Bolsonaro, de ditador à rainha da Inglaterra: tornou o país ingovernável para si próprio

Cleber Lourenço: “Se Bolsonaro não for removido por um impeachment, ficará restrito a governar através de medidas provisórias, que, a depender de seu conteúdo, ainda serão barradas pelos parlamentares ou pela justiça”

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Quando Jair Bolsonaro assumiu a presidência da República, a principal preocupação de setores da sociedade era de que ele tentasse começar uma escalada de puro autoritarismo e destruísse, à base de marretadas, os pilares que sustentam a democracia brasileira.

Erro crasso! Bolsonaro, no auge da crise sanitária que toma conta do país, viu seu poder e influência se tornarem tão efetivas quanto os da rainha da Inglaterra.

A ditadura brasileira do Jair acabou virando a monarquia britânica com certo apelo, mas nenhuma relevância política.

O cientista político Alberto Almeida foi preciso:

“Imagine que todo dia Bolsonaro sai de manhã do Palácio do Alvorada para ir trabalhar (sic) no Palácio do Planalto. Só que nenhuma ordem dele é seguida no que tange à epidemia do coronavírus. É um inútil”.

Acabou sendo repudiado por prefeitos, governadores, militares e por uma série segmentos institucionais e da sociedade. Ainda tomou uma bordoada da justiça federal, que mandou Bolsonaro suspender campanha “O Brasil não pode parar”.

Por fim, acabou sendo esculhambado pelos próprios apoiadores. O esculhambo mais contundente veio de Ronaldo Caiado (DEM-GO), que antes era um entusiasta do governo, e esta semana não poupou palavras para grifar o despreparo e a incompetência do presidente do Brasil.

O caminho não foi muito diferente também com Wilson Witzel e João Doria, que entraram em embates diretos com o presidente.

Já os governadores do Nordeste, há meses, vivem de forma quase que autônoma e foram os primeiros a mandar o recado ainda no ano passado: “Não esperem nada do governo federal”.

Na carta assinada pelos governadores exigindo um posicionamento e responsabilidade do presidente, apenas três governadores não assinaram. Destaque para Romeu Zema, do defenestrável Partido Novo, que foi omisso e se colocou ao lado do que há de pior no país.

Nos últimos dias, o gabinete do ódio trabalhou a todo vapor, apavorados com a popularidade de Jair Bolsonaro em queda livre. Trabalharam mais do que nunca, carreatas foram organizadas pelo pequeno e médio empresariado em algumas cidades, pedindo o fim do isolamento social e medidas restritivas. Não deu certo! Acabaram sendo vaiados e recebendo uma salva de ovos e panelas por onde passavam.

A cereja do bolo veio com a ameaça de morte ao governador de São Paulo, que abriu um boletim de ocorrência para que investiguem o caso.  Será interessante quando chegarem nas fontes da ameaça.

Não foi a oposição e também não foram os comunistas, que para a sorte dos brasileiros, tornaram o país ingovernável para Jair Bolsonaro. Ele próprio se encaminhou para o desfiladeiro.

Bolsonaro já não manda em nada, para o bem do país. Tentou enfiar míseros R$ 200 para os trabalhadores informais e acabou se dando mal. A Câmara impôs que fosse, no mínimo, três vezes o valor. Está longe do ideal, mas já mostra que Bolsonaro não consegue articular mais coisa alguma no Congresso.

Durante a votação, “Seu Jair” ainda acabou sendo escarafunchado pela ex-bolsonarista Joice Hasselmann, em outra contundente demonstração de desagravo à infantilidade do presidente.

Acontece que já não existem apoiadores relevantes no Congresso Nacional, nas prefeituras ou nos estados. Ainda há quem simpatize, mas têm vergonha de entrar em combustão espontânea, ao se aproximar do militante de extrema direita com a faixa presidencial.

Assim como a rainha da Inglaterra, Bolsonaro não comanda e ainda fica cercado de filhos, que mal sabem o que é trabalhar. Está lá por pena e acordo, enquanto muitos aguardam o seu fim.

Se Bolsonaro não for removido por um impeachment, ficará restrito a governar através de medidas provisórias, que, a depender de seu conteúdo, ainda serão barradas pelos parlamentares ou pela justiça.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum