#VemPraRuaAécio #VemPraRuaFHC

Escrito en BLOGS el

Nunca havia lido um texto do Aécio Neves. Pelo que vemos aqui abaixo, a impressão é que o pensamento daquele que parece ser o nome do PSDB para 2014 (um sujeito que, ademais, quer ser presidente do Brasil há muito tempo, e pensamos que deve ter se preparado para isso) é bastante simplista.

A coluna dele na Folha parece uma colcha de retalhos de todos os novos mantras dos blogueiros da Veja e da mesma Folha desde que começaram as manifestações. A alusão ao vídeo da Marilena Chauí para justificar um suposto ódio do PT à classe média, e com isso alimentar o ódio da classe média contra o PT, é bastante previsível, para dizer o mínimo.

A única coisa surpreendente no artigo do tucano mineiro - surpreendente e hilária -, é o último parágrafo: "Com 82 anos de idade, Fernando Henrique com certeza faria bonito na avenida Paulista, na Rio Branco ou na Afonso Pena dos dias de hoje".

Sério mesmo que o Aécio acha que o FHC vai pra rua e cai nos braços do "povo"? Então, por que não vai? Por que o FHC não desce do seu luxuoso apartamento em Higienópolis e vai caminhar junto com a moçada do MPL, para defender o direito à cidade para os moradores da periferia? Por que o FHC, que defendeu o voto popular nas Diretas, não defende agora esse mesmo voto popular, e a importância das decisões do povo, apoiando o plebiscito, e não se escondendo atrás do referendo que, hoje, representa o mesmo que as eleições indiretas representavam em 1984?

E por que ele mesmo, Aécio Neves, não sai às ruas de BH, inclusive para defender o povo mineiro que apanha da PM mineira e por ela é jogado viaduto abaixo? E o seu grande amigo José Serra, que fez até um Roda Viva especial com ele mesmo, no canal de sua propriedade, para pautar e definir da sua forma particular essa nova onda de manifestações? Por que não vem também?

Fica aqui o desafio. Que não sejam só palavras: #VemPraRuaAécio #VemPraRuaFHC.

 

Classe média Aécio Neves, em sua coluna na Folha

Se os partidos brasileiros, sem exceção, saem politicamente abalados do saudável vendaval de passeatas no país, um deles certamente se ressente mais: o PT.

A presença maciça da classe média no movimento de protesto coloca em xeque, com mais ênfase, as contradições do partido.

Pressionado a oferecer respostas ao país, o governo federal improvisou uma constituinte restrita, rapidamente abandonada, e busca, por meio da proposta de um plebiscito de complexa elaboração, aprovar uma agenda que interessa muito mais ao PT do que ao Brasil.

Assim, o governo federal patrocina manobras que visam tirar o foco das legítimas reivindicações apresentadas pela população, oferecendo justamente mais daquilo de que os brasileiros demonstram estar fartos: desrespeito.

No recente evento dos dez anos do PT, a filósofa petista Marilena Chaui afirmou, sob aplausos, que odiava a classe média. E explicou: "A classe média é estupidez. É o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista. É uma abominação política, porque ela é fascista, uma abominação ética, porque ela é violenta, e é uma abominação cognitiva, porque ela é ignorante".

O leitor ficou chocado? O vídeo está no YouTube. Juntando-se essa fala raivosa e os protestos nas ruas, a conclusão é inevitável: o PT não gosta da classe média e por ela parece estar sendo correspondido na rejeição.

Os jovens questionam a forma tradicional de fazer política quando gritam: "O povo unido governa sem partido". A grande maioria deles nada tem de fascistas ou reacionários. Estão apenas expressando suas compreensíveis frustrações. Os manifestantes se insurgem contra os aproveitadores que viraram políticos, políticos que se elegeram governantes, governantes que se esbaldaram na corrupção, corrupção que impede a melhoria do transporte, da saúde e da educação. Uma ciranda como no poema de Drummond cujo nome é "Quadrilha", muito a propósito.

Um bom contraponto à intolerância de Marilena Chaui é um texto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de 2011. Nele, foi enfatizada a necessidade de maior diálogo com a classe média: "O caminho não se constrói apenas por partidos políticos, nem se limita ao jogo institucional. Ele brota também da sociedade, de seus blogs, tuítes, redes sociais, da mídia, das organizações da sociedade civil, enfim, é um processo coletivo. Não existe só uma oposição, a da arena institucional; existem vários focos de oposição, nas várias dimensões da sociedade".

Com 82 anos de idade, Fernando Henrique com certeza faria bonito na avenida Paulista, na Rio Branco ou na Afonso Pena dos dias de hoje.

AÉCIO NEVES escreve às segundas-feiras nesta coluna.