.@LGVXavier: Dilma Foi a única que entendeu o artigo de FHC, ela quer conquistar a classe média

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O artigo do Luis Nassif:  Dilma e o abandono de sua base política - rendeu bons debates nas redes sociais, o @LGVXavier fez um longo comentário em resposta ao texto do Nassif que reproduzo abaixo, porque traz luz nova sobre a questão:

Por: Luiz Gustavo Xavier nos comentários do Blog

Alguns pontos que acho que devem ser considerados:

1 – Acho muito bom, em certo sentido, o papel desempenhado pela Dilma na relação com os partidos políticos. Não acho que ela ignore o Congresso ou aja como um Collor de saias que imaginara que podia governar sozinho com apoio do “Dr.”(sic) Roberto. Não subestimo a inteligência política da presidenta. Sua trajetória é política – claro,se não jamais assumiria a Presidência da República – , mas, não viciada em acordos. Dilma não conhece o mundo das negociações partidárias, das relações entre partido e base, da experiência parlamentar – e justamente por não se sentir parte deste mundo, que se sente mais independente dele. Além disso, os próprios partidos políticos vivem uma crise no mundo da política – será que são de fato tão representativos como foram no passado? Claro que não. Todos aderiram ao fisiologismo, ao pragmatismo, à cultura dos favores, ao “toma lá da cá”, ao abandono de princípios doutrinários e ideológicos e às lutas do passado, com exceção, talvez, do PSOL, que uma oposição necessária, lúcida, coerente, mas completamente fraca e incapaz de mobilizar a sociedade, como um dia foi o PT. E nesse sentido, longe dessa disputa, surge Dilma como alguém capaz de tocar o país longe desse submundo de balcão de negócios menos preocupada com o tal lema”em nome da governabilidade, abrimos as pernas”. Essa postura de independência com o Congresso é boa, saudável e configura, inequivocamente, uma mudança de postura histórica destes acordos que vem desde os tempos de Tancredo Neves, falso conciliador e oportunista, passando por Sarney, Collor, Itamar – a Erundina saiu do governo não por causa do PT, mas porque queria moralizar o governo por dentro – FHC e Lula. Dilma rompe com isso e sabe que tem um preço a pagar. E quer pagar.

2- No entanto, é realmente é preocupante a absoluta falta de diálogo do governo com os setores que a elegeram – e não falo do movimento sindical: acho, inclusive, salutar um governo que não queira cooptar os movimentos como fez o governo Lula. Com toda certeza, perderam muitas das mamatas que tinham e agora estão rancorosos com isso. Acredito que os acenos no primeiro momento ao “lado de lá” foram importantes e estratégicos para arrefecer o clima de discórdia, ódio, baixaria disseminada por José Serra. Distender essas linhas de extremismo à direita era fundamental para evitar um início de mandato cindido entre oposição e governo. Acho, ainda, que há uma estratégia quase matemática entre ela e Lula: Dilma avança onde o lulismo é barrado, procura atingir o “establishment” e acena para setores refratários ao PT e ao Lula. Enquanto isso, Lula faz o que gosta: a política pura, negociada, conciliadora – pelega ? – conversada, alimenta a base, afaga os aliados, bate na imprensa e na oposição, enfim, enquanto Dilma avança pro “lado de lá”, Lula tenta segurar o “lado de cá”. Mas, ao mesmo tempo, é preocupante que Dilma não tenha dado sequer nenhuma abertura aos setores que a elegeram. Os que se mataram por ela, os que perderam noite de sono com o medo da possibilidade de Serra vencer as eleições, a base social do governo Lula – todos eles, e no qual me incluo – estão indignados e perplexos com a absoluta falta de aceno do governo para com eles. A Comissão da Verdade só enrola, o marco regulatório das comunicações está atrasado, o PNBL é uma vergonha, o MinC é um retrocesso e Dilma não dá o menor sinal que vá em direção a esses problemas de ordem política. Isso é perigoso porque se Dilma precisar, e certamente ela vai precisar porque há um Congresso pronto para dar o bote na presidenta, não sei se movimentos sociais, blogosfera, estudantes e a própria classe média vai sair na rua para defender o seu governo, uma vez que foi totalmente esquecido por ela.

3 – O que me parece notório é que Dilma busca conquistar a nova classe média, apostando que Lula “segura” a base histórica. Parece-me que a presidenta foi a única que leu e compreendeu o artigo de Fernando Henrique Cardoso – ignorando os pobres, algo próprio do tucano – e chamando a atenção para essa nova classe média que poderia ser decisiva num processo eleitoral. A classe C é responsável por 78% do que é comprado em supermercados, 60% das mulheres frequentam o salão de beleza, utiliza 70% dos cartões de crédito no Brasil, responde por 80% das pessoas que acessam a internet, movimentando na rede “R$ 273 bilhões” por ano. Engordada pelos ex-pobres, a classe média somaria, hoje, 94,9 milhões de brasileiros. O equivalente a 50,5% da população do país. É um contingente econômico eleitoral enorme. Não é uma estratégia política burra. Acho bom que Dilma avance aí, mas, ao mesmo tempo, o governo se distancia cada vez mais daqueles que a elegeram e se sentem traídos. E aí que o problema de Dilma reside: os congressistas aliados alimentam mágoas, rancores e esfriam a vingança – se fosse só isso, tudo bem, Dilma teria sua base pronta para lutar. Mas ao manter a base cada vez mais distante, Dilma fica isolada e, se sua estratégia não der certo – mídia e classe média não dão apoio a ninguém, só querem saber do “seu” –, a governabilidade fica, de fato, comprometida. Lula foi covarde ao subestimar sua força popular em nome da governabilidade e não fazer mudanças estruturais que o Brasil precisava (Se Lula não fosse frouxo – e olha, que considero o maior presidente de todos, voto nele em qualquer eleição, defendo suas conquistas e seu governo com todo afinco – mas, repito, se não fosse frouxo, as lutas hoje seriam outras. Se Lula botasse para quebrar na lei de Mídia e na Abertura dos Arquivos da Ditadura e dos sigilos secretos, tudo seria diferente). Lula teve medo de abrir mão do seu capital político e enfrentar isso tudo. Dilma vai pelo mesmo caminho, mas com a absoluta falta de certeza do que virá a partir da próxima curva. Não custa Dilma acenar pro lado de cá, é só querer. Antes que seja tarde demais.

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