Um debate entre Maringoni e Valter Pomar, parte 2: a tréplica de Maringoni

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Além da impressionante greve dos garis no Rio de Janeiro nada mais interessante na rede de fazer inimigos também conhecida como Facebook, a não ser a a continuação do debate entre Maringoni e Valter Pomar iniciado aqui Um debate entre Gilberto Maringoni e Valter Pomar

PS. Neste post reproduzo a tréplica de Maringoni, no próximo a resposta de Valter Pomar, a 'quadréplica'. Quem sabe ao lê-los os militantes de ambos os partidos que não raramente se excedem em agressões aprendam a divergir com civilidade.

UM DEBATE COM VALTER POMAR Meu amigo Valter Pomar, do PT, escreveu respeitosamente, contestando mensagem por mim postada aqui há dois dias.

Valter é um ótimo interlocutor. Segue aqui minha resposta. Pode ser do interesse de pouca gente, mas não posso deixar de publicar aqui.

Caro Valter, espero que você esteja bem.

Somente agora posso responder às suas mensagens.

Novamente agradeço a atenção e o tom respeitoso de suas réplicas.

Não é algo de menor importância.

O que menos contribui para qualquer debate – especialmente naqueles que buscam pontos de contatos nas idéias – é o tom de valetudo que muitas vezes se espalha pela rede.

Tenho afinidade com várias de suas concepções. Penso até que na seara internacional nunca tivemos algum tipo de diferença. Falamos a mesma língua.

Nossas discrepâncias estão na política interna, especialmente no papel do PT. Eu não acho que o ciclo histórico do partido tenha se esgotado. Você também não.

A divergência está em ver o PT como pólo transformador e veio principal para a rearticulação da esquerda socialista brasileira.

Essa possibilidade é praticamente inexistente hoje. Se em quase 12 anos e em situações de aceleração econômica o partido não fez isso, não o fará num cenário de retração da economia mundial.

Dito isso, confesso que não consegui ser breve nesta mensagem.

Ainda assim, minhas opiniões seguem abaixo.

1. Você diz que minha afirmação sobre “blogueiros das franjas petistas – que podem ter ligações com o aparato de segurança do governo – como Paulo Henrique Amorim, Eduardo Guimarães e Antonio Lassance” é uma especulação sem fundamento.

Sinto, mas prefiro manter minha desconfiaça alerta. Em junho do ano passado, tive uma ácida discussão com Guimarães aqui pelo FB. Antes dos black blocs começarem suas arruaças, quando havia poucos provocadores nas manifestações, Guimarães afirmou que os manifestantes portavam coquetéis molotov nas mochilas. Eu o desafiei a provar a afirmação. Ele demorou, demorou e depois me apareceu com a declaração do comandante da PM, dada a um jornal, para corroborar sua sentença. Denunciei imediatamente que ele – ausente dos atos – se valia da palavra da polícia para comprovar suas acusações.

Amorim, por sua vez, em 27 de janeiro deste ano, sapecou em seu blog uma manchete digna de nota: “Não vai ter Copa é um movimento terrorista!”. Deploro a palavra de ordem “Não vai ter Copa”. Mas chamar o movimento de terrorista significa adentrar um terreno perigoso.

Pois logo em seguida, setores da direita no Congresso – alguns da base aliada e pelo menos um senador petista – começaram a articular a aprovação da lei antiterror.

Já Lassance, em 11 de fevereiro, soltou uma pérola, na Carta Maior: “A conivência do PSOL com os black blocs”. Talvez este tenha sido o pior. Deu a senha – ou a “linha”, como se dizia em outros tempos - para os destrambelhados ataques da Globo e da direita contra nosso partido e, em especial, contra Marcelo Freixo.

Foi o que bastou para que Alckmin, ato contínuo, desatasse aquela ação alucinada do batalhão Ninja, elogiada pelo ministro Cardozo e pelo prefeito Haddad.

Se não há articulação entre essas pessoas, setores da direita e os órgãos de segurança, então as coincidências entraram numa conjunção astral extremamente singular.

De minha parte, prefiro manter minha desconfiança ligada.

