Olavo Brandão Carneiro: A direita e a esquerda atordoadas

Escrito en BLOGS el

Primeiras Impressões sobre as Manifestações de 17 junho 2013 Por: Olavo Brandão Carneiro*

20/06/2013

A direita e a esquerda atordoadas

A direita não sabe se ataca as manifestações, porque não gosta de povo na rua, ou se tenta aproveitar para desgastar o governo federal.

Já a esquerda, parece que anestesiada por achar que em 10 anos estava fazendo quase tudo certo, vê pauta histórica ir as ruas sem a sua ação protagonista.

Nesta segunda, 17 de junho, milhares de pessoas saíram às ruas em diversas cidades do país. Em que pese excessos reprovados pela grande maioria dos próprios manifestantes, foi uma festa democrática que há muito não se via no país.

As estimativas dizem que no Rio de Janeiro foram mais de 100 mil, em São Paulo 65 mil, Minas Gerais 20 mil, Brasília 10 mil.

Perfil dos participantes

As manifestações reuniram jovens, estudantes e trabalhadores, de classe média e de periferias, e pessoas de todo o tipo solidárias ao movimento por conta da violência da PM em São Paulo no dia 13 junho ou simpáticas a bandeira de redução das tarifas de ônibus. Sobre o perfil dos participantes ainda carecemos de mais compreensão e devemos levar em conta as diferenças regionais.

A pauta

Há um consenso de que a pauta de reivindicação é difusa e até de difícil percepção porque não é clara nem para os manifestantes. Porem, o que interessa é que as pessoas foram às ruas e portavam um sentimento de insatisfação. Outra dificuldade é identificar valores e princípios dominantes nas manifestações, se mais progressistas ou conservadores. A mídia bem que tentou (e tenta) colar nas manifestações o discurso do Cansei da juventude tucana que não mobilizava meia dúzia. Tentou também colar a pauta do "Custo de Vida" e da corrupção. Até agora sem sucesso.

Pode-se dizer que, a partir de SP, RJ e DF, que os temas mais presentes nas palavras de ordem, cartazes e conversas, significando uma difusa pauta foram: mobilidade urbana (redução de tarifa e tarifa zero), melhor saúde e educação (em alguns casos, como no DF e MG associado com os gastos com os estádios para a Copa do Mundo) e Fora Rede Globo. Outros temas estavam presentes, mas sem a mesma intensidade e recorrência.

A organização

Do ponto de vista organizativo a novidade é que após o fim da ditadura militar é a primeira vez que se observa no Brasil movimento de massa que não convocado, organizado e dirigido pelas organizações tradicionais como Partidos, Sindicatos e Movimentos Sociais. Neste sentido até ocorreram confrontos físicos com militantes partidários que tentaram tremular bandeiras. Materialização da já percebida descrença nos partidos políticos. O PT visto como igual aos demais, Psol e Pstu sem enraizamento, assim como partidos de direita. Muitos manifestantes já foram (e talvez ainda sejam) simpatizantes e eleitores do PT.

A quem se dirigia?

Outro aspecto interessante é que as manifestações não tiveram caráter anti-Dilma ou governo federal. No RJ muitas críticas ao governador Cabral e um grupo descontrolado se dirigiu a Alerj e promoveu depredação do prédio. Dia 24 próximo chamam pelas redes sociais ato na residência pessoal do governador. Em SP ataques ao governador Alckmim e ao prefeito Hadad e se dirigiram ao Palácio Bandeirantes.

O que fazer PT?

As instancias partidárias devem convocar reunião e as bancadas para avaliar a conjuntura urgentemente.

Partido e Governo devem construir ações concretas que dialoguem com as reivindicações de mais fácil percepção: Mobilidade Urbana. E também mais verbas para Saúde e Educação.

Como partido e governo é preciso contribuir com a politização e aproveitar para enfrentar algumas brigas com o grande capital.

Um pacote possível seria:

- introduzir no Estatuto de Juventude que tramita no Congresso Nacional mais direitos,

- cobrar do Congresso Nacional aprovação da destinação dos royalties do pré-sal para a Educação,

- aumentar a taxação dos royalties da mineração,

- taxar grandes fortunas destinando os recursos para Saúde e Educação.

*Olavo Brandão Carneiro – membro licenciado da Executiva Estadual do PT-RJ