O Congresso Futurista

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Robin Wright em O Congresso Futurista
Enquanto Sob a Pele herda o existencialismo da ficção-científica e Jogos Vorazes e O Expresso do Amanhã procuram, no gênero, uma contraditória luta de classes, surge uma vertente mais terrena e preocupada de delírio pós-apocalítico. Se Ela (Spike Jonze, 2013) abraça a revolução dos meios de comunição com personagens e relações utópicas, O Congresso Futurista (Ari Folman, 2013) é um filme que não nega o valor utópico do universo estranho que apresenta, mas ainda assim o confronta melancolicamente.

Essa contramão mais otimista do gênero carrega, pelo menos para mim, um aspecto de maior validade ideológica e verossimilhança. Lógico, isso pode ser simplesmente porque sou eu mesmo otimista com a perspectiva de futuro. Mas Ela O Congresso Futurista conseguem ao menos manter cenários e perspectivas mais coerentes com a realidade atual da comunicação e a acepção social dos avanços tecnológicos.

Os pontos de vista que guiam o nosso turismo pelo mundo futuro em cada filme são bem distintos. O irritável Theodore (Joaquin Phoenix), em Ela, está absolutamente encantado com o que esse mundo novo lhe proporciona. Já em O Congresso Futurista, Robin Wright, interpretando ela mesma, é a própria personificação da melancolia. Contemplando um pôster de A Princesa Prometida (Rob Reiner, 1987), Wright acrescenta novos significados à expressão de serenidade impetuosa que manteve desde a fantasia oitentista até sua concepção moderna de Lady Macbeth na série House of Cards.

Mais de 20 anos distante da Princesa Buttercup, Wright percebe-se no fim da carreira. E nesse ponto as considerações sobre as problemáticas relações de trabalho em Hollywood são menos interessantes que os reflexos dessas na personagem e na visão que tem de si mesma. Sobre o aspecto mais belo da construção de Robin Wright, a personagem — e onde culmina toda a sua melancolia —, manterei-me calado tanto pelos limites do que deve ser revelado quanto por não me considerar capaz de corresponder à delicadeza do filme.

No que se refere às várias sequências animadas, O Congresso Futurista recria nas cores e na flexibilidade das formas o encantado universo psicodélico de Submarino Amarelo (George Dunning, 1968) e mantém uma deliciosa proximidade estética com a contemporânea série de animação infantil Hora de Aventura, talvez o exemplo mais perfeito dessa utopia pós-apocalíptica.