Brasil S/A, por Marcela Lins

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Sobre Brasil S/A, posso dizer que Marcelo Pedroso tem um ótimo senso estético. O filme, que se delineia através de grandes metáforas e alegorias, insiste em discutir um tema já tão caro a novas produções pernambucanas. O desenvolvimentismo, o crescimento vertical da cidade e a luta de classes são pretensamente apontados em imagens impressionantes, ao som de uma grandiosa orquestra. Sem que haja falas ou diálogos.

O novo longa do cineasta nos parece uma continuação de seu curta-metragem anterior, Em Trânsito, pelo qual também guardo grandes ressalvas. Agora, em vez do personalismo que atribui a Eduardo Campos os problemas estruturais, econômicos e políticos do Estado; Brasil S/A discute o mesmo tema através de alegorias e caricaturas. É o homem caranguejo versus o grande maquinário industrial.

E é nesta repetição, neste preto-e-branco, que o filme se sabota. Ao se fazer valer tanto dos exageros, Brasil S/A , que tinha tudo para se sustentar como um grande “tapa na cara” a nós, reles espectadores tão inseridos nesse modus vivendi capitalista neoliberal, só se apresenta como um grande ensaio irônico. É over the top. É raso e maniqueísta.

Brasil S/A é um filme de premissa muito simples. E que se resolve em seus primeiros minutos de projeção. A mesma miscelânea argumentativa que só se repete. E tenta se sustentar através de uma perspectiva puramente estética. Cansa. Cansa porque é um filme que apreende o mundo através de dicotomias muito simplistas.

É o céu repleto de prédios; é a modelo que rege uma orquestra de tratores;  ou negros maquiados de branco, celebrando um maracatu aristocrático (aqui uma boa referência muito íntima aos pernambucanos); são crianças com Ipods; e um pai, voraz, que devora um sanduíche de fast-food. Parece um canto barroco. Cheio de hipérboles. Cai no raso. Da mesma forma que Em Trânsito demoniza Eduardo Campos, ao atribuir a ele um grande problema estrutural (não que o governo do PSB seja isento de culpas), Brasil S/A brinca com metáforas que, depois de poucos minutos, não convencem mais. É muito fácil rir do risível.