira parcial e equivocada distorce a realidade, carimba no 'outro' uma série de pré-julgamentos sem compromisso com a verdade.

No Brasil ainda precisamos combater inúmeros preconceitos e estereótipos que contribuem para justificar a discriminação, a violência e a desigualdade sofrida pelos grupos alvos de preconceitos.

A sociedade brasileira tem uma coleção de preconceitos velhos e arraigados que precisa se libertar, jogar no lixo sem reciclagem: urbanos têm preconceitos contra trabalhadores rurais, classe média despolitizada do centro-sul tem preconceitos em relação aos migrantes nordestinos; brancos racistas contra os negros, elitistas contra a classe trabalhadora, heteros homofóbicos contra a orientação sexual dos homossexuais, sexistas contras as mulheres, não portadores de necessidades especiais contra os portadores de necessidades especiais....

Preconceitos cristalizados em nossa sociedade negam a todos aqueles considerados pelos preconceituosos como 'o outro', 'o diferente'  o direito de usufruir com liberdade a vida. E a radicalização deles podem levar à morte, não raro a imprensa noticia atos de violência contra gays, travestis, transexuais, contra negros...  Homofobia ocupa o segundo lugar em relação a crimes virtuais, confira aqui que coisa feia que isto é.

Gays, Lésbicas, travestis, transexuais tem negado o direito básico do ser humano de viver a sua sexualidade. O que afinal cada um de nós tem a ver como nosso semelhante vive a sua vida privada?

Há um projeto de lei  complementar ao projeto 122/06 para criminalizar a homofobia tramitando no Senado, o  PLC122/06 - "Não a Homofobia! Seja cidadão/cidadã! Apóie o projeto de lei, assinando a petição online.

Grupos religiosos fundamentalistas se reúnem e fazem lobbies no Congresso para transformar a vida dos homossexuais em um inferno. Isso não pode continuar a ser visto com naturalidade pela sociedade brasileira!

[caption id="attachment_1212" align="aligncenter" width="500" caption="Latuff e sua crítica bem-humorada aos fundamentalistas religiosos homofóbicos."]Latuff e sua crítica bem-humorada aos fundamentalistas religiosos homofóbicos.[/caption]

É preciso um trabalho intenso nas escolas, é preciso que os maus humoristas entendam que as piadas sem graça de cunho sexista, racista, homofóbico não apenas são ruins como contribuem para tornar a sociedade ainda mais conservadora e perversa.

O preconceito que leva à discriminação e, por tabela, à negação dos direitos humanos não é natural. Todo preconceito tem história. No nosso caso, a ideologia patrimonialista, patriarcal, autoritária e violenta, construída por uma minoria que ocupou o poder ao longo de 500 anos, elegeu como padrão/modelo de normalidade: o sexo masculino; a orientação heterossexual, a cor branca; a cultura ocidental-cristã. Esse pensamento nega o exercício efetivo da democracia e da vivência de uma cidadania plena.

[caption id="attachment_1213" align="aligncenter" width="455" caption="Latuff em solidariedade ao movimento LGBTs"]Latuff em solidariedade ao movimento GLS[/caption]

No caso da população negra o entrelaçamento das heranças do colonialismo e do escravismo com o racismo mantém secularmente os negros na base da pirâmide social. O racismo é responsável pela exclusão e miserabilidade e não o oposto.

Nosso nível de consciência  sobre os Direitos Humanos, fundamento primeiro de todos os direitos como nos ensina Maria Victória Benevides, ainda é baixo e, por vezes, relativizado por políticos fisiológicos, como José Serra que, na campanha de 2002, relativizou os Direitos Humanos apenas para aqueles que ele e a sociedade conservadora e excludente considera 'humanos direitos'.

Estejamos atentos! Viver sua própria sexualidade não é privilégio, é direito de todo e qualquer ser humano. Homofobia, racismo, sexismo são crimes hediondos, livre-se deles.

Para encerrar,  fiquem com as reflexões da minha querida amiga e ex-professora Maria Victoria Benevides, que além de intelectual brilhante é cidadã para ninguém botar defeito:

"Infelizmente, terminada a parte mais repressora do regime militar, a idéia de que todos, independentemente da posição social, são merecedores da preocupação com a garantia dos direitos fundamentais – e não mais apenas aqueles chamados de presos políticos, que não mais existiam – não prosperou como era de se esperar. A defesa dos direitos humanos (DH) passou a ser associada à defesa dos criminosos comuns que, quando são denunciados e apenados, pertencem, em sua esmagadora maioria, às classes populares. Então, a questão deixou de ter o mesmo interesse para segmentos da classe média (...). E aí vemos como já se explica uma parte da ambigüidade que cerca a idéia de direitos humanos no Brasil, porque depois da defesa dos direitos daqueles perseguidos pelo regime militar se estabeleceria uma cunha, uma diferenciação profunda e cruel entre ricos e pobres, entre intelectuais e iletrados, entre a classe média e a classe alta, de um lado, e as classes populares de outro, incluindo-se aí, certamente, grande parte da população negra.(...)

(...) Mas também é evidente que, se até no meio mais “progressista” essa distinção vigorou, o que dizer da incompreensão ou hostilidade dos meios mais conservadores?

(...) Somos uma sociedade profundamente marcada pelas desigualdades sociais de toda sorte e, além disso, somos a sociedade que tem a maior distância entre os extremos, a base e o topo da pirâmide sócio-econômica. Nosso país é campeão na desigualdade e distribuição de renda. As classes populares são geralmente vistas como “classes perigosas”. São ameaçadoras pela feiúra da miséria, são ameaçadoras pelo grande número, pelo medo atávico das “massas”. Assim, de certa maneira, parece necessário às classes dominantes criminalizar as classes populares associando-as ao banditismo, à violência e à criminalidade; porque esta é uma maneira de circunscrever a violência, que existe em toda a sociedade, apenas aos “desclassificados”, que, portanto, mereceriam todo o rigor da polícia, da suspeita permanente, da indiferença diante de seus legítimos anseios.” (BENEVIDES, 2009)

PS: Bem, e se depois de tudo isso você ainda achar que é direito segregar e ofender as pessoas pela sua orientação sexual: [youtube=http://www.youtube.com/watch?v=zZToJRCgI-s] Vi o vídeo no querido leitor da @rosana, dica do leitor @andre_faria Atualização: Não deixem de ler a excelente reportagem da Agência Brasil, um verdadeiro dossiê sobre a Homofobia na escola