A nova constituinte de Alcolumbre serviu para o seu objetivo: criar distração

Em um momento onde a Bolívia passa por um golpe de estado, a ideia passou a ser aventada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que se sentia pressionado por deputados da direita alarmados com a libertação do ex-presidente Lula

Foto: Reprodução/SBT
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Alertei na semana passada para a hipótese: no turbilhão de problemas que se encontra a família presidencial com a CPMI das Fake News e uma possível relação com o assassinato de Marielle Franco, que mais uma vez escancarou as relações da família com milicianos, a direita faria de tudo para tirar o foco: seria desde Celso Daniel até Adélio Bispo, tentaram os dois mas nenhum colou! Foi então que entrou em jogo o boato sob a nova constituinte. Em um momento onde a Bolívia passa por um golpe de estado, a ideia passou a ser aventada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM – AP), que se sentia pressionado por deputados da direita alarmados com a libertação do ex-presidente Lula. Não durou muito e a ideia já foi rechaçada pelos próprios senadores e ainda tomou uma “brecada”de Rodrigo Maia, também do Democratas. Conversei ontem mesmo com o historiador, professor e YouTuber Jones Manoel e chegamos a conclusão de que na verdade não há clima e tampouco condições para uma nova constituinte. Ainda mais no Brasil, onde se tornou tradição a convocação de uma constituinte apenas em casos ruptura institucional assim como foi na revolução de 30, no Estado Novo 37, na Redemocratização de 45, no golpe de 64 e por fim na redemocratização de 88. Embora o “Seu Jair” odeie a democracia, não estamos sequer próximos de uma ruptura institucional, falta inteligência e articulação do bolsonarismo para tal. Um grupo que mal consegue a simpatia da própria direita ou da cúpula militar. Mesmo com Lula Livre, os próprios militares não se preocupam com o fato. Ontem mesmo membros e grupos da direita brasileira expressaram sua estranheza e desconfiança com a ideia de uma nova constituinte. Tags inclusive foram levantadas ontem pela direita, também rechaçando a ideia de uma nova constituinte. A família presidencial decidiu até mesmo se manter alheia ao debate. Além disso a direita de Luciano Huck, Doria e Tabata Amaral que são quem de fato possuem e detém o poder econômico no Brasil também não abraçam essa hipótese de uma intentona direitista com uma nova carta magna, tão pouco uma ruptura. Logo, a lição que podemos aprender desta situação é que a esquerda não aprendeu lição nenhuma e caiu novamente em uma distração da direita. Não podemos perder tempo com devaneios e alarmismo desnecessários enquanto as investigações sobre o assassinato de Marielle Franco se aproximam do planalto. Também não podemos nos dar ao luxo de se desesperar por fantasias enquanto o governo decide taxar os desempregados em benefício dos empresários. Além disso devemos lembrar que Alcolumbre é um político com pouca experiência no cargo que exerce hoje, sendo até o início deste ano um membro ativo do baixo clero. Não duvido muito que tenha sido influenciado ou até mesmo acabou se assustando com as demandas dos demais senadores e se atrapalhou. A constituição não é uma mera folha de papel, também não é um livrinho que pode ser feito e desfeito da noite para o dia. É um processo complexo e delicado. Precisamos retomar a importância da constituição e o quão grave é atentar contra a carta magna neste país. Infelizmente o país vive uma fase de delinquência constitucional absurda, promovida inclusive por ministros do Supremo Tribunal Federal (Barroso mandou abraços) mas nada que abra alas para uma nova constituinte. Aposentem os chapéus de alumínio e não percam o foco do que realmente importa. Essa história de ruptura institucional, de nova constituinte são meros devaneios.