Praça Tahrir: “8 de julho. Agora, viemos para ficar”

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Praça Tahrir: “8 de julho. Agora, viemos para ficar”

Por: Fatma Naib, Al-Jazeera, Tradução: Vila Vudu

8/7/2010

Praça Tahir, 08/07/2011, Foto: KHALED DESOUKI

Ativistas pró-democracia no Egito reiniciaram vasta campanha – nas ruas, online e por outros meios – para levar a multidão de volta à Praça Tahrir e ocupar novamente a área, em nova onda nacional de manifestações pacíficas.

“A revolução nunca terminou. Prosseguirá até que todas as exigências do povo sejam atendidas” – disse Abdelrahman Ghareeb, 26 anos, engenheiro de programação, que participa das manifestações na Praça Tahrir desde 25 de janeiro.

Seis meses depois daquele dia, o dia 8 de julho está sendo chamado “Dia do 1 Milhão de Egípcios na Praça”, manifestação que os ativistas esperam que seja o maior, desde que a revolução derrubou do poder o ditador Hosni Mubarak, no início de fevereiro. A manifestação visa a levar a julgamento e à prisão ex-funcionários do governo Mubarak que ainda participam do conselho militar que está governando o Egito desde a derrubada de Mubarak.

Como disse Mona Seif, ativista de direitos humanos, por sua página Facebook: “Dessa vez, estarei na Praça Tahrir desde a meia-noite. E vou para ficar.”

Seif, que organizou a campanha “Diga não aos tribunais militares para julgar civis”, tem chamado a atenção para várias prisões de civis, desde a revolução.

A campanha para “O Dia do 1 Milhão de Egípcios” ganhou impulso depois dos confrontos na Praça Tahrir entre manifestantes e forças da segurança dia 29 de junho, que deixou mais de 1.000 feridos.

A violência gerou tumultos que começaram em Suez, quando manifestantes tentaram invadir um quartel da segurança depois de o Tribunal ter libertado sob fiança sete policiais acusados de matar manifestantes nas manifestações do início do ano. Para muitos egípcios, esses eventos e outros semelhantes comprovam que nada mudou nos últimos cinco meses.

Durante a convocação para os protestos dessa 6ª-feira, 8 de julho, muitos ativistas modificaram seus perfis nas redes sociais, principalmente no Facebook, e introduziram um cartaz com as palavras “8 de Julho”.

“Voltaremos à Praça Tahrir, porque nada do que exigimos foi feito. Queremos liberdade, justiça social e igualdade” – disse à Al-Jazeera Gigi Ibrahim, ativista, 24 anos.

“Os corruptos continuam onde sempre estiveram, de Mubarak aos policiais que mataram manifestantes” – acrescentou ela.

E continuou: “A revolução já tem cinco meses, e o governo e o conselho supremo ainda não deram sinais de que querem ou pensam em tomar as medidas necessárias para fazer o que exigimos. Estamos voltando à Praça Tahrir e a outras praças, para pressionar e reafirmar os princípios pelos quais os egípcios lutam desde 25 de janeiro.”

Noor Noor, ativista, 20 anos, está desestimulado. Diz que nada mudou no Egito. Preocupa-o que o governo militar de transição esteja manipulando a narrativa das já históricas manifestações de janeiro.

“Acho que estão tentando nos fazer crer que a revolução terminou dia 11 de fevereiro, quando Mubarak foi derrubado. Não se vê qualquer movimento positivo de mudança” – diz Noor.

“Queremos lembrar o povo de que a revolução só começou e que temos de continuar até que todas as nossas exigências sejam atendidas”.

Ghareeb, o engenheiro de programação, disse que voltará à Praça Tahrir para protestar contra o que entende como tentativa do governo de usar o Judiciário para proteger seus apaniguados e encarcerar ativistas.

“Os tribunais militares para julgar civis têm de parar. Há centenas de civis presos, que não estão recebendo julgamento justo. Alguns deles além de inocentes, são revolucionários como nós, que puseram a própria vida em risco durante e depois da revolução por nosso país. Vivemos sob ditadura por tempo demais. Agora, a ditadura tem de acabar” – disse ele.

Quanto à ameaça de repressão violenta pelas forças policiais e no confronto com apoiadores do governo, a jornalista Sarah Abdelrahman, 23 anos, teme que a violência seja ainda maior, agora, do que no início do ano.

“Não tenho medo da brutalidade, porque já aprendemos a encarar o que vier, desde janeiro. Faremos o que tiver de ser feito até alcançar um Egito livre” – disse ela a Al-Jazeera, na 6ª-feira, 8 de julho.

“Estamos preparados. Eles vêm com as armas. Nós, com nosso sonho.”

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