A articulação entre Bolsonaro e o centrão vai sobreviver ao vídeo de 22 de abril?

Leia na coluna de Cleber Lourenço: Ainda pode ser que o centrão permaneça ao lado do presidente, porém o acordo ficará mais caro e, quanto mais caro, mais gritante e difícil de esconder ficará a união que Bolsonaro tanto criticava em campanha

Bolsonaro assiste live com Roberto Jefferson (Reprodução/Twitter)
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Há alguns meses eu escrevi que não poderíamos nos empolgar com Mourão como presidente da República, mesmo com suas constantes alfinetadas ao presidente. Infelizmente o artigo publicado hoje por Mourão colocou as Forças Armadas de forma quadrúpede ao governo Bolsonaro. Entre o país e Bolsonaro, eles escolheram de forma errada e isso custará caro.

Lembro aqui: nenhuma democracia saudável tem seus militares como atores políticos. Isso é característico das ditaduras, afinal de contas, quem dirige tanque, dispara foguete e tem fuzil, não faz análise de conjuntura, faz ameaça.

Isso não significa que irão colocar a mão no fogo pelo presidente, mas que já atingiram um ponto sem volta, onde não há mais como se desvincular do desgoverno de Jair Bolsonaro. Na avaliação deles, a missão agora é redução de danos.

Oras, se Bolsonaro estivesse com essa bola toda, não estaria desesperadamente mendigando uma base de sustentação para fugir de um impeachment e conseguir governar, seguindo à contragosto as orientações e a articulação iniciada pelos militares.

O que Mourão tentou ali é se colocar como o autoritário dos autoritários. Alfineta Bolsonaro, mas alfineta a imprensa, e a oposição também, enquanto a farda verde-oliva segue o comboio do precipício.

Foram os fardados os fiadores do acordo com o centrão e mesmo assim são enxotados pelo presidente, que disse em abril que não iria negociar com ninguém - um claro recado aos militares que até aquele momento ainda tinham apenas esboços das negociatas.

Não é por menos que líderes do bloco estão satisfeitos com os cargos. O sangue frio lhes permite serem achincalhados, porém os “peões” do bloco, não.

Brasília sabe que Bolsonaro não é confiável, basta ver a reforma da Previdência, os episódios envolvendo Gustavo Bebianno, Moro, Santos Cruz e Mandetta. Ou até mesmo a série de humilhações que Bolsonaro impôs aos militares, que apoiaram de forma quase que incondicional o governo. Seu histórico com quase 3 décadas na Câmara dos Deputados também não é nem um pouco louvável e, por fim, ainda há o rompimento com seu antigo partido, o PSL, que foi celebrado debaixo de muita baixaria.

É nesse alambrado fragilíssimo que Bolsonaro se apoia, e que pode ter sua resistência testada com a revelação da escabrosa reunião de 22 de abril onde o presidente fala abertamente sobre armar a população contra governadores e prefeitos (e por que não o STF também?) enquanto uma ministra defende que eles devam ir para a cadeia, e outro ministro fala palavrões para se referir aos ministros do Supremo.

Ainda pode ser que o centrão permaneça ao lado do presidente, porém o acordo ficará mais caro e, quanto mais caro, mais gritante e difícil de esconder ficará a união que Bolsonaro tanto criticava em campanha. Colocará no telão o estelionato eleitoral que cometeu já que, por diversas vezes, insuflou as hordas contra o tal centrão. Heleno mesmo fazia arruaça e piada com o grupo.

Em tempo:

O custo do centrão já está ficando salgado e pode custar a cabeça de um dos ministros mais queridos do bolsonarismo, Abraham Weintraub, que se recusa a colaborar com a nomeação de indicados do grupo político. O vídeo pode acabar colocando o preço necessário para a queda do ministro.

Enquanto isso, Moro chega de mãos dadas com 2022 e a extrema-direita que arrancou do Seu Jair.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum