Vivi para ver Nahas, Dantas e Pitta na cadeia e para ouvir a Lúcia Hippólito ter de elogiar a PF

Escrito en BLOGS el
Atualizado às 18:33

Em menos de seis anos completarei meio século de vida. É, já estou velhinha e, na melhor das hipóteses, (para quem deseja viver cem anos) estarei na metade do meu ciclo de vida.


Nasci bem próximo ao golpe militar, passei, portanto, toda minha infância e adolescência sob o regime da ditadura militar.
Quando entrei na universidade, lutei pela democratização de meu país, fui às ruas com milhões de outros brasileiros e como eles, queria eleger meu presidente e também meu o governador e o prefeito de minha cidade (em área de segurança nacional também governadores e prefeitos eram cargos biônicos).

Vivi muitas coisas. Em poucas décadas vi ocorrerem mudanças inimagináveis: em 23 anos de nossa história recente um partido com base na esquerda foi criado e conseguiu eleger para ocupar o cargo máximo do país um ex-torneiro mecânico. Seu governo é bem menos do que eu esperava, mas é mais do que os detratores alardeam. Gostem ou não, sua eleição, reeleição e o massivo apoio popular deste migrante nordestino são simbólicos.

Símbolos de uma trajetória de superação da exclusão e de obtenção do empoderamento. O ex-retirante que no dia de sua formatura no Senai veio todo sujo de graxa para casa (em fins dos anos 1960, isso era sinal de uma imensa conquista para um pernambucano que foi parar em Santos com a mãe e seus muitos irmãos atrás do pai estivador) representa o avesso do que 90% dos ideólogos que se manifestam na mídia corporativa esperam e imaginam de um presidente da República.

Eike Batista ri à toa com os lucros estratosféricos que suas empresas vêm-lhe proporcionando, a elite dominante (especialmente a econômica) não tem do que reclamar deste governo, mesmo assim, ela se incomoda com o fato do ex-torneiro não ter curso universitário, não falar inglês e francês. Opõem-se ferrenhamente à implementação das tímidas políticas sociais (para alguns assistencialistas) deste governo. Para esse grupo Lula simboliza o acesso da 'gentalha' ao poder. "Isso não pode, assim não dá" como diria a caricatura do sociólogo da Sorbonne no Casseta & Planeta.

A contragosto deste grupo que tem seu olhar e coração voltado para o mar, mirando Londres, Nova York ou Paris, eu vi Maluf parar na cadeia, o juiz Lalau e a dona da Daslu também. Vi muitos prefeitos terem o mesmo fim, assim como bicheiros, traficantes de drogas e outros bandidos da pesada com colarinho branco ou sem colarinho.

Vi Maria da Penha sendo indenizada e uma lei aprovada para celebrar sua luta e buscar coibir ou ao menos garantir a punição ao sexismo criminoso.

Vi uma parcela mais consciente da sociedade se organizar em defesa da pesquisa científica com células-tronco se opondo contra os fundamentalistas cristãos. Vejo a mesma parcela se unir para aprovação de leis para punir homofóbicos e descriminalizar o aborto que mata tantas mulheres negras e pobres. Vejo nas inúmeras petições que assinei vários nomes persistentes: em prol das cotas, do estatuto da igualdade racial, a favor dos direitos indígenas, contra o trabalho escravo, contra a criminalização do MST, em defesa da liberdade do conhecimento na Internet...

Ainda espero viver para ver a homologação definitiva da Raposa Serra do Sol e a expulsão dos seis arrozeiros latifundiários das terras indígenas. Espero também ver alguns promotores aloprados serem punidos, os movimentos sociais com direito de se manifestarem e a efetiva realização da reforma agrária constitucionalmente garantida.

Vejo com certa tristeza algumas longas permanências que desejava já fossem objeto de estudo dos historiadores: um racismo renitente e muita gente equivocada se opondo às medidas que pretende combatê-lo por meio de ações afirmativas; uma polícia militar e civil (e até mesmo um exército) que nos envergonha, porque agem como se estivéssemos em Estado de terror: atiram depois perguntam, enxergam todo e qualquer negro como suspeito, negam aos favelados seus direitos civis.

Vivemos realmente tempos ricos de polarização e embates. Historicamente quando os valores humanos e sociais prevaleceram a sociedade se tornou mais democrática. Eu espero com toda a força do meu ser que mais gente veja como um valor precioso da humanidade o direito de todos de viver com dignidade, com respeito e que enxerguem que tanta desigualdade impede a construção de uma sociedade democrática.

Queria viver para ver a renovação do Senado, para não ter mais de assistir Mãos Santas, Heráclitos, os ridículos e desvairados arroubos dos Virgílios. Também gostaria de viver para ver uma classe média mais renovada, com consciência cidadã, que tivesse noção de pertencimento ao país e se visse como parte do povo da nação brasileira, que construísse identidade e abraçasse a noção do público.

