Reforma agrária só sai com pressão, não com espião

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HUMOR: Entrevista com o “espião” no Incra

na Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária

19/12/2010

O jornal O Globo publicou reportagem com uma relevante “denúncia”.

O MST tem espiões dentro do Incra, que passam informações das áreas que serão desapropriadas para os trabalhadores rurais fazerem uma invasão ( a reportagem foi publicada neste domingo(clique aqui para ler).

A fonte da informação é a diplomacia dos Estados Unidos, em telegramas ao Departamento de Estado americano, revelados pelos WikiLeaks.

O Blog da Reforma Agrária divulga “entrevista” exclusiva bem-humorada com o tal espião do MST que “trabalha” no Incra.

Desde quando você é do MST?

Eu fui acampar em 1995. Aí a gente fez uma ocupação. Passei a participar da reuniões, pegar algumas tarefas. Até agora não saiu a terra. Então continuo no movimento.

E quando você entrou no Incra?

Várias vezes. A primeira vez que eu entrei no Incra foi numa ocupação. Logo depois da primeira ocupação de terra, em 97, a gente fez um protesto na frente do Incra. Aí o superintendente regional recebeu uma comissão do movimento. Depois entrei outras vezes, quando fizemos ocupações. E em algumas reuniões, pra cobrar a cesta básica que eles tinham prometido pros acampados. No ano passado, fui até no Incra na capital, quando ocupamos em agosto.

E o Incra passa informações pra você?

Sim. Eles dizem que o orçamento do Incra é pequeno, mas que eles se esforçam pra fazer a reforma agrária. Dizem que a reforma agrária não é prioridade do governo e que fazem o melhor possível.

E informações sobre as terras improdutivas, eles passam pra vocês?

Esses informações a gente que passa pra eles.

Como assim?

Uai, a movimento tem gente nos pequenos municípios, que sabe dos latifúndios, se produzem ou não, se o fazendeiro mora ou não mora na cidade, se não paga direito os funcionários ou se desmata. Todo mundo sabe na lá cidade.

Quem passa as informações pra vocês fazerem as ocupações?

Muitas vezes gente que já trabalhou nessas fazendas vão acampar com a gente. Às vezes, até o padre fala pra gente. Damos prioridade pra ocupar as áreas dos fazendeiros mais queimados na cidade. Aí é mais fácil sair a terra.

E o Incra?

O Incra vai na área depois da ocupação. Aí fazem a vistoria e os estudos. Aí cobramos pra saber se vai ser desapropriada ou não.

Como vocês cobram? E se o Incra não desapropriar?

Aí a gente ocupa de novo. Antes disso, fazemos audiências com o superintendente, pra saber do resultado da vistoria.

São informações sigilosas?

Sigilosas? Por quê? A gente fez a ocupação, cobrou a vistoria do Incra e queremos saber se a área vai sair ou não.

E os espiões?

Ixe, tem muitos. Mas desde que o movimento nasceu é assim. Parece que até na reunião de fundação do movimento, em 1984, tinha um P-2 da polícia.

Como que funciona? Passam informações?

Passam. Nos acampamentos, sempre tem espião, P-2, infiltrado. Eles passam informações dos acampamentos, dos protestos e das reuniões pra polícia. Pior é quando eles arrumam confusões pra atrapalhar o movimento. Mas isso faz parte.

Como faz parte?

Ah, qualquer organização de trabalhadores pobres passa por isso. A democracia no Brasil é bem nova, né? Esses métodos vem do tempo da ditadura. As autoridades têm dificuldades com a organização e lutas dos trabalhadores. Mas tentamos no proteger.

E os espiões do MST dentro do Incra?

Isso não carece não.

Por quê?

Reforma agrária só sai com pressão, não com espião.

Mas vocês não fazem ocupações combinados com o Incra?

Se fosse depender do Incra, a gente não faz ocupação nenhuma. Eles acham que vão resolver tudo na burocracia. Ah, se fosse pelo tanto de burocracia tinham assentado todas as famílias acampadas.

Mas como vocês escolhem as áreas pra ocupar?

É o que eu te falei. Nas pequenas cidades, todo mundo sabe as áreas que podem ser desapropriadas. Em cidades com menos de 20 mil habitantes, todo mundo sabe de tudo… Até se o fazendeiro é corno.

Mas os espiões dentro do Incra não informam as áreas que serão desapropriadas para vocês invadirem?

Se a área vai ser desapropriada de verdade, então a gente não precisa nem ocupar. Aí é só comemorar. Só que isso nunca acontece. Desapropriação sem ocupação? Se fosse assim, não precisava nem do movimento… Bastava o Incra. Sem ocupação, o Incra não trabalha e não tem assentamento. Parece que 80% das desapropriações só saíram depois de ocupações.