Will Gomes: Transformar e-activist em militante de rua é alquimia muito complexa

Escrito en BLOGS el

Will Gomes em seu Facebook

14/01/2013

Está entrando para a história como "o mico dos 20”, mas é também uma excelente ocasião para se refletir sobre a política digital (e-politics). Pessoas antilulistas, que as temos em número crescente, combinaram, pelo Facebook, uma manifestação em São Paulo neste fim de semana. Seria retumbante demonstração da insatisfação das massas com os desmandos de Lula. A Folha disse que 1.800 manifestantes confirmaram presença na Fã Page do "movimento", mas tão somente 20 compareceram.

Disseram os envolvidos que chovia muito em São Paulo, mas que o movimento tende a se multiplicar. Se fossem gremlins, a chuva seria uma ótima ocasião para a multiplicação, mas acho que gremlins eles não são, embora não tolerem misturar num mesmo ambiente água e furor ético. E no Face é mais sossegado, já que aqui até chove, mas não molha.

Uma das paródias da imagem dos manifestantes anti-Lula que circula no facebook

Muita gente ainda não está entendendo a peculiaridade do uso político de sites para redes sociais e da política online. Acham que quem “as redes sociais” são um lugar de mobilização de pessoas para a ação política off-line. Plínio de Arruda Sampaio, em virtude do sucesso que o seu pitoresco perfil obteve durante as eleições de 2010, confundiu-se também com isso e achou que os seus “seguidores” no Twitter fossem, de fato, seus seguidores e que poderia converter militantes digitais (sorry, agora se chamam “ativistas”) em manifestantes de rua. Dezenas de milhares combinaram com ele que iriam participar de uma atividade política na Praça da Sé, num domingo friorento de São Paulo. Ele até fez contas, online: se 10% dos que prometeram ir, de fato comparecessem, seria uma festa de arromba. Compareceram Plínio e alguns amiguinhos, de forma que ele retornou, furioso, ao Twitter e passou um sabão geral nos seus seguidores, admoestando que não estava online para ficar de brincadeira, não, que aquilo era um instrumento de militância. Depois disso, foi minguando a sua participação no Twitter: o último tweet de @plíniodearruda é de 25 de novembro de 2012, às 19:30.

Plínio, o Velho, cometeu alguns dos mesmos erros dos meninos do “mico dos 20”. Mas dá para aprender com tais erros. Cinco dicas.

A mesma imagem com os cartazes editados

1. “Followers” não são teus seguidores, são só pessoas que te acompanham. Uma grande parte nem gosta de você, está ali apenas para te odiar de pertinho. O mesmo vale para “amigos” e “assinantes” do FB.

2. Sites de redes sociais são mais eficientes para marcar brigas de torcida do que para mobilizar para causas sociais que nada tenham a ver com a cultura digital.

3. Facebook, twitter e Cia. não são literalmente redes sociais. As redes sociais são suas redes de conhecidos e amigos, por onde circulam confiança e obrigações de reciprocidade. Muitas das pessoas associadas a você num social networking site são parte de sua rede social, mas a partir de um certo número, são só pessoas que estão “por ali”. Não se iluda.

4. Transformar e-activist em militante de rua é alquimia muito complexa. E-politics, a política digital é para ser feita digitalmente. Tente retirar o militante, simpatizante ou interessado na sua causa da sua zona de conforto – em que conectividade constante e a cultura digital são condições de possibilidade - e prepare-se para a frustração. Se quer um manifestante de rua padrão, vá buscar em outro lugar. Tente porta de fábricas, centro acadêmicos...

5. Experiências eficientes de conversão de e-activist em manifestantes (os #Occupy, por exemplo) comportam necessariamente a manutenção e a extensão da zona de conforto do cidadão hiperconectado.