Ju Freitas e Diego Casaes sobre o preconceito contra nordestinos

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Reproduzo o vídeo  que @ju_freitas (carioca) produziu e o texto que @diegocasaes (soteropolitano) escreveu sobre a patética onda no twitter de preconceitos regionais da 'massa cheirosa', anti-petista e pró-serrista revoltada com a derrota no pleito eleitoral.

Falei um pouco desta demonstração lunática de gente ignorante que se acha o supra-sumo no texto: Aos preconceituosos que não sabem fazer conta, acabo de ler o texto da Lola no Escreva Lola que também faz excelente apanhado e indico leitura.

Aos amigos tucanos, anti-PT, anti-Zé Dirceu, anti-Genoíno e outras bobagens que discordam destas demonstrações grotescas de ódio, digo que vocês não fazem a mínima idéia  da lista de lunáticos no twitter que acompanhei durante toda a campanha. Elas são ainda mais baixas que as manifestações raivosas reunidas pela Ju. Querendo ou não todas as vezes que por preconceito de classe vocês desrespeitaram o presidente da República, com expressões xulas como "Lula Lelé", vocês endossaram esta barbárie.

Eu sinto muito, mas vocês precisam se posicionar publicamente e não apenas repudiar, mas agir de modo efetivo entre  seus iguais, lembrando que  essa onda de preconceituosos malucos é sulista, a maioria de São Paulo e  não há nenhum petista.

Vídeo em 'homenagem' à 'massa cheirosa' do país! Abaixo, texto de Diego Casaes, reproduzido de seu blog

Virando o jogo contra o silêncio… e sobre a questão do ódio contra nordestinos no Twitter

Por: Diego Casaes
03/11/2010
Estou cheio de coisas a fazer, minha agenda está super lotada, tenho que organizar duas viagens para a próxima semana e há muito tempo que não atualizo esse blog. Poderia estar fazendo coisas melhores, mas precisei respirar fundo e escrever sobre algumas coisas que estão me incomodando bastante profundamente. Dilma ganhou a eleição e será nossa presidente a partir do dia 1 de 2011 (escrevi uma carta para ela no meu outro blog, em inglês). Que a campanha foi uma sujeira impressionante todo mundo que vai na rede já sabia e esperava, mas que a resposta à vitória de Dilma seria uma onda de preconceito e ódio quanto ao Nordeste do país e aos nordetsinos por terem votado nela, era algo que eu não esperava acontecer. Não desse modo. Acompanhei muita gente no Twitter falando sobre o assunto. A hashtag #orgulhodesernordestino virou um Trending no TT mundial pelo que soube, e isso ajudou a mostrar pra muita gente que o Nordeste tem uma voz. E uma voz ativa na rede. Era mais ou menos sobre isso que eu queria discutir nesse post, disposto em idéias bem desorganizadas e feito no ápice da insatisfação. Quero discutir sobre como a rede nos dá uma voz, e como o silêncio é perigoso. Espero que não esteja cansativo. A galera mais ativista e presente no Twitter diariamente tem feito um ótimo trabalho. Demonstrações assim (que eu tendo a evitar por ser mais reservado; sei, é um defeito) mostram pra gente como a rede pode contra-atacar ideias que prejudicam muito as pessoas. Idéias que machucam. Discursos que levam o ódio e estabelecem conflitos entre pessoas. O fato de que o Nordeste sempre foi a região menos favorecida do país é algo bem conhecido. A região tem os piores índices de desenvolvimento do Brasil, os investimentos do governo sempre foram menores (com uma mudança clara no governo Lula) e, colocando em termos bem claros, ninguém nunca deu a mínima para as famílias que morriam de fome por aqui durante muito tempo. O Nordeste sempre foi negligenciado pelo Brasil, e quando havia formas de colocar isso pra fora, externalizar a situação, a oportunidade era amputada, seja pela sensação de mais uma novela, ou mesmo pelo caráter cretino da mídia de massa desse país. Precisava (e ainda precisa) que venha um gringo –ou alguém que trabalha sob um olhar estrangeiro– pra gente enxergar as coisas de uma nova forma (leia esse texto da Al Jazeeratradução aqui), e ver que há mudanças, que há vozes ali a serem escutadas e vidas humanas a serem preservadas. Um pouco de minha insatisfação se deve ao fato de eu saber que há maneiras bastante eficazes de disseminar discursos que se oponham ao ódio na rede. Movimentos coletivos e com propósitos bem definidos e articulados de sensibilização podem atingir uma repercussão muito grande. Óbvio que isso não vai mudar o (mal) caráter dos racistas e preconceituosos, mas vai mostrar pra aquele que tá no meio do fogo cruzado que histórias sempre têm mais de um lado. Meu próprio trabalho no Global Voices me faz defender essas ideias com bastante afinco. Através do GV, uma multidão de pessoas passa a saber mais do Brasil do que apenas o tradicional e as commodities de notícias estereotipadas pela mídia de massa. Lá, aprendemos múltiplas histórias, diferentes percepções do mundo, e não deixamos o silêncio prevalecer. O que eu vejo que pode acontecer aqui no Brasil, é algo parecido com o que o pessoal da Libéria fez, com suas devidas dimensões e considerações é claro. O CeaseFire Liberia uniu a diáspora do país com os que ficaram/retornaram à Libéria quando a guerra civil acabou, e estabeleceu diálogos para mudanças positivas. Minha comparação tem um objetivo claro: falar pra essa galera do Nordeste que mora no sul do país que tome uma ação e divulgue o que há de bom por aqui, e que somos pessoas comuns e capazes, como qualquer outro indivíduo. Aos meus amigos do Sul, o dever de vocês é partilhar dessa empreitada, e mostrar que esse pensamento mesquinho não representa a sociedade sulista. Digo que isso é um dever, pois é obrigação de cada povo, de cada pessoa, defender a verdade. No dia que a gente fizer isso e deixar de ser conivente com as situações de desconforto, esse país vai mudar pra melhor de forma significativa. Em tempo… outro exemplo de que o silêncio faz mal, e mata pessoas: a posição equivocada da Reuters em publicar um texto sobre a execução de Sakineh Mohammadi Ashtiani no Irã e sequer mencionar formas em que a sociedade civil possa intervir pra salvar a vida dessa mulher. É disso que estou falando. O silêncio pode causar coisas muito ruins. Aproveita que você tem uma voz agora, e não deixe nada nem ninguém lhe calar. Pra concluir… peço perdão pelas ideias tão desorganizadas. Só queria falar algo, pois tenho visto tanta coisa boa em minha volta, tanta gente legal e interessante, tanta bondade no mundo e tanta vontade de mudar o que há de ruim, que sinto que essa contribuição tinha de ser repassada. De uma forma ou de outra, acho que minha mensagem pode ser sintetizada em poucas palavras: Eu não aceito o silêncio, não aceito inação, não aceito ódio. E vou usar tudo o que tenho em mãos pra lutar contra isso.

Forte abraço!