Contraponto de Marcos Doniseti a Carlos Lopes: Dívida pública e gastos com juros tem forte queda desde 2003!

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Marcos Doniseti, via twitter, questionou o texto de Carlos Lopes: Governo gasta 196 bi com bancos e 4,7 bi de investimento até junho

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Reproduzo o texto de Doniseti para que os leitores tirem suas próprias conclusões.

Dívida pública e gastos com juros tem forte queda desde 2003!

por Marcos Doniseti, em seu blog

26/08/2012

Muito se comenta por aí sobre a questão do pagamento dos juros da dívida pública, em função do seu elevado valor nominal.

Mas a Mídia (que, neste país, mais desinforma do que informa) usa os valores nominais para falar a respeito do assunto, levando o público a formar opiniões totalmente equivocadas sobre o mesmo.

Exemplo disso, é que sempre que se divulgam informações sobre a dívida pública fala-se que ela subiu ou caiu e citam valores da ordem de R$ 1,8 trilhão ou R$ 1,9 trilhão.

E é claro que as pessoas pensam: 'nossa, que absurdo!', pois são valores muito elevados, até difíceis de serem imaginados.

Porém, quem trata seriamente do assunto e se informa sobre o mesmo, não usa valores nominais, mas sim o quanto a dívida representa em relação ao PIB.

Um caso desse tipo é um texto publicado no ótimo blog do Luiz C. Azenha, o 'Viomundo', a respeito da questão da dívida pública (ver link abaixo).

Mas o que interessa, mesmo, é a proporção do PIB que a dívida e os gastos com juros da dívida pública representam. O resto é asneira e perfurmaria.

É claro que o valor nominal da dívida aumenta sempre, todos os anos. Mas o mesmo acontece com o valor do PIB e da arrecadação de impostos do Estado brasileiro.

Então, o importante é saber qual é a proporção do PIB que a dívida e os gastos com a mesma representam. Daí, pode-se ficar sabendo se eles estão aumentando ou diminuindo, tornando-se possível tirar conclusões mais precisas sobre o tema.

E quando se fala sobre a questão da dívida pública também é preciso levar em consideração a inflação, que é de 5% ao ano, quando se fala sobre os valores nominais. Assim, se o Estado brasileiro, por exemplo, gastou R$ 100 bilhões com juros da dívida pública no ano passado e gastará R$ 105 bilhões neste ano, o valor real é o mesmo, pois temos que descontar a inflação. Então, o valor nominal aumentou, mas o valor real dos gastos com juros permaneceu o mesmo.

Por tudo isso, nenhum economista sério usa valores nominais quando tratam da questão da dívida pública. Usa-se, sempre, o valor em relação ao PIB, como fiz aqui.

Assim, na verdade, o quadro que temos a respeito da dívida pública brasileira é o seguinte:

1) A dívida líquida do setor público caiu de 51,5% do PIB pem 2002 para 34,9% do PIB em 2012 (redução de 32%);

2) Os gastos com juros da dívida pública caíram de 7,5% do PIB em 2003 para 4,5% do PIB em 2012 (redução de 40%);

3) A taxa Selic caiu de 12,5% ao ano, em 2002, para os atuais 8% ao ano (redução de 36%);

4) O déficit público nominal caiu de 4% do PIB para 2% do PIB atualmente.

Portanto, hoje, o Estado brasileiro tem uma situação econômica-financeira muito melhor do que aquela que Lula encontrou quando tomou posse na Presidência da República em 2003. Naquele ano o Estado brasileiro estava falido e eramos governados pelo FMI.

Agora, o Brasil é credor do FMI e o Estado recuperou a sua capacidade de investimentos, embora ainda a mesma esteja longe do ideal, pois mesmo com a redução da dívida pública ocorrida desde 2003, a mesma ainda é muito elevada, encontrando-se em 34,9% do PIB.

Enquanto isso, a imensa maioria dos países emergentes possui dívidas públicas que vão de 10% a 25% do PIB, no máximo, e é justamente por isso que eles tem uma capacidade de investimento bem maior do que a brasileira. Como eles devem bem menos do que o Brasil, então tais países (China, Índia, etc) podem tem um nível de investimento maior e, portanto, crescer mais rapídamente.

Aliás, foi justamente em função dessa melhoria da situação das contas públicas do Estado brasileiro que ocorreu a partir de 2003 é que foi possível, por exemplo, criar os PACs 1 e 2, criar e ampliar os programas sociais (Luz Para Todos, Bolsa-Família, ProUni, etc) e elevar os investimentos públicos (foram de 1,5% do PIB em 2002 e de 2,9% do PIB em 2010).

O grande problema de textos como os que a Grande Mídia divulga (e até mesmo o 'Viomundo') é, como eu já afirmei, que eles falam dos valores nominais da dívida e dos gastos com juros, o que é enganador, pois é claro que tais valores aumentam todos os anos.

Mas, o mesmo acontece com o valor nominal do PIB e da arrecadação do Estado. Eles também aumentam nominalmente em todos os anos.

Portanto, é bom ter cuidado e levar tudo isso em consideração quando vocês lerem algum texto que tratam do assunto.

Sempre procurem descobrir, no texto da notícia, qual é o percentual do PIB que a dívida pública ou os gastos com juros representam, pois é essa informação que permitirá saber se eles estão aumentando ou diminuindo.

O resto é enganação!

Link:

Gastos nominais:

Pagamento de juros cai, mas consome quase 24% dos gastos do governo

Dívida pública deverá cair para 31% do PIB em 2014

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