A crentefobia não existe e chega a ser desrespeitoso afirmar que existe

A bancada evangélica sempre votou a favor das reformas antipopulares, prejudicando mais as famílias brasileiras

Bolsonaro em culto com a bancada evangélica na Câmara (Michel Jesus/ Câmara dos Deputados)
Escrito en OPINIÃO el

A bancada evangélica sempre se colocou como defensora da família, da justiça, da moral e dos bons costumes. Mas na prática é bem diferente: a bancada sempre votou a favor das reformas antipopulares, prejudicando mais as famílias brasileiras.

Além disso facções criminosas de orientação evangélica impõem o terror e o medo em comunidades cariocas, com selvageria e truculência invadem templos de religiões de matriz africana e destroem tudo que podem.

Isso quando não expulsam praticantes de umbanda ou candomblé de suas casas.

A perversidade desses grupos não é muito diferente de grupos terroristas como o Estado Islâmico.

E agora, no auge da perversão institucional precisamos ver mais uma criação folclórica: a crentefobia.

A tal crentefobia entra no mesmo espaço folclórico do racismo reverso ou a falácia de que o machismo seria uma antítese do feminismo.

Vizinho do falacioso “nazismo é de esquerda” e da terra plana.

São coisas que simplesmente não existem e que não colam no mundo real.

Basta ver os “estragos” que a “bancada crente” causa na vida do trabalhador comum para entendermos o que está havendo.

Terceirização

A bancada evangélica deu apoio para aprovação do Projeto de Lei (PL) 4302/98, que permite a terceirização de todas as atividades das empresas. A terceirização é uma precarização das condições de trabalho, além dos trabalhadores correrem o risco de trabalharem em condições análogas a escravidão. Foram 231 votos a favor e 188 contra, destes, 36 votos foram dos deputados evangélicos, que foram fundamentais para a aprovação (se eles tivessem votado contra, o projeto não teria sido aprovado). Confira o nome dos deputados a favor da terceirização:

  • AGUINALDO RIBEIRO (PP-PB), BATISTA
  • ANDRÉ ABDON (PRB-AP), ASSEMBLEIA DE DEUS
  • ANTÔNIO BULHÕES (PRB-SP), UNIVERSAL
  • AROLDE DE OLIVEIRA (PSC-RJ), BATISTA
  • BRUNA FURLAN (PSDB-SP), CONGREGAÇÃO CRISTÃ DO BRASIL
  • CARLOS GOMES (PRB-RS), UNIVERSAL
  • CARLOS MANATO (SD-ES), CRISTÃ MARANATA
  • EDMAR ARRUDA (PSD-PR), PRESBITERIANA
  • ELIZEU DIONÍZIO (PSDB-MS), ASSEMBLEIA DE DEUS MISSÕES
  • CLEBER VERDE (PRB-MA), ASSEMBLEIA DE DEUS
  • EZEQUIEL TEIXEIRA (PTN-RJ), PROJETO VIDA NOVA
  • FÁBIO SOUZA (PSDB-GO), FONTE DE VIDA
  • JHONATAN DE JESUS (PRB-RR), UNIVERSAL
  • JOÃO CAMPOS (PRB-GO), ASSEMBLEIA DE DEUS
  • JORGE TADEU MUDALEN (DEM-SP), INTERNACIONAL DA GRAÇA
  • JOSUÉ BENGTSON (PTB-PA), EVANGELHO QUADRANGULAR
  • JULIA MARINHO (PSC-PA), ASSEMBLEIA DE DEUS
  • LAÉRCIO OLIVEIRA (SD-SE), PRESBITERIANA
  • LEONARDO QUINTÃO (PMDB-MG), PRESBITERIANA
  • LINCOLN PORTELA (PRB-MG), BATISTA NACIONAL
  • LINDOMAR (GARÇON) BARBOSA ALVES (PMDB-RO), EVANGELHO QUADRANGULAR
  • LUIZ LAURO FILHO (PSB-SP), NAZARENO
  • MARCELO ALVARO ANTÔNIO (PR-MG), CRISTÃ MARANATA
  • MÁRCIO MARINHO (PRB-BA), UNIVERSAL
  • NILTON CAPIXABA (PTB-RO), ASSEMBLEIA DE DEUS
  • PASTOR EURICO (PHS-PE), ASSEMBLEIA DE DEUS
  • PROF. VICTÓRIO GALLI (PSC-MT), ASSEMBLEIA DE DEUS
  • ROBERTO ALVES (PRB-SP), UNIVERSAL
  • ROBERTO SALES (PRB-RJ), UNIVERSAL
  • SÉRGIO BRITO (PSD-BA), BATISTA
  • SHÉRIDAN (PSDB-RR), EVANGELHO QUADRANGULAR
  • SILAS CÂMARA (PRB-AM), ASSEMBLEIA DE DEUS
  • STEFANO AGUIAR (PSB-MG), EVANGELHO QUADRANGULAR
  • TONINHO WANDSCHEER (PROS-PR), MENONITA
  • VINICIUS CARVALHO (PRB-SP), UNIVERSAL
  • WALNEY ROCHA (PEN), SARANDO A TERRA FERIDA

Jair Bolsonaro e Pr. Marco Feliciano abstiveram-se de votar.

