Stedile tem razão: é hora de lançar Lula presidente

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Stedile  tem razão: é hora de lançar Lula presidente

Iniciar imediatamente a campanha de Lula  fortalece a resistência ao golpe,  contribui  para reaglutinar o campo progressista e  impulsiona a reconstrução do  projeto democrático-popular

Julian Rodrigues, especial para o Maria Frô

Sexta-feira, 9 de dezembro:   mídia golpista divulga a informação de que Alckmin  (o “Santo” )  ganhou R$ 2 milhões. E Temer, Padilha e toda camarilha do PMDB receberam R$ 10 milhões da Odebrechet em 2014 – tudo em dinheiro vivo.

Em incrível coincidência, o Ministério Público protocola  na mesma data nova denúncia estapafúrdia contra Lula (e seu filho Luis Cláudio) por “tráfico” de influência na compra dos caças suecos. Detalhe: é público que o ex-presidente defendia a aquisição dos aviões franceses!

Acelera-se o golpe dentro do golpe. O governo Temer acabou e será formalmente  enterrado em 2017.  Vem aí eleições indiretas. O traíra deve ser substituído por algum tucano ou assemelhado, mais afinado com os banqueiros,  Globo e com os centros de poder norte-americanos.

O projeto dos golpistas é a destruição total das políticas sociais e  dos direitos trabalhistas. Um neoliberalismo ainda mais radical do que o aplicado nos anos FHC.  Querem entregar o petróleo do pré-sal (já mudaram a lei) e promover o desmonte absoluto dos direitos do povo.  Apresentam um  proposta de reforma da previdência  absurda, que  inviabiliza a aposentadoria dos trabalhadores – é privatização total do sistema. Tudo isso em velocidade alucinante.

Para concluir esse processo, não basta eleger indiretamente um presidente o ano que vem. Vai ser preciso mudar o sistema político-eleitoral para garantir que em 2018  não haja nenhuma possibilidade de que o campo popular vença a disputa. Há várias alternativas: podem aprovar o parlamentarismo, podem aprovar mudanças na lei eleitoral que inviabilizem a esquerda. Vale qualquer coisa.

Mas, resta um grande problema: o que fazer com Lula?

 Não querem correr o risco de enfrentar o ex-presidente em uma eleição, por mais manipulada que seja. Sabem que seus candidatos estão todos desgastados, seja Aécio, Serra ou Alckmin. Lançar Moro seria uma alternativa, embora arriscada - e poderia abrir ainda mais espaço para os setores fascistas (minoritários, mas em ascensão).

Enfrentar uma campanha contra Lula é um risco que não querem correr, mesmo depois de toda campanha midiática de desconstrução do maior líder popular do Brasil. Os golpistas sabem que em 2018 a economia estará ainda estagnada e os efeitos das políticas implementadas já serão sentidos pela grande maioria da população.

Daí que é preciso prender ou condenar Lula. Para eles, em nenhuma hipótese Lula pode ser candidato. Lula já

Nessa mesma sexta, 9,  começou a circular um vídeo no qual João Pedro Stedile  analisa  de forma direta e sintética o cenário e propõe uma tática imediata.

Para o líder do MST, o Brasil vive uma grave crise, semelhante a que vivemos nas décadas de 1930, 1960 e 1980. A burguesia deu um golpe para recuperar a taxa de lucro aumentando a exploração dos trabalhadores, se apropriando de recursos públicos e dos bens da natureza (petróleo, água).

O problema é que esse plano neoliberal só se completa com a inviabilização de Lula e a possibilidade da volta de um projeto comprometido com os trabalhadores. João Pedro defende que as forças populares devem ir pra rua, fazer luta de massas, resistir às medidas dos governos golpistas.

Entretanto,  isso não basta, é preciso garantir o direito de Lula ser candidato. E lançar sua candidatura imediatamente  para constranger a perseguição que está sendo feita. Mostrar para a “república de Curitiba” que não vão prender um ex-presidente, mas um candidato a presidente.

Por último, Stédile constata que o projeto do “neodesenvolvimentismo” se esgotou e uma candidatura Lula abre a discussão sobre as reformas estruturais, sobre uma reforma política de fundo. Como tirar a economia da crise, devolver a política para a sociedade brasileira, retomar um projeto que volte a desenvolver o país e resolver os problemas da classe trabalhadora. Stedile tem razão.

A reorganização do campo da esquerda se dará “a quente”, na resistência ao golpe, nas ruas, nas mobilizações contra o retrocesso brutal que está sendo promovido pelas classes dominantes.

A candidatura Lula pode colocar em movimento o campo democrático-popular, dando um sentido de unidade, apontando uma alternativa capaz de derrotar os patrocinadores do golpe midiático-parlamentar-judiciário.

A campanha Lula presidente irá colocar na defensiva  Moro e os bando de procuradores coxinhas. Criará um fato político, dará visibilidade a uma alternativa política de esquerda, quebrará o monopólio discursivo dos golpistas.

Além disso, lançar imediatamente Lula enfrenta a dispersão, a melancolia, a confusão, a “bateção de cabeça” entre nós.  Dá uma perspectiva imediata para a luta social,  que não pode ser apenas reativa.

Lula pode ser a reinvenção de si mesmo, e a própria atualização do projeto democrático-popular. Sua candidatura abre a possibilidade de uma renovação programática do PT e do nosso bloco, feita no calor do combate.

Balanço crítico e elaboração de uma nova estratégia junto com luta de massa e mobilização massiva, repactuando com o povão. Só Lula tem condições de liderar esse processo de reorganização e renovação da esquerda. E, ao mesmo tempo, denunciar o golpe e seu programa autoritário e anti-povo. Mãos à obra. Lula presidente! Já. 10/12/206

Julian Rodrigues, professor e jornalista, ativista LGBT e de direitos humanos, é militante do PT-SP.