Lamentável, presidenta Dilma

Escrito en BLOGS el

Os leitores do Maria Frô acompanharam o quanto me coloquei à frente de uma campanha pelos direitos civis pra desconstruir a campanha adversária mais suja da história eleitoral brasileira. Serra fez uso do que havia de mais sórdido em termos de detratação e deturpação da história com o apoio irrestrito da grande mídia com destaque pra Folha, Veja, organizações Globo.

A Folha se esmerou na guerra: factóides em torno de dossiês, ficha falsa, acusação da então candidata Dilma Rousseff de sequestro, enfim esta empresa contribuiu diariamente para colar a pecha de 'terrorista' na candidata, invertendo - num revisionismo histórico de dar inveja aos nazistas - o papel das vítimas e dos algozes.

E, antes da campanha eleitoral em si, a Folha, que passou 8 anos tentando derrubar o presidente Lula, buscou no editorial mais vergonhoso depois do golpe militar negar a própria história, afirmando que o Brasil não viveu uma ditadura. Mas mesmo assim, apesar do monopólio da comunicação do Brasil em mãos de menos de uma dezena de famílias, a sociedade civil não fascista, os movimentos sociais e a blogosfera conseguiram eleger uma candidata com história e com projeto político progressista.

Essas eleições a meu ver mostraram que a mídia velha está ainda mais caquética e que se não fosse a chancela política e o seu financiamento em gordas contas publicitárias governamentais ela teria o peso real que tem: fala para os seus pares.

No decorrer de dois meses de governo da presidenta Dilma Rousseff (a quem como vocês sabem dediquei todas as minhas energias para elegê-la) fico procurando um sinal à esquerda, não encontro.

E ontem a minha contínua crença de que a política, mesmo aquela pragmática e cuja coalizão é necessária, pode ser um lugar de transformação, recebeu um duro golpe.

Não há ser neste universo que conseguirá me convencer da necessidade real de Dilma Rousseff  ter ido à festa de 90 anos da Folha de São Paulo e ainda por cima chancelar os barões da mídia com o discurso laudatório de liberdade de imprensa que proferiu. Lamentável, presidenta Dilma, lamentável.

Fiquem com o texto de Leandro Fortes, não precisaria acrescentar uma única linha. Sinto uma profunda #vergonhaalheia e muito, muito imbecil.

Dilma na cova dos leões

Por: Leandro Fortes em seu Blog

22/02/2011

Surpresa!

Na íntegra do discurso de Dilma Rousseff proferido na cerimônia de aniversário de 90 anos da Folha de S.Paulo, disponibilizado na internet pela página do Portal UOL, lê-se, não sem certo espanto: “Estou aqui representando a Presidência da República. Estou aqui como presidente da República”. Das duas uma: ou Dilma abriu mão, em um discurso oficial, de sua batalha pessoal para ser chamada de “presidenta”, ou, mais grave, a transcrição de seu discurso foi alterada para se enquadrar aos ditames do anfitrião, que a chama ostensivamente de “presidente”, muito mais por birra do que por purismo gramatical.

Caso tenha, de fato, por conta própria, aberto mão do título de “presidenta” que, até então, lhe parecia tão caro, este terá sido, contudo, o menor dos pecados de Dilma Rousseff no regabofe de 90 anos da Folha.

Explica-se: é a mesma Folha que estampou uma ficha falsa da atual presidenta em sua primeira página, dando início a uma campanha oficial que pretendia estigmatizá-la, às vésperas da campanha eleitoral de 2010, como terrorista, assaltante de banco e assassina. A ela e a seus companheiros de luta, alguns mortos no combate à ditadura. Ditadura, aliás, chamada de “ditabranda”, pela mesma Folha.

Esta mesma Folha que, ainda na campanha de 2010, escalou um colunista para, imbuído de sutileza cavalar, chamá-la, e à atual senadora Marta Suplicy, de vadia e vagabunda.

Essa mesma Folha, ora homenageada com a presença de Dilma Rousseff.

Digo o menor dos pecados porque o maior, o mais grave, o inaceitável, não foi o de submeter a Presidência da República a um duvidoso rito de diplomacia de uma malfadada estratégia de realpolitik. O pecado capital de Dilma foi ter, quase que de maneira singela, corroborado com a falsa retórica da velha mídia sobre liberdade de imprensa e de expressão. Em noite de gala da rua Barão de Limeira, a presidenta usou como seu o discurso distorcido sobre dois temas distintos transformados, deliberadamente, em um só para, justamente, não ser uma coisa nem outra. Uma manipulação conceitual bolada como estratégia de defesa e ataque prévios à possível disposição do governo em rever as leis e normas que transformaram o Brasil num país dominado por barões de mídia dispostos, quando necessário, a apelar para o golpismo editorial puro e simples.

A liberdade de expressão que garantiu o surgimento de uma blogosfera crítica e atuante durante a guerra eleitoral de 2010 nada tem a ver com aquela outra, defendida pela Associação Nacional dos Jornais, comandada por uma executiva da Folha de S.Paulo. São posições, na verdade, antagônicas. A Dilma, é bom lembrar, a Folha jamais pediu desculpas (nem a seus próprios leitores, diga-se de passagem) por ter ostentado uma ficha falsa fabricada por sites de extrema-direita e vendida, nas bancas, como produto oficial do DOPS. Jamais.

Ao comparecer ao aniversário da Folha, a quem, imagina-se, deve ter processado por conta da ficha falsa, Dilma se fez acompanhar de um séquito no qual se incluiu o ministro da Justiça. Fez, assim, uma concessão que está no cerne das muitas desgraças recentes da história política brasileira, baseada na arte de beijar a mão do algoz na esperança, tão vã como previsível, de que esta não irá outra vez se levantar contra ela. Ledo engano. Estão a preparar-lhe uma outra surra, desta feita, e sempre por ironia, com o chicote da liberdade de imprensa, de expressão, cada vez mais a tomar do patriotismo o status de último refúgio dos canalhas.

Dilma foi torturada em um cárcere da ditadura, esta mesma, dita branda, que usufruiu de veículos da Folha para transporte e remoção de prisioneiros políticos – acusação feita pela jornalista Beatriz Kushnir no livro “Cães de guarda” (Editora Boitempo), nunca refutada pelos donos do jornal.

A presidenta conhece a verdadeira natureza dos agressores. Deveria saber, portanto, da proverbial inutilidade de se colocar civilizadamente entre eles.