Mas enquanto as mudanças que desejo não ocorrem, hoje comemorarei as mudanças concretas ou simbólicas que venho assistindo e, especialmente, celebrarei o fato de ter sido testemunha ocular de mais uma ação da melhor instituição de meu país. Falo da Polícia Federal, falo do seu empenho como instituição diferenciadíssima das demais instituições públicas deste país, cujo trabalho efetivamente é voltado para a defesa do interesse público.

Enquanto parcela do MP envergonha a Justiça brasileira, vejo a Polícia Federal defender os interesses de todos os cidadãos brasileiros de bem (trabalhadores honestos, pretos ou brancos, mulheres ou homens que vivem realmente do suor do seu trabalho).

Foram os agentes da PF que investigaram a sonegação da Daslu e levaram à cadeia sua dona; que prenderam Maluf e seu filho, que desmontaram máfia do futebol, a corrupção em órgãos públicos, que prendeu políticos e promotores pedófilos que exploram a prostituição infantil, que buscou prender Law Kim Chong, que está enfrentando os latifundiários da quadrilha do Quartiero.

Embora o honroso trabalho da polícia federal muitas vezes seja desfeito pela (In)Justiça brasileira ou pelo STF, isso não tira o valor de suas ações exemplares. Temos de comemorar, pois raramente os brasileiros têm motivo para se orgulhar e hoje podemos brindar a cidadania. Que esses sugadores e vendilhões do patrimônio público mofem na cadeia, paguem por seus crimes e sejam exemplarmente punidos.

Ah! Já ia me esquecendo: e o que o ex-torneiro mecânico, agora eleito e releito presidente do Brasil tem a ver com isso? Até 2006 as ações da PF em defesa do povo brasileiro cresceram 815% . Para quem tem dúvidas dos dados citados na fonte anterior, segue o link de uma fonte insuspeita da imprensa corporativa que é mais atual e mostra a evolução em gráfico.

Outra fonte insuspeita para a classe mediana de nosso país é a Lúcia Hippólito. Até ela teve de reconhecer a competência da PF e alinhavar as relações dantescas do Dantas com as privatizações/privataria do governo FHC, com ACM&Cia para além do mensalão! Até ela teve de reconhecer que o problema da impunidade de nosso país está na esfera do judiciário e não do poder executivo!
Vejam com os próprios olhos!


Reproduzo também a boa nova (direto da fonte) e motivo impulsionador de minha postagem de hoje:

08/07/2008

OPERAÇÃO DESMONTA ESQUEMA DE CORRUPÇÃO E LAVAGEM DE DINHEIRO


Investidor Naji Nahas, o ex-prefeito Celso Pitta e o banqueiro Daniel Dantas presos pela PF.



SÃO PAULO/SP - A Polícia Federal desencadeou na manhã de hoje, 8, a Operação Satiagraha para desmontar um esquema de desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro. Cerca de 300 policiais cumprem 24 mandados de prisão e 56 de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador. Os mandados foram expedidos pela 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

As investigações iniciaram há quatro anos, como desdobramento do caso "Mensalão". A partir de documentos enviados pelo Supremo Tribunal Federal para a Procuradoria da República no Estado de São Paulo, foi aberto um processo na 2ª Vara Criminal Federal. Na apuração foram identificadas pessoas e empresas beneficiadas no esquema montado pelo empresário Marcos Valério para intermediar e desviar recursos públicos.

Baseadas nas informações e em documentos colhidos em outras investigações da Polícia Federal, os policiais apuraram a existência de uma grande organização criminosa, comandada por um banqueiro, envolvida com a prática de diversos crimes. Para a prática dos delitos, principalmente desvio de verbas públicas, o grupo possuía várias empresas de fachada.

Com o andamento da apuração, foi descoberta a existência de um segundo grupo formado por empresários e doleiros que atuavam no mercado financeiro como forma de "lavar" o dinheiro obtido em negócios escusos. Além de fraudes no mercado de capitais, baseadas principalmente no recebimento de informações privilegiadas, a organização atuava no mercado paralelo de moedas estrangeiras.

O trabalho mostrou que as duas organizações criminosas atuavam de forma interligada, com vários níveis de poder e decisão.

Os presos na operação deverão ser indiciados pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha. Eles devem permanecer na carceragem da Superintendência Regional da PF em São Paulo onde ficam a disposição da Justiça.

O nome da operação Satiagraha significa resistência pacífica e silenciosa.

Será realizada entrevista coletiva na sede da Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo - Rua Hugo D’Antola, 95 - às 14:30 horas.

Por Comunicação Social / Superintendência da PF em São Paulo

Tel: (011) 3538-5013/5012