Apesar de Bolsonaro, a democracia sobreviverá graças à alguns

Existe um Brasil além de Moro e Bolsonaro e ele precisa se movimentar. Não são todos os poderes e instâncias que decidiram por um silêncio criminoso. Existem lampejos de sensatez

Bolsonaro e Sérgio Moro (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
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Um policial militar que vive de falar mal da cúpula da própria corporação, congressistas que bradam contra o congresso, o diretor da força nacional de segurança pública saúda e aplaude um motim de militares, um homem mente de forma escancarada em uma CPMI do Congresso Nacional e o presidente avança contra os poderes. Nenhuma punição ou sanção aos casos citados.

Ou o país perdeu sua seriedade ou, então, as instituições não estão funcionando. É o que muitos pensariam. É o que eu já pensei por muito tempo.

Porém decidi fazer análise do país e da democracia sem os Bolsonaros na equação, trabalhada em fatos.

A verdade é que uma espécie de comportamento quinta-colunista tomou conta do país, onde representantes de suas respectivas instituições trabalham ativamente para desmontar as instituições as quais fazem parte.

E se fazem isso, no mínimo se sentem confortável para tal.

É complicado, mas existe um Brasil além de Moro e Bolsonaro e ele precisa se movimentar. Não são todos os poderes e instâncias que decidiram por um silêncio criminoso. Existem lampejos de sensatez.

No Ceará, pela primeira vez na história! Uma greve de PMs não foi anistiada, seus líderes foram ou serão presos e processados pelo estado. Isso nunca havia acontecido, e finalmente aconteceu.

O  Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mesmo com o indecoroso patrocínio de igrejas e cartórios, invalidou mais de 70% das assinaturas recolhidas para a criação do desfenestrável partido Aliança Pelo Brasil.

Quando o governo federal ao lado de Sérgio Moro ameaçou deixar o Ceará sozinho com a sua greve, governadores do PT, PSDB, PSC e PCdoB uniram forças para que caso fosse necessário enviassem tropas ao estado em crise para evitassem uma barbárie

No congresso 12 deputados bolsonaristas foram afastados, alguns dias depois das agitações pelas manifestações golpistas começarem. É um tiro de aviso. O Congresso sabe que não pode partir de forma frontal para o embate com o presidente, daria munição e agitaria as hordas de desvairados.

Ainda no Congresso, já uma movimentação entre oposição e centrão para que juntos consigam frear os descalabros econômicos e sociais do executivo.

Bolsonaro é um mero bravateiro, um autoritário de goela, chamou manifestações contra o legislativo, esperneou, acusou e no fim correu para a mesa de negociações.

O motivo? Por mais que ele (Bolsonaro) busque ideologizar os policiais militares e as baixas patentes nos quartéis, a cúpula militar -com exceção de alguns poucos vislumbrados- está mostrando sinais de desgaste com o governo e de que não irá entrar em qualquer tipo de aventura, seus interlocutores, Santos Cruz e Mourão já deram o recado.

Bolsonaro quer e tenta constantemente alargar os limites constitucionais e institucionais no país? Sim! Algo que na verdade é bem danoso para o país, mas há também quem tente fazer a contenção desses arroubos.

As coisas ainda vão piorar e muito, Bolsonaro poderia tentar alguma investida antidemocrática (ele não vai)? Poderia. Mas ele teria êxito? A respostas é um reconfortante e retumbante não.

A verdade é que incompetência governamental é mais nociva que qualquer intentona de extrema-direita, afeta milhões de brasileiros, destrói o poder de compra e renda dos mais humildes e sucateia o país de forma desastrosa.

Acontece que o debate contra bolsonaro é conduzido de forma completamente equivocada pela nossa oposição, luta-se mais em defesa de uma democracia que não está em risco, do que pelos interesses dos brasileiros.

Perde-se tempo demais com indignação com as palhaçadas do executivo do que com precarização dos empregos e retração econômica das famílias.

O PIBinho incomoda? Sim! Mas é a perda de qualidade nos empregos gerados que afeta diretamente o cidadão.

Para finalizar, deixo um recado: não é Bolsonaro o risco para a democracia, este é apenas um bufão! O real e verdadeiro inimigo da democracia se chama Sérgio Moro, ele que afetou diretamente o processo eleitoral de 2018, ele que atenta contra a constituição com seu pacote anticrime, ele que chancelou a greve dos policiais enquanto seu afilhado se ajoelhava aos amotinados no Ceará.

Se querem um risco para a democracia, esse risco é ele.

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