Lelê Teles: E no Cunha?

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E NO CUNHA? Por Lelê Teles

todas as linguas o mundo vai acabar, senhoras e senhores; um dia.

quando dizemos, o mundo, queremos dizer as pessoas que vivem neste mundo.

uma dia seremos marte, o planeta morte.

sem árvores e nem aves, sem gente, sem animais; apenas o solo nu, os leitos secos de rios e mares mortos, e as águas subterrâneas abundantes.

aí, astronautas futuros descobrirão nossa hidricidade, trarão argonautas, hidrólogos, exploradores de riquezas perdidas e recolonizarão.

depois virão arqueólogos escarafunchar os nossos escombros. escafandristas encontrarão ruínas imersas de redações de jornais; em cavernas, limparão a poeira que cobre algumas revistonas fossilizadas aqui e acolá.

em seguida, historiadores estudarão o achado e se perguntarão: ué, mas nessa data, em vários pontos deste globo estéril, em idiomas diferentes, todos falavam de um certo cunha, o Rato Inflável, mas nesta latitude, onde efetivamente vivia o Grande Rato, só ouvimos o silêncio?

por que diabos?

ao mesmo tempo, em algumas escavações, são encontradas múmias jornalísticas agarradas a um dvd com discursos de cunha pedindo o fim da corrupção e a destituição de uma presidenta.

mas com mil diabos, encucarão os estudiosos de outras estrelas, em todos os idiomas cunha é tratado como corrupto, menos no idioma que ele fala.

após recuperar imagens de TVs assistirão às raves cívicas, as festas do ódio e do palavrão, e verão uma gente branca vestida com camisas da CBF a bradar contra os corruptos e a exaltar o nome de cunha.

os especialistas das galáxias chegarão, infalivelmente, a esta conclusão: trata-se de um fenômeno de manipulação de massas, um simulacro criado por esses impressos toscos e por esses sinais de imagens primitivos.

até que um caçador de tesouros, encontra, por acaso, uma vala enorme repleta de esqueletos, e uma pichação numa parede ruinada: "aqui jaz uma malta de midiotas. morreram de ódio e oligofrenia, cometeram suicídio coletivo após a prisão de cunha, o ocaso de aécio e a eleição para um terceiro mandato do senhor lula da silva". . mas aí já estaremos em 2018; pois deixemos de futurologia e partamos para o hoje.

por um tempo interminável, a palavra corrupção ganhou as manchetes dos jornalões e as capas das revistonas.

quanto mais se efetuavam prisões de supostos corruptores e corruptos, mais se pedia prisões. prendiam-se até por engano, ou só para causar constrangimento em inimigos políticos. mesmo parentes de corruptos estavam a ser presos, filhos, esposas, cunhadas, vizinhos...

nas ruas, uma histeria coletiva: senhoras e senhores, trajados com camisas da cbf, batiam panelas, mostravam o dedo médio, chacoalhavam cadeirantes, constrangiam senhoras, vaiavam autoridades em restaurantes, aeroportos, aviões, casamentos...

um barulho infernal.

carros de jovens estacionados em vagas para idosos exibiam adesivos contra a corrupção, martas trocavam de partido por alergia à corrupção...

aí pagaram o cunha, ídolo de martas, com contas em bancos estrangeiros com, até o momento, uma movimentação bandida de 5 milhões de dólares.

quantas contas, em nome de quem estavam, qual a real quantia? lendo jornalões e revistonas você nunca saberá.

o silêncio é estridente.

se o cabra não lê em inglês, espanhol ou francês - e não lê os blogs sujos - não sabe quase nada do que está acontecendo com a vida de cunha, porque não teve capa de veja, de istoé, de época, de nada.

a própria ombudswoman da folha estranhou a cobertura dizendo que "é a essa imagem de condescendência interessada que a folha corre o risco de se ver associada com uma cobertura que parece não conferir o peso devido aos problemas de um dos principais personagens da crise política. não é necessário pesquisar muito para comprovar que o jornal já fez muito mais barulho com histórias menos comprometedoras e figuras menos controversas"

cunha, senhoras e senhores, foi pego com a boca na botija. as digitais dele constam em um enorme maço de grana suja, ele mentiu ao Congresso e...

cri, cri, cri...

bonner não faz biquinho no jn, malafaia não late, não se inflam bonecos, não se batem em panelas, revoltados on line se desconectam, os off line se escondem em casa, lobões não uivam, mervais não se emervam, jabores não jabam...

com mil diabos.

cadê a turma do ódio, onde foram os guardiões da moral e da ética? moura brasil, o jornalista com nome de colírio, aposta na cegueira dos haters e grita que cunha derrubará dilma antes de cair.

brasil quer que um bandido destitua uma mulher honesta, tal é a sua moral. esse pelo menos teve coragem de falar, e os que se calam, com que covardia e cumplicidade se calam?

cadê o pequeno kim, cadê marcello reis, cadê a barbie, por onde andarão aécio, sampaio, nunes, grillo, lobo, leitão...

antes, ao saber da denúncia de um corrupto inimigo, pululavam editoriais eloquentes, colunistas espumavam de ódio nas TVs, outros gritavam ironias em jornalões e revistonas; no rádio, a histeria se completava.

conteúdo de delações vazavam todas as sextas, às sextas também surgiam as revelações bombásticas, fontes em off oficializavam fofocas, até dentro de prisões estavam a colocar escutas, tamanha era a ânsia por audições.

e agora, cri, cri, cri...

nunca um silêncio fez tanto barulho.

nunca se sonegou tanto uma informação.

como pôde a revistaveja encontrar, na suíça, uma conta que o romário não tinha e não conseguir encontrar as contas que cunha, efetivamente, tem?

canalha do rabo fino, o nosso Rato Inflável, seguramente cairá atirando, do lado dele estão os paladinos da moral e dos bons costumes, e essa gente de bens, estridente, vociferante, gritona, aposta agora no silêncio do ex-ídolo.

não demora muito e pedem uma lei contra a delação premiada.

os que estavam sedentos pela carnavalização das revelações bombásticas e das estridentes deduragens, agora oram pelo silêncio môngico do escroque evangélico.

durma com um silêncio destes.

palavra da salvação.