Reforma Trabalhista

Os votos da bancada evangélica também foram decisivos para aprovação da reforma trabalhista. Ao todo, foram 296 votos a favor da reforma e 177 contra, sendo 47 votos foram de deputados evangélicos. Confira os nomes de alguns deputados que votaram a favor:

  • AGUINALDO RIBEIRO (PP), BATISTA
  • ALEXANDRE SERFIOTIS (PMDB), FAZEI DISCÍPULOS
  • ANTÔNIO BULHÕES (PRB-SP), UNIVERSAL
  • AROLDE DE OLIVEIRA (PSC-RJ), BATISTA
  • CARLOS GOMES (PRB-RS), UNIVERSAL
  • EDUARDO BOLSONARO (PSC)
  • ELIZIANE GAMA (PPS), ASSEMBLEIA DE DEUS
  • EZEQUIEL TEIXEIRA (PTN-RJ), PROJETO VIDA NOVA
  • FABIO GARCIA (PSB) SARA A NOSSA TERRA
  • FÁBIO SOUZA (PSDB-GO), FONTE DE VIDA
  • FRANCISCO FLORIANO (DEM), MUNDIAL DO PODER DE DEUS
  • GILBERTO NASCIMENTO (PSC), ASSEMBLEIA DE DEUS
  • JAIR BOLSONARO (PSC)
  • JHONATAN DE JESUS (PRB-RR), UNIVERSAL
  • JOÃO CAMPOS (PRB-GO), ASSEMBLEIA DE DEUS
  • JONY MARCOS (PRB), UNIVERSAL DO REINO DE DEUS
  • LAÉRCIO OLIVEIRA (SD-SE), PRESBITERIANA
  • LEONARDO QUINTÃO (PMDB-MG), PRESBITERIANA
  • LINDOMAR (GARÇON) BARBOSA ALVES (PMDB-RO), EVANGELHO QUADRANGULAR
  • LUIZ LAURO FILHO (PSB-SP), NAZARENO
  • PR. MARCO FELICIANO (PSC)

Reforma do Ensino Médio

Outro retrocesso que foi comemorado pela bancada evangélica foi a Reforma do Ensino Médio, aprovada com 263 votos a favor e 106 contra. A reforma não foi debatida com a população e teve mudanças que não solucionam os principais problemas na educação. Algumas das alterações foram: aumento da carga horária, de 800 horas anuais para 1,4mil horas anuais e retirada da filosofia, sociologia, educação física e artes das matérias obrigatórias. Confira alguns deputados evangélicos que votaram a favor:

  • AGUINALDO RIBEIRO (PP)
  • ANDRE MOURA (PSC)
  • ANTÔNIO BULHÕES (PRB-SP)
  • AROLDE DE OLIVEIRA (PSC)
  • CARLOS GOMES (PRB-RS)
  • EDUARDO BOLSONARO (PSC)
  • GILBERTO NASCIMENTO (PSC)
  • JAIR BOLSONARO (PSC)
  • JOÃO CAMPOS (PRB-GO)
  • JÚLIA MARINHO (PSC)
  • MÁRCIO MARINHO (PRB-BA)
  • PR. MARCO FELICIANO (PSC)

PEC do Teto de Gastos

Proposta de Emenda à Constituição (PEC), a PEC 241 estabelece um teto para o aumento dos gastos públicos pelas próximas duas décadas, e foi aprovada com 359 votos a favor e 116 contra. A bancada evangélica em sua maioria também votou a favor. Com os mesmos nomes citados acima, ajudaram a congelar os gastos públicos no país, dando ênfase ao candidato à presidência Jair Bolsonaro que também votou a favor da PEC do Teto, como foi favorável aos demais projetos antipopulares.

O crescimento da “Bancada Evangélica” e a expansão para o Executivo

De acordo com o jornal Valor Econômico, líderes de igrejas evangélicas e partidos ligados a elas estão traçando uma estratégia para ampliarem suas bancadas na Câmara e no Senado a partir de 2019. O objetivo é aumentar de 93 para cerca de 150 o número de deputados federais e quintuplicar, de três para 15, o total de senadores.

