Monty Phyton - O Sentido da Vida (1983)

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Quando na minha pré-adolescência descobri Monty Phyton – O Sentido da Vida (Terry Jones e Terry Gilliam, 1983), tinha bastante certeza de que era a coisa mais engraçada que já tinha visto — era uma época em que esses superlativos eram mais honestamente sentidos. Alguns anos depois, viria a ter a mesma sensação com Monty Phyton em Busca do Cálice Sagrado (Jones e Gilliam, 1975) e A Vida de Brian (Jones, 1979).

Tive a sorte de acompanhar o lançamento em DVD do Monty Phyton’s Flying Circus na mesma época em que conheci o grupo. Aluguei o box e o assisti inteiro em um fim de semana. Eu não entendia muito do humor, talvez pelo eventual caráter político (nunca cheguei a rever). O que lembro era do orgulho que senti de mim mesmo enquanto assistia à série. Parecia um gosto tão maduro, uma compreensão tão diferenciada do humor. Só duas esquetes da série ficaram na memória — repetia-as demasiadamente a meus amigos para que fosse sequer possível esquecê-las.

Fui rever O Sentido da Vida apenas no Janela Internacional de Cinema, ano passado. Foi uma experiência formidável. Além da tela grande — com uma louvável qualidade de projeção garantida a se repetir a partir de amanhã (04/09) no Cinema da Fundação do Recife — pude relembrar piadas queridas, encontrar algumas que passaram despercebidas e cantarolar Every Sperm is Sacred — nunca esqueci a letra.

“Como eu pude achar essa bobagem tão engraçada?”, eu me perguntei logo que saí da sessão. Não sei se depois desses meses eu tenho alguma resposta pra isso. Ainda acho essa bobagem terrivelmente engraçada, se for ser sincero. O non-sense é perfeitamente utilizado, a subversão às instituições autoritárias é instigante, o texto é perspicaz, mas no fim das contas ainda é tão ridículo quanto uma máquina que faz “ping!”, um casal que precisa comprar o tema de sua conversa e um homem que explode de tanto comer. É hilário porque funciona. Você comprou a ideia e vê o filme pela farsa, não se incomoda de ser enganado pelo absurdo, está ali para isso, completamente disponível. O filme conta com sua presença nos anúncios e interrupções: “Este é o meio do filme, este é o final do filme, este é o sentido da vida”. Somos convidados a participar da brincadeira. Aliás, precisamos participar se quisermos tirar proveito da experiência.

No fim das contas, Monty Phyton é sempre deliciosamente divertido. É político e inteligente também. Mas se esforça bem menos para ser político e inteligente do que alguém poderia crer ao ouvir o comentário geral sobre a trupe. Talvez essa fama deva muito a nós, de gerações posteriores, que abraçamos o gosto pelo filme como notável e especial. Se assim for, espero que as próximas possam também embebedar o seu ego com filmes do Monty Phyton, é gostoso que só e não faz mal nenhum.

Hoje eu não já não sei dizer qual é a coisa mais engraçada que já vi. Sei, no entanto, que meu riso constante com Saturday Night Live deve muito ao riso que aprendi com O Sentido da Vida. Disto eu sei tanto quanto na época, mas menos do que achava que sabia. A ingenuidade também pode ser muito gratificante. Aprendi isso hoje, também com Monty Phyton, que continua legal demais.