O que é mais importante nesta disputa eleitoral para o povo brasileiro?

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Plínio e a consciência tranquila

Por Carlos S. Bandeira*

Não tem jeito. Quando as eleições se aproximam, no seu ritmo, cada cidadão analisa o quadro e define uma posição. Ou a falta dela. De certa forma, mesmo sabendo que eleição só se sabe o resultado quando a população vai às urnas, o quadro atualmente parece desenhado.

Dilma tem os votos do setor beneficiado diretamente pelas políticas do governo Lula, além da maioria dos movimentos sociais e da esquerda brasileira. Aqueles que são frontalmente contra Lula, o PT, a esquerda, as lutas populares e qualquer avanço progressista vão com o Serra. Quem está me cima do muro, admitindo avanços no governo Lula assim como valores no governo FHC votam em Marina.

Um fenômeno interessante para a análise é o voto dado a Plínio de Arruda Sampaio. As pesquisas de opinião apontam que o candidato não chega a 1%, embora tenha participado de todos os debates na TV e tenha muito mais exposição do que seus pares da esquerda fora do petismo, como Zé Maria, do PSTU, Ivan Pinheiro, do PCB, e Rui Costa Pimenta, do PCO.

Plínio e seu partido, o PSOL, não tem grande base social organizada, que garanta uma votação relevante, tanto em quantidade como em acúmulo político. A maior parte dos seus votos virá da militância do seu partido. No entanto, ele tem a simpatia e deve ter apoio de um “voto de consciência”. Não necessariamente consciência da disputa política em jogo em 2010, mas algo ligado à relação do cidadão com o seu voto.

É composto por um setor mais radical da classe média, extremamente influenciado pelos jornais da grande imprensa, que participa majoritariamente da política nacional de quatro em quatro anos, nas eleições. Mais do que qualquer outra coisa, esse voto definirá se, nos próximos quatros anos, esse eleitor ficará - ou não – com a consciência tranquila.

Para isso, terá que encontrar um candidato que tenha ideias progressistas, quicá radicais, porque não pode passar por conservador ou pelego. Além disso, tem que ser alguém honesto, que não roube nem tenha apoio daqueles que são sabidamente perigosos ao erário. Melhor ainda se tiver uma história de moderação, para diminuir o peso das acusações de irresponsabilidade.

No fundo, o critério para o voto passa mais perto de uma avaliação moral do que política. Sendo assim, o melhor caminho é votar em um candidato que tenha os melhores predicados para satisfazer os seus pressupostos, independente de qualquer outra coisa. Se não tiver chance nenhuma de ganhar, é melhor ainda, porque será menor o risco de arrependimento.

Arrisco dizer que, tirando os votos dos filiados e da base social do PSOL, a maior parte dos votos recebidos por Plínio será desta natureza: o voto de consciência tranquila. Um voto que conforta na frente da urna, nas reuniões e nos quatro anos que se seguirão. É deitar na cama, lembrar da urna e dormir com a consciência tranquila... E esperar dias melhores.

O problema é que o nome desse jogo é política. E não se faz política para ficar com consciência tranquila. Envolve, antes de tudo, analisar o quadro e os riscos, acertar e errar. Ou seja, deitar a cabeça no travesseiro e pensar no que é necessário fazer no dia seguinte diante dos riscos que corremos com as nossas opções.

Eleições não foram feitas para fazer transformações na estrutura da sociedade, embora algumas exceções tenham conseguido romper algumas barreiras, mas ficaram longe de qualquer revolução. Por outro lado, são importantes e podem significar avanço ou retrocesso. O que deve orientar nesse jogo é a situação em que nos encontramos e o lugar onde queremos chegar, não a tranquilidade da nossa consciência.

Esses eleitores do Plínio não entendem – ou não querem entender – esse jogo. Não compreendem que as candidaturas da esquerda não-petista são cartas fora do baralho, não tem densidade nem importância na disputa central e fazem uma fumaça que embaralha ainda mais o jogo. São, sim, de fundamental importância, mas não para as lutas de todos que acreditamos em um país mais justo, mas para deixar a consciência de alguns tranquila.

Embora para alguns pareça óbvia a necessidade de apostar na construção de “outro caminho”, sem influência das forças dominantes, precisamos ver que está em curso nos últimos oito anos um projeto que torna mais agudas as contradições no campo da direta, dos inimigos do povo brasileiro. Isso não é pouco. E o poder das forças dominantes não será superado com discursos radicais, sem força social para sustentá-lo, ou apenas com críticas que apontem as contradições na esquerda petista.

Os desafios da classe trabalhadora nesse quadro não deixam esses eleitores do Plínio com a consciência tranquila, porque as mudanças não dependem deles. Diferente do voto, que depende apenas da opção de cada um de nós. Assim, o voto é visto como uma forma de marcar posição.

Diante disso, o dilema que abate a consciência do eleitor do setor mais radical da classe média, que lê os grandes jornais e participa, sobretudo, da política nas eleições, é o seguinte: cair no pragmatismo eleitoral (considerado como melhorismo ou peleguismo) ou optar pelo esquerdismo programático (ou sectarismo sem viabilidade)? A resposta tende a ser invariavelmente equivocada, uma vez que essa é uma falsa pergunta.

O que está em jogo nestas eleições é a disputa entre o pragmatismo eleitoral da coalizão representada por Dilma (que tem apoio daqueles que foram beneficiados pelas políticas do governo federal e da maioria das organizações da classe trabalhadora) e o autoritarismo neoliberal liderado por José Serra (que se caracteriza por ser contra Lula, o PT, a esquerda e os movimentos sociais).

Dessa forma, a questão central é: o que é mais importante nesta disputa eleitoral para o povo brasileiro? Como podemos impedir retrocessos? Como podemos impor derrotas ao nossos inimigos centrais? Qual a melhor opção para avançar? Só que, infelizmente, isso parece menos importante para aqueles que estão preocupados, antes de tudo, em ficar com a consciência tranquila. *Carlos S. Bandeira é jornalista