Tisdall, no Guardian, sobre a Síria

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Tradução de trechos do artigo: Bashar al-Assad da Síria foi atingido pela 'gripe' da liberdade de Simon Tisdall no Guardian.

Bashar al-Assad da Síria foi atingido pela 'gripe' da liberdade Manifestantes anti-governo  gesticulam nas ruas de Deraa, na Síria. Foto: Anwar Amro / AFP / Getty Images

Simon Tisdall, Guardian, UK

26/3/2011,

(...)

“Como outros analistas, o Internacional Crisis Group (ICG) sugere que Assad, reconhecido por ser popular em seu país, pode sobreviver aos movimentos populares:

“Abre-se uma janela de oportunidades para introduzir mudanças no regime, e é preciso não perder tempo. Muitos grupos sírios – inclusive agentes do aparato de segurança – esperam ansiosamente que Assad assuma o comando e aceite imediatamente, antes que seja tarde demais, as mudanças pelas quais a rua síria clama e às quais, parece, não se opõe. Essa seria a melhor solução para impedir que as manifestações tomem rumo indesejado por todos, na Síria.”
Assad terá de mover-se rapidamente, porque já há comedores de carniça à volta da Síria.
Sem dar nomes, muitos grupos sírios e também o regime culpam grupos externos pela agitação de rua. A Síria tem velhos inimigos em Bagdá, em Riad e em Beirute que nada lamentariam o fim do governo de Assad. E tem, é claro, inimigos em Washington-Israel.
Falando de Telavive anteontem, Robert Gates, secretário de Defesa dos EUA, conclamou o exército sírio a rebelar-se contra Assad “como aconteceu no Egito”.
Disse Gates: “Eu diria que o governo sírio enfrenta desafios idênticos ao que outros governos enfrentam na região, a saber, o sofrimento de seu próprio povo, com dificuldades econômicas. Alguns países conseguem lidar melhor que outros com as dificuldades e desafios. Estou vindo do Egito, onde o exército alinhou-se ao lado do povo e não impediu manifestações populares e, de fato, conseguiu tornar vitoriosa a revolução popular. Os sírios têm muito a aprender com os egípcios.”
Steven Cook, do Conselho de Relações Exteriores dos EUA, obrou na mesma linha, tentando despertar velhas rixas sectárias na Síria. Na Síria, os curdos sunitas ressentem-se de serem governados pela dinastia alawi, minoritária. Cook trouxe à baila supostos benefícios internos e bem evidentes vantagens externas que a Síria alcançaria, com a queda do governo de Assad. Na prática, cutucou os grupos sectários e chantageou a Síria:
“Um novo governo, decente, democrático, na Síria, alteraria o equilíbrio regional e melhoraria as chances da paz regional”, disse Cook. Falava, evidentemente, de Israel-palestinos. Em teoria, uma Damasco ‘ocidental’ seria má notícia para o Hezbollah, o Irã e os palestinos; e, claro, seria boa notícia para os EUA-Israel, ditos, quase sempre “o ocidente” ou “a comunidade internacional”.
Mas há inúmeras razões pragmáticas e estratégicas pelas quais o ‘ocidente’ muito teme os resultados ainda imprevisíveis de uma revolução na Síria. Dentre as principais, o surgimento de melhor democracia na Síria, nas fronteiras de Israel e do Iraque, e o precedente democrático que se estabeleceria em confronto com a Arábia Saudita – o posto de gasolina de Washington e do ‘ocidente’.
Se a Síria, que é muito mais importante, na escala regional, que a Líbia, e ameaça muito mais diretamente Israel, alcançar qualquer melhor democracia, numa transição pacífica, com Assad ou sem ele, mediante levante civil ou pela via de reformas que Assad conceda ou o povo conquiste, as ‘potências ocidentais’ terão motivos muito mais poderosos para atacar a Síria... do que tiveram para sua leviana, mal pensada, temerária invasão à Líbia de Muammar Gaddafi."