2. Realmente não há uma articulação com dirigentes do PT envolvidos. E eu nem falei isso. Ressaltei que se tratava de setores nas “franjas” da agremiação. Aliás, o PT do Rio, o senador Lindberg Farias e o ex-ministro José Dirceu, entre outros, tiveram um comportamento exemplar ao externarem solidariedade ao PSOL.

3. Você fala que “O problema é que você subestima a irritação que o PSOL, ou setores do PSOL, causaram ao PT nos últimos anos. É óbvio que quando pinta uma "deixa" (Ucrânia, ditadura ou o que seja), vão aparecer muitas pessoas que aproveitam a oportunidade para fazer suas críticas”. Aqui você pode ter razão. Eu, por exemplo, acho que o PSOL deveria se solidarizar com os réus da AP 470.

Mas isso é parte da história. Entendo muitos camaradas do PSOL em sua antipatia ao PT. Nosso partido surgiu quando o PT expulsou quatro parlamentares – Heloísa Helena, Babá, Luciana Genro e João Fontes – que se recusaram a votar na reforma neoliberal da Previdência, em 2003.

Convenhamos, querer que companheiros tratados dessa forma passem uma borracha no passado e vejam o PT como a oitava maravilha é algo difícil. Daí vários dos ataques do PSOL ao PT.

Eu, pessoalmente, não faço política com o fígado e não acho essa a melhor conduta. Mas entendo o que se passa. E também não subestimo a bronca que alguns petistas têm do PSOL.

Mas todo mundo é crescido, Valter. Se ficarmos nessas – de administrar os potes até aqui de mágoas – não avançamos.

4. Não minimizo as posições de um filiado do PSOL sobre golpe e nem a de um agrupamento sobre a Ucrânia. Assim como você não pode minimizar a política macroeconômica abertamente liberal do governo petista, as ações de gente como Paulo Bernardo, Gleisi Hoffmann, José Eduardo Cardozo, a manutenção da política privatista, os favores dados ao grande capital ou o fato de o PT ser vice na prefeitura do Rio, que trata os garis como estamos vendo nesses dias, para ficarmos em poucos fatos.

5. Aqui está o busílis da questão. Devemos colocar o debate no ponto certo, na política e não na moral ou nas mágoas.

6. O que petistas têm feito pela rede? Tomado manhosamente a parte pelo todo. O filiado que quer um golpe já vira a posição do PSOL. A nota de uma corrente sobre a Ucrânia já se torna a deliberação oficial do PSOL sobre o tema. Esse é um ataque em bloco.

7. Não faço isso com o PT. O ciclo petista não se esgotou. Mas a possibilidade de o PT conduzir transformações mais profundas na realidade brasileira não me parece muito alentadora, não.

8. Agora, repito sempre: o PT pode não ser de esquerda. Mas o antipetismo é sempre de direita. Os governos petistas são muito diferentes e melhores daquilo que os do PSDB e do que o resto da direita fez. Isso não quer dizer que tenham sido gestões de esquerda. Uma das maiores provas disso é o fato de você – um dos melhores e mais preparados quadros da esquerda brasileira– sequer ter sido cogitado para exercer função decisiva nas administrações de Lula e Dilma.

9. No fim, você me faz uma saudável provocação: “Na hipótese de ocorrer segundo turno, na hipótese de Dilma estar lá contra Aécio ou contra Eduardo Campos, na sua opinião o PSOL deveria apoiar Dilma?”.

No segundo turno de 2006, 2010 e 2012 (prefeitura de SP), votei no candidato petista contra a velha direita. Não foi fácil, mas era a única opção, pois sei o que é a direita brasileira e estou vendo o cenário mundial.

Espero não repetir esses votos.

O motivo é simples: quero votar em Randolfe Rodrigues no segundo turno.

Nunca anulei meu voto. Sempre votei contra a direita.

Forte abraço,

Gilberto Maringoni

PsS. Não ataco o PT em bloco. Ataco sua direção e o PT realmente existente no governo federal. Se, por acaso alguma passagem de meu texto deixa transparecer um ataque genérico, isso é fruto de minha má redação. Acesse aqui a resposta de Valter Pomar