Leitura imperdível: Isoladas, a história de oito mulheres, criminalizadas por aborto

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Durante os longos séculos que vigorou a escravidão no Brasil os senhores tinham direito de vida e morte sobre seus cativos.

Criminalizar uma mulher que aborta é tratá-la como escrava, pois é decidir por ela o que ela pode ou não fazer com o seu próprio corpo.

Se esse deus cristão tivesse feito homem com útero duvideodó que aborto seria crime.

Reproduzo a seguir a introdução do livro Isoladas, a história de oito mulheres, criminalizadas por aborto. Elas fazem parte de um caso emblemático em Campo Grande onde 10 mil mulheres que abortaram foram acionadas pela Justiça.

Ouvir o relato de algumas delas podem ensinar muita coisa a todos nós. O livro pode ser baixado aqui.

Agradeço a dica da Dani Bado para o link do livro e reproduzo a seguir a introdução da obra com textos de Evanize Sydow e Beatriz Galli; entrevistas de Evanize Sydow e João Roberto Ripper e fotos de João Roberto Ripper.

Foto: João Roberto Ripper

Este livro tem como objetivo documentar, em forma de depoimentos, as histórias de seis das cerca de 10 mil mulheres que realizaram aborto em uma clínica de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, além de duas profissionais de saúde que trabalhavam no local.

Uma das questões presentes nesta documentação é a discussão sobre o estigma social pelo qual as mulheres ficam marcadas. O que isso representa para as suas vidas, como elas lidam com ele, de que forma isso mudou a convivência com a família, os amigos, os companheiros e no ambiente profissional são algumas das questões que poderão ser vistas a partir dos depoimentos, nos dando a ótica de quem passa pelo abortamento inseguro e como isso atinge o seu dia-a-dia.

Chegar a essas mulheres e convencê-las a, pela primeira vez, falar sobre o que passaram foi o nosso desafio maior. Elas vivenciam o estigma em suas diferentes formas. Foram cerca de dois anos buscando por essas personagens, tentando mostrar a elas que elas seriam respeitadas, bem como sua privacidade, tendo em vista que o maior medo que têm é que as pessoas mais próximas – familiares, amigos e colegas de trabalho – saibam o que passaram e as discriminem. Elas têm medo, têm angústia, têm dúvidas. Não sabem como aqueles com quem convivem reagiriam se soubessem. Todas elas têm filhos, são ou foram casadas, todas vivem em Campo Grande, uma capital que mantém o perfil de cidade onde todos sabem de tudo, daí a insegurança em serem reconhecidas e sofrerem ainda mais.

A partir dos seus relatos, esperamos desmistificar os tabus e preconceitos sobre o tema do aborto para que elas sejam vistas como mulheres comuns, mães, esposas, filhas, companheiras, que, em algum momento, optaram por não continuar a sua gravidez e que por isso passaram a ser consideradas suspeitas ou criminosas pelo Estado. Além disso, pretendemos provocar uma reflexão mais ampla e baseada em fatos reais sobre o impacto da criminalização do aborto para as mulheres e os vários níveis de estigma que elas vivenciam. Evanize Sydow Beatriz Galli

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