Nem garotada de grêmio escolar dá mais bola pra Veja

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A carta do professor Lino, que reproduzo no final do post, vocês já devem ter visto em outros blogs que tem compromisso com o fato, excetue da lista  os blogs da Veja e afins.

Diante de mais uma série de besteirol nas páginas de Veja a escola de minha filha abriu uma discussão para os pais no blog da instituição sobre o construtivismo, mas não deu a menor importância ao que a Revista Veja falou sobre o tema.

No mail enviado aos pais a escola   disse com todas as letras que não se daria ao trabalho de responder (todo mundo tem mais o que fazer que responder a Veja).

Para completar a cereja do bolo, o grêmio da escola, com garotos e garotas  na faixa de  14, 15, 16 anos na lista de discussão do grupo repassam a carta do professor Lino com a seguinte mensagem:

"Pessoal,

Segue abaixo a matéria desprezível que saiu há algumas semanas na Veja sobre construtivismo (a linha pedagógica seguida pela nossa escola) para quem quiser diminuir ainda mais o conceito que tem desse veículo de desinformação.

Anexa, a carta de um professor de psicologia na USP contestando a matéria."

Leo

Espantei-me em saber que o professor  Lino Macedo ainda lia Veja e guardava pelo folhetim da imprensa marrom alguma relação de respeito, pois as escolas sérias, adolescentes e até os minerais sabem: a Veja é só motivo de piada.

São Paulo, 10 de maio de 2010. Ao Senhor Diretor de Redação VEJA Caixa Postal 11079 CEP 05422-970 Fax: (11) 3037-5638 São Paulo, SP Prezado Senhor

Como antigo assinante desta revista e estudioso do Construtivismo, segundo Piaget, venho lamentar a publicação, em 12 de maio, da matéria “Salto no escuro”, escrita pelo Senhor Marcelo Bortoloti. Três semanas atrás, esta mesma revista, já publicara matéria contra o Construtivismo, escrita pelo Senhor Cláudio Moura Castro.

O texto do Senhor Marcelo Bortoloti é superficial, tendencioso e mal orientado. É isto que a Veja entende por jornalismo científico? Como posso continuar assinando esta revista e sustentar minha confiança em suas matérias, sobretudo naquelas em que me sinto ignorante, se - a respeito do que venho estudando desde 1968 -, o que observo é algo totalmente sem respeito? Indico abaixo os pontos de minha divergência como Senhor Botoloti: 1.  Não há dogmas no construtivismo;

2.  O construtivismo se caracteriza pela visão de enfrentamento (via realização ou compreensão) de problemas que requerem conclusão; se errada, o desafio é aprender com os erros:

3.  Culpar os professores que se dizem construtivistas e não compreendem o que significa, para dai concluir que o construtivismo é responsável pelo fracasso da educação brasileira é simplificador e torpe, próprio de quem escreve sobre aquilo que não entende e, pior que isto, escreve com a motivação de confundir e “desconstruir”;

4.  O quadro “A desconstrução do construtivismo”, em que este autor compara “pedagogia tradicional” X “construtivismo”, é de uma banalidade e falta de informação que causa dó e desrespeito em alguém minimamente informado sobre o assunto.

5.  Meu pressuposto, pautado no excelente trabalho da Editora Abril, com a Revista Nova Escola e outros projetos educacionais, era que ela valorizava e somava forças com esta imensa tarefa de defender uma escola para todos, apesar das dificuldades deste projeto. Com a publicação deste artigo e do anterior percebo que a Veja é contra esta idéia, sendo favorável ao “melhor da escola tradicional”, com sua visão determinista, favorável à seleção dos mais aptos, o que exclui a maioria de nossa população de crianças e jovens. Que pena!

6.  Culpabilizar, enfim, professores e gestores por suas dificuldades em aplicar idéias construtivistas, no Brasil, é injusto, superficial e tendencioso, pois não considera a complexidade de se aplicar princípios teóricos e epistemológicos à prática pedagógica; ignora, também, o muito que se tem feito e conseguido, apesar de tudo. Além disto, minimiza, vulgariza e desengana todos aqueles que, apesar da complexidade desta imensa tarefa, não desistem e aceitam o desafio de uma escola para todas as crianças e jovens.

Concluo informando que vou cancelar minha assinatura desta revista, porque perdi o respeito e a confiança que tinha por ela. Atenciosamente Lino de Macedo Professor Titular do Instituto de Psicologia, USP.