O estudo “Análise do comportamento da Frente Parlamentar Evangélica no Brasil” indica que cada denominação evangélica apresenta a tendência de concentrar seus representantes em um único partido catch all de sua preferência. Os partidos que concentram o maior número de membros da FPE são: Partido Social Cristão (PSC), Partido da República (PR) e Partido Republicano Brasileiro (PRB). Sendo o PRB aglutinador dos parlamentares ligados a Igreja Universal do Reino de Deus.

Confira a lista completa dos deputados evangélicos no Congresso Nacional

Com a vitória do bispo Marcelo Crivella nas eleições municipais do Rio de Janeiro em 2016, a bancada evangélica expandiu sua representatividade para além do Congresso – está agora também no executivo. Além de Crivella, outros candidatos que “representam” os evangélicos também seguem na disputa por um espaço no executivo – Celso Russomano do mesmo partido de Crivella (PRB) ficou em terceiro lugar nas eleições para prefeito de São Paulo em 2016, o pastor Everaldo (PSC) da Assembleia de Deus que foi candidato à Presidência da República em 2014 e Eduardo Cunha, ex-deputado federal e presidente da Câmara que foi preso em 2016 pela Operação Lava Jato. E há quem diga que o grupo visa conquistar espaço também no judiciário.

Em 2018, os candidatos à Presidência que ‘representam’ os evangélicos eram: Jair Bolsonaro (PSC) (apoiado pelo pastor Silas Malafaia), Marina Silva (Rede) e Cabo Daciolo (Patriota).  Com exceção de Marina Silva, que tem mostrado alguns pontos menos conservadores em sua proposta de governo (confira aqui a posição dela sobre temas como casamento gay), os outros dois são conhecidos por promoverem uma agenda bastante conversadora, assim grande parte de seus conterrâneos da bancada que costumam se unir para conter o avanço de pautas como aborto, drogas, direito das mulheres e de homossexuais.

Mas será que eles realmente representam os valores e ideais da população evangélica brasileira?

Os evangélicos no Brasil são, em geral, contra a pena de morte, contra a ampliação do armamento e contra o Estado liberal, defendem o Estado protetor. Enquanto a maior parte dos políticos religiosos no Congresso é a favor do liberalismo, do antiaborto, da intolerância às relações homoafetivas, entre outros.

O pastor Henrique Vieira, da Igreja Batista do Caminho, por exemplo é um dos que se opõem às ideias comuns dos parlamentares cristãos no Congresso.

Para ele, tentativas de resolver os problemas nacionais como segurança “na bala” são “simplórios”. Ele defende a desmilitarização da polícia e a legalização e regulamentação das drogas.

Segundo pesquisa do Datafolha de 2017, 66% dos evangélicos dizem não ter uma sigla partidária preferida, contra 59% do maior grupo religioso do país. O favoritismo do PT é maior entre católicos (22%) do que entre evangélicos (18%). Idem com PMDB: 6% e 3%, nessa ordem. Já o PSDB angaria os mesmos 4% de predileção em ambos os segmentos.

Ainda segundo a mesma pesquisa, a maioria dos brasileiros –8 em cada 10– declarou não serem influenciados pelo apelo de seus líderes religiosos durante as campanhas políticas. Porém, entre os 19% que consideram as recomendações de seus guias de fé, 4% o fazem apenas se o pleiteante ao cargo for ligado à sua igreja.

A parcela evangélica que dá ouvidos a seus pastores é um pouco mais alta do que a média –26%, taxa que sobe para 31% entre fiéis neopentecostais (fatia que abrange igrejas como Universal e Renascer).

Isso na teoria. Na prática, 9% disseram já ter votado em alguém indicado por sua liderança religiosa, número similar aos 8% verificados em sondagem de quatro anos atrás. Novamente, evangélicos (16%), sobretudo os neopentecostais (28%), se revelam mais suscetíveis à recomendação de suas congregações. Ainda sim, uma minoria dentro desse universo religioso.

Com essas informações em mãos eu lhe pergunto: não seria a crentefobia mais um mito?

Diferente de outras minorias e extratos sociais no Brasil, eles estão socialmente inseridos.

Não são como a população LGBTIQ que é assassinada, expulsa de suas casas e perseguida, não são como os negros que são a minoria nas faculdades e a maioria nas cadeias, também não são como os negros as maiores vítimas de mortes violentas.

Chega a ser um escárnio falar de crentefobia no Brasil, um dos países que mais mata homossexuais no mundo.

Chega a ser desonesto querer falar disso quando o grupo possui uma bancada poderosa. O congresso com força suficiente para impor suas pautas e até mesmo com poder de influência direta no presidente do país.

Não existe crentefobia e quem defende esse termo ou é desonesto ou não sabe do que está falando. Não há meio termo.