Lula: 'Quanto mais anos de estudo melhor é o seu nível de vida, e menor, o índice de violência'

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Lula: 'Quanto mais anos de estudo melhor é o seu nível de vida, e menor, o índice de violência'

Denise Ribeiro - Extra

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem dúvidas: o estudo é o melhor passaporte para o futuro. Por isso, ele aposta no ensino e, hoje, inaugura, ao lado do governador Sérgio Cabral, duas escolas no Rio - uma em Manguinhos, onde vive o menino Cristiano, que acabou virando símbolo do PAC na região, e outra no Morro Dona Marta. Em entrevista por e-mail, Lula diz que para acabar com a violência não adianta só comprar fuzis.

O senhor está inaugurando uma escola para os moradores de Manguinhos, que terá piscina para crianças como Cristiano. No entanto, obras do PAC na Baixada e Itaboraí estão paradas. O que o senhor pretende fazer para que as obras sejam concluídas nos prazos?

As obras do PAC no Rio de Janeiro vão muito bem. No Complexo do Alemão, 12% delas já estão concluídas. Na Baixada Fluminense e Itaboraí existem nada menos do que 34 em andamento. As obras de habitação e saneamento em Nova Iguaçu já estão com mais de 25% de execução. Há problemas em alguns municípios, como Duque de Caxias, com pendências de projetos e, em São Gonçalo, pois houve a necessidade de novas licitações. São problemas que independem do que queremos ou do que fazemos. Em todo o estado, são mais de duas centenas de obras do PAC, em vários estágios: em contratação, contratadas, em execução ou concluídas. Para este verdadeiro canteiro de obras espalhado pelo Rio, estamos destinando o montante de R$ 89,8 bilhões, até 2010. Para garantir ritmo acelerado para as obras, foi criado um grupo de trabalho, com representantes do governo federal, do Estado e dos municípios envolvidos, que se reúne regularmente para decidir como superar as dificuldades que aparecem a cada momento.


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Estamos destinando o montante de R$ 89,8 bilhões ao Rio, até 2010 "

Cristiano aprendeu a nadar e até já mudou de categoria. Mas perdeu o ano no colégio. Que conselho o senhor daria a jovens como ele?

Os jovens, como Cristiano, não só podem como devem praticar esportes - e foi para isso que construímos escolas com piscinas -, mas nunca em detrimento dos estudos. Os jovens têm direitos, mas também deveres. Têm o direito de ter acesso a boas escolas, com professores preparados, mas também o dever de se dedicar aos estudos. Está comprovado que quanto mais anos de estudo tem a população melhor é o seu nível de vida, e menor, o índice de violência reinante. É claro que é possível alguém se destacar mesmo com pouca escolaridade, da mesma maneira que é possível ganhar na Mega-Sena acumulada. Mas é muito mais difícil. A regra geral para um jovem vir a garantir no futuro um bom padrão de vida para ele próprio e para a mulher e os filhos é a dedicação, o esforço para concluir os estudos. Sabendo das dificuldades, principalmente dos mais pobres, nós procuramos, em meu governo, fazer a nossa parte. De 2003 para cá, nós simplesmente dobramos o número de vagas nas universidades federais e agora, em 2009, vamos inaugurar cem escolas técnicas e, no ano que vem, mais 50. Em um século, o país tinha construído 140 escolas técnicas e, agora, em apenas dois anos, vamos inaugurar 150. Este ano, vamos ter a formação do primeiro contingente de 56 mil jovens universitários do ProUni. Estou investindo pesado na educação porque acho que o jovem pobre tem, sim, todo o direito de cursar uma universidade ou escola técnica, da mesma maneira que um estudante abastado.


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Os jovens têm o direito de ter acesso a boas escolas, com professores preparados, mas também o dever de se dedicar aos estudos "

O senhor tem acompanhado as gravações do filme sobre a sua história? O que espera ver?

Não, não estou acompanhando porque não tenho tempo disponível e também porque, como me conheço, acabaria dando palpites, o que não é conveniente. A direção é do Fábio Barreto. Em relação ao roteiro, não li, mas sei que é baseado no livro da minha amiga Denise Paraná, que, claro, já li. Em relação ao livro, é evidente que eu fui ouvido, assim como meus amigos, companheiros e parentes. Isso aconteceu logo depois da eleição de 1989. Ela era minha assessora e acho que decidiu escrever a história da minha vida em um dia em que estávamos almoçando com outros assessores e eu não tirava os olhos de um copo de água mineral. Ela quis saber por que e eu expliquei que estava curtindo o fato de poder consumir água limpa. E contei que quando eu tinha 5 anos, era obrigado a beber água barrenta de um poço, disputando o espaço com vários animais. Ela achou incrível um cara que tinha acabado de receber mais de 30 milhões de votos se sentir feliz por uma coisa tão simples: ter condições de consumir água limpa. Sobre o que espero ver na tela, eu não quero nem pensar. O Fábio (Barreto) já disse que vai ser um filme emotivo, um filme sobre a relação mãe e filho. Já sei que pra mim vai ser muito difícil assistir - vou ter que fazer um check-up rigoroso, respirar fundo e, depois, deixar as lágrimas rolarem.

A Secretaria de Segurança do Rio diz que acabou com o tráfico no Dona Marta, mas o custo é alto para o governo. O senhor acha possível levar o projeto a outras comunidades?

O modelo adotado pela Secretaria de Segurança do Rio no Morro Dona Marta segue as diretrizes do Pronasci: as forças de segurança locais foram treinadas, com apoio do governo federal, em polícia de proximidade. Os policiais entram na comunidade e lá permanecem, em postos especialmente construídos na região. No ano passado, nosso governo investiu cerca de R$ 50 milhões no Rio, e boa parte dos recursos foi destinada à qualificação das forças policiais. O modelo carioca segue a proposta do Pronasci, de criar os Territórios da Paz, que já existem no bairro Santo Amaro, em Recife, no Complexo do Alemão, no Rio, e ainda em Rio Branco, no Acre. São regiões onde os governos municipais, do estado e da União se unem para implantar não só a repressão ao crime, mas a prevenção, trabalhando especialmente com os jovens. Pelo Pronasci, serão investidos R$ 6,7 bilhões até 2012. Antes, os fundos do governo federal para segurança eram direcionados aos estados - que têm o dever constitucional de oferecer segurança pública - para a compra de armas, munição, viaturas, coletes. E o crime não diminuía. Agora, com o Pronasci, há mais recursos, investidos com mais qualidade e envolvendo não só os governos estaduais, mas também as prefeituras. O governo federal dá as diretrizes, oferecendo 94 ações e projetos de prevenção e de combate ao crime.

O senhor sofreu com o Corinthians na Segunda Divisão, em 2008. Agora, tem o Vasco. Só a Beija-Flor dá alegria? Qual o recado para o time carioca?

É natural que nenhum torcedor fique feliz quando o seu time vai para a segunda divisão. A não ser, claro, se ele estiver na terceira. No caso do Corinthians, sofri muito quando houve a queda, mas foi por pouco tempo. Quando o time começou a jogar, foi só alegria.


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Vasco e Corinthians - vão permanecer na primeira divisão. Chega de gangorra! "

O Curingão foi uma máquina implacável, que garantiu o direito de voltar à elite do futebol muito antes do final do campeonato. Foi um passeio. E tudo na bola, honestamente, dando exemplo, sem jamais ter apelado para o tapetão. Em relação ao Vasco, é um time de tradições, de muitos títulos, e de uma história única no Brasil. Na década de 20, era um dos únicos clubes que admitia negros, mulatos, operários e suburbanos entre os jogadores. Quando foi campeão, em 1923, passou a ser discriminado por causa da origem de seus atletas e impedido de participar do campeonato com os demais times grandes. Para se impor, o clube desencadeou uma grande campanha de arrecadação de fundos entre as camadas mais pobres da população e construiu, em 1927, São Januário, na época o maior estádio da América Latina. E todo mundo teve que engolir o Vasco. A partir daí, não houve como impedir sua participação. Talvez tenha sido a primeira grande vitória da luta contra o racismo e a discriminação social. Quando o time voltar, e espero que seja este ano mesmo, os dois - Vasco e Corinthians - vão permanecer na primeira divisão. Chega de gangorra!


*O Curingão foi uma máquina implacável, que garantiu o direito de voltar à elite do futebol muito antes do final do campeonato. Foi um passeio. E tudo na bola, honestamente, dando exemplo, sem jamais ter apelado para o tapetão. Em relação ao Vasco, é um time de tradições, de muitos títulos, e de uma história única no Brasil. Na década de 20, era um dos únicos clubes que admitia negros, mulatos, operários e suburbanos entre os jogadores. Quando foi campeão, em 1923, passou a ser discriminado por causa da origem de seus atletas e impedido de participar do campeonato com os demais times grandes. Para se impor, o clube desencadeou uma grande campanha de arrecadação de fundos entre as camadas mais pobres da população e construiu, em 1927, São Januário, na época o maior estádio da América Latina. E todo mundo teve que engolir o Vasco. A partir daí, não houve como impedir sua participação. Talvez tenha sido a primeira grande vitória da luta contra o racismo e a discriminação social. Quando o time voltar, e espero que seja este ano mesmo, os dois - Vasco e Corinthians - vão permanecer na primeira divisão. Chega de gangorra!