Jobim, sua deselegância e o governo Dilma de ouvidos moucos

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Acho que os idiotas somos nós que elegemos uma presidenta que foi torturada por sujeitos que Nelson Jobim defende, temos de aturar um conservador sem o mínimo de elegância num ministério estratégico e que, segundo documentos vazados pelo Wikileaks, é mais ministro da defesa dos EUA que do Brasil.

 

Sem FHC no Planalto, Nelson Jobim se vê cercado de “idiotas”

Por André Cintra, no Vermelho 30/06/2011

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e também das eras FHC e Lula, parece cada vez mais disposto a sabotar o governo da presidente Dilma Rousseff. Ao menos foi o que demonstrou em duas lamentáveis declarações públicas feitas nesta semana.

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Na segunda-feira (27), em breve entrevista a jornalistas, Jobim se posicionou como fiador das Forças Armadas, ao declarar que documentos oficiais do regime militar brasileiro (1964-1985) “desapareceram, já foram consumidos à época”. Sem provas comprometedoras, o ministro concluiu que era chegada a hora de viabilizar uma Comissão da Verdade — como se o principal objetivo da comissão não fosse justamente apurar as violações de direitos humanos cometidos pelos militares no poder.

Três dias depois, ao participar nesta quinta-feira (30), em Brasília, da festa em homenagem aos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Jobim voltou a se apresentar como um contraponto ao viés mais democrático e progressista do governo Dilma. Ele aproveitou seu discurso para mandar uma série de recados — ora devidamente cifrados, ora nem tanto.

Dirigindo-se a uma plateia majoritariamente tucana, o ministro reconheceu sentir-se mais à vontade ali, entre a cúpula do PSDB, do que no ministério de Dilma. Foram várias declarações nesse sentido, a começar pela confissão de que seu discurso — ou “monólogo” pró- FHC — teria “vazios” que o ex-presidente “compreenderia perfeitamente”.

Ao fim e ao cabo, os “vazios” não foram necessários. Explícito em vários momentos, Jobim só faltou evocar a música de Chico Buarque para dizer que, no momento, seu coração “é um pote até aqui de mágoa”. A tal ponto que, de forma absurda, atribuiu ao próprio FHC sua indicação e manutenção no Ministério da Defesa. “Se estou aqui, foi por tua causa”, afirmou aberta e deselegantemente.

Para fazer coro às críticas da oposição e da grande mídia à rigidez de Dilma, Jobim a contrapôs, indiretamente, a Fernando Henrique. “Nunca o presidente levantou a voz para ninguém. Nunca criou tensionamento entre aqueles que te assessoravam”. Insatisfação

O ministro ultrapassou de vez todos os limites da arrogância ao insinuar que os governos Lula e Dilma demoliram um “processo político de tolerância, compreensão e criação” supostamente construído por FHC. “Precisamos ter presente, Fernando, que os tempos mudaram.”

Com cada vez menos poderes e holofotes na vida pública, Jobim deu a entender que se considera uma espécie de ilha de brilhantismo cercada de “idiotas” por todos os lados no governo Dilma. Para chegar a tal ridículo, evocou o escritor Nelson Rodrigues.

“Ele dizia que, no seu tempo, os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos. O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento”, soltou o ministro imodesto no momento mais idiota de sua fala. Até FHC — que classificou o evento como uma “festa de amizade e de confraternização” — estranhou Jobim: “É, aquilo foi forte”.

Segundo a Folha de S.Paulo, “aliados do ministro dizem que ele está, de fato, insatisfeito com Dilma. Recentemente se queixou a correligionários de que a presidente não o convoca para opinar sobre assuntos de política e direito, como Lula fazia. Ele também ficou incomodado com o corte do orçamento de sua pasta”.

Nada disso, porém, confere a Nelson Jobim legitimidade para esculhambar o governo e a presidente que lhe confiaram um cargo tão estratégico. Às 11 horas desta sexta-feira (1º/7), o ministro tinha reunião marcada com Dilma. Será uma boa oportunidade para ele explicar, sem subterfúgios, quem são os “idiotas” que lhe exigem tamanhas “tolerância e compreensão”.

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