Bolsonaro emparedado e o fim do golpe

Leia na coluna de Cleber Lourenço: Bolsonaro se dobrou para a política e o risco de golpe acabou. Mas isso não significa que devemos permitir que acintes contra a Constituição e instituições sejam normalizados

Jair Bolsonaro (