Leonardo Sakamoto só erra em achar que as ações autoritárias da PM são recentes

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Leonardo só erra quando acha que é de agora que a polícia faz isso em São Paulo. Afora a manifestação de gente diferenciada em Higienópolis na qual a classe média não fascista desta cidade pôde se manifestar na rua sem levar porrada, todas as vezes que estive em manifestação a polícia mirou pra machucar em quem estava com a câmera na mão.

Lembro-me do meu estranhamento em ver jornalistas, repórteres e fotógrafos com máscaras cobrindo as manifestações. Rapidamente eu descobri o porquê: porque eles também eram alvos, embora não denunciam isso nos veículos que trabalham e em suas matérias que criminalizam quase sempre os movimentos sociais e as manifestações de rua.

Falei sobre o nível de violência absurda contra manifestações pacíficas da população de São Paulo há mais de 3 anos onde quase morri envenenada: Para o poder público de SP o povo é lixo e deve ser tratado a porrada e gás de pimenta.

Carlos Latuff cobrindo manifestação do Passe Livre anos atrás em São Paulo teve sorte, por muito menos eu levei muito spray de pimenta na cara.

Em Natal os meninos do #ExisteAmoremNatal acabaram por fechar um grupo de discussão porque a polícia usava o Facebook pra espioná-los e marcá-los.

Na repressão do dia 15 de maio em Natal a polícia não poupou jornalistas, apreendendo câmeras e fazendo ameaças explícitas aos manifestantes, como podemos ver na cobertura do blogueiro, jornalista e professor Daniel Dantas Lemos que ainda não sabe se se tornou testemunha ou investigado no processo Revoltados do Busão.

Talvez o que espante Sakamoto é que o alvo da censura e repressão de ontem tenha sido um jornalista da grande mídia, mas nem isso é recente. Repórter da Folha já levou bala de borracha na testa e blogueiros e jornalistas dos movimentos sociais só não se acostumaram com a truculência policial porque não podemos nos acostumar com ela.

Toda a nossa solidariedade ao jornalista detido, mesmo que alguns deles tenham por vezes abandonado o jornalismo para criminalizar os movimentos em suas ~matérias~.

Jornalistas são detidos em protesto em São Paulo: a PM tem saudades da ditadura

Por: Leonardo Sakamoto, em seu blog

12/06/2013 09:57

O que é parte da Polícia Militar de São Paulo tem na cabeça?

Não bastasse a violência desnecessária com a qual lidou com a manifestação contra o aumento nas passagens de ônibus e metrô, que percorreu a região central da cidade, na noite desta terça (11), a PM agora deu de deter jornalistas.

Durante os protestos, vários colegas, como o do jornal Folha de S. Paulo, foram detidos em flagrantes cenas de abuso de autoridade por parte da força policial, simplesmente porque estavam cumprindo o seu dever de registrar o que acontecia e divulgar à sociedade. Ao que tudo indica, os que pertencem a veículos grandes foram soltos. Já Pedro Ribeiro Nogueira, repórter do portal Aprendiz, continuava detido até a manhã desta quarta enquanto escrevo este post.

Durante a dispersão do protesto, duas jovens apanhavam de policiais quando Pedro aproximou-se para convencê-los a parar com aquilo. Ele fez uma escolha que nós, jornalistas, somos instados a tomar muitas vezes na profissão: ficar observando, tentando se portar como um narrador em terceira pessoa (em uma concepção fictícia de imparcialidade), ou assumir que fazemos parte de um tecido social e interagir com ele. As duas têm implicações éticas. Pedro assumiu a que considero a mais humana.

Como resposta, foi atacado por sete policiais e levado para a delegacia. Ele estaria sendo acusado de dano qualificado e formação de quadrilha. Do jeito em que as liberdades individuais andam por aqui, trabalhar em redação jornalística passará a ser em breve formação de quadrilha. Se sobrar redação depois dos passaralhos, é claro.

Conversei com representantes do jornalista. Segundo elas, Severino Pereira, delegado que está cuidando do caso, não aceitou recebê-las, muito menos testemunhas da prisão. Tentei contato com o delegado, mas sem sucesso.

Pedro estava onde um jornalista deveria estar na noite desta terça de São Paulo. E fez o que foi certo não apenas como profissional, mas como cidadão. E está sendo penalizado por isso.

Além do despreparo de pare da corporação para lidar com gente, a única coisa que posso vir a pensar é que isso é herança reafirmada de uma ditadura militar que pode até ter ido embora, mas deixou seus métodos enraizados em nossa democracia.

Mais do que um país sem memória e com pouca Justiça, temos diante de nós um Brasil conivente com a violência como principal instrumento de ação policial. Enquanto não acertarmos as contas com o nosso passado, não teremos capacidade de entender qual foi a herança deixada por ele – na qual estamos afundados até o pescoço e nos define. Foram-se as garrafas, ficaram-se os rótulos. A ditadura se foi, sua influência permanece. Não somos um país que respeita os direitos e não há perspectivas para que isso passe a acontecer pois, acima de tudo, falta entendimento. Além do mais, veículos de comunicação que se furtam a mostrar todos os lados do fato e, consequentemente, fica mais difícil angariar apoio da própria população.

O impacto desse não-apoio se faz sentir no dia-a-dia nos protestos de rua, nos distritos policiais, nas salas de interrogatórios, nas periferias das grandes cidades, nos grotões da zona rural, em presídios, com o Estado aterrorizando parte da população com a anuência da outra parte.

Se esse jornalista for mantido sob custódia, sugiro que os representantes dos governos estadual e municipal se furtem a dizer, nos eventos dos quais estão participando na Europa, que o Brasil é um país com liberdade de expressão. Pois eles não saberão do que estão falando.

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