X-Men: Dias De Um Futuro Esquecido, por Antonio Lira

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No ano de 2000, quando X-Men: O Filmefoi lançado nos cinemas, o mercado de filmes de super-herói era completamente diferente do que é hoje. O primeiro filme da série, que conta a história de seres que possuem poderes especiais por causa de mutações genéticas (os chamados mutantes), foi responsável pelo surgimento de um gênero que encontra-se hoje bastante consolidado. Porém, devido a algumas produções bastante irregulares na última década e ao aprimoramento da qualidade de filmes desse tipo, a série dos mutantes se encontrava bastante defasada perante o mercado. Com o lançamento, em 2011, de X-Men: Primeira Classe, ganharam um novo fôlego, mas ainda era necessário um grande lançamento para que a série pudesse competir de igual para igual com seus concorrentes. X-Men: Dias de Um Futuro Esquecidonão só cumpre essa tarefa como abre um leque de caminhos que a série pode seguir nos próximos anos. 
Baseado no arco das HQs Days Of Future Past (1981), o filme conta a história de um futuro distópico, onde robôs conhecidos como Sentinelas estão exterminando todos aqueles que possuem o gene mutante, mesmo humanos que ainda não desenvolveram habilidades especiais. Kitty Pride (Ellen Page), juntamente a um pequeno grupo de mutantes, consegue fugir dos Sentinelas devido ao seu poder de projetar a mente de um de seus companheiros para o passado, podendo assim avisar aos demais quando eles serão atacados. Após o grupo ser encontrado pelo Professor Xavier (Patrick Stewart/James McAvoy), Wolverine (Hugh Jackman) e Tempestade (Halle Bery), que agora juntaram forças com Magneto (Ian McKellen/Michael Fassbender), eles decidem enviar a consciência de Wolverine ao passado, para evitar que Mística (Jennifer Lawrence) mate o cientista Bolivar Trask (Peter Dinklage) e dê início a série de acontecimentos que culminarão na criação das Sentinelas.
Se a premissa de utilizar viagens no tempo parece arriscada, é muito bom perceber que os roteiristas conseguem desenvolver um trabalho bastante coeso. A trama é exposta de maneira bastante crível, de forma que não apenas entendemos o que está acontecendo como tememos pelo fracasso da missão, pois sabemos as consequências que isso poderá causar. Além disso, as cenas de ação e a montagem do filme, que começa a alternar cada vez mais entre passado e futuro com o crescimento do clímax, contribuem muito para que o sentimento de perigo continue real mesmo na segunda ou na terceira vez em que se assiste. Bryan Singer, que retorna à cadeira de diretor após dirigir os dois primeiros longas da série, também merece créditos pela maneira como conduz as várias sequências de luta no filme. É bastante interessante perceber como os mutantes utilizam seus mais diversos poderes para trabalhar em equipe, mas o principal mérito do diretor é fazer com que as lutas sejam entendíveis, mesmo com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. E como toda superprodução do gênero, os efeitos especiais são impecáveis.
O elenco também não deixa nada a desejar. Juntar os atores da série original com suas versões mais jovens introduzidas no filme de 2011 serviu para dar mais tridimensionalidade a personagens que já eram bastante complexos. Se Patrick Stewart e Ian McKellen mostram um Professor Xavier e um Magneto calejados de tantas batalhas, James McAvoy e Michael Fassbender nos fazem compreender melhor as motivações que levaram cada um a trilhar caminhos opostos, e a Mística de Jennifer Lawrence se torna uma personagem muito mais interessante do que era na trilogia original. O Mercúrio interpretado por Evan Peters aparece pouco, mas é protagonista de uma das melhores cenas do longa. Porém quem segura mesmo a produção é Hugh Jackman, que, ao contrário dos dois filmes solo do seu personagem, faz um Wolverine que vai muito além da sua zona de conforto.
Como já era de se esperar por se tratar de viagens no tempo, o desfecho do filme muda completamente a história, apagando da cronologia todos os erros presentes na trilogia original principalmente os de X-Men: O Confronto Final(2006), bastante criticado pelos fãs. Além de ser uma maneira inteligente de os produtores darem um rebootna série, ignorando as notórias falhas de roteiro que foram se acumulando durante o tempo, o filme deixa o espectador bastante ansioso para ver o que irá acontecer a seguir, colocando a série de volta nos trilhos e servindo de continuação tanto para o filme de 2006 quanto para o de 2011.

Mas, acima de tudo isso, Singer nos entrega uma produção bastante competente, que prova que é possível fugir do realismo sombrio e, por vezes, massante dos Batmans de Christopher Nolan sem ter que se entregar ao humor forçado presente em quase todas as produções do estúdio Marvel. É um entretenimento divertido que não subestima o espectador, e agrada públicos de todas as idades sem deixar a complexidade de lado. O único porém é a cena pós-créditos (algo que já se tornou comum em produções do gênero) que mesmo sendo significativa para os fãs dos quadrinhos, peca por não ter ligação alguma com tudo aquilo que acabamos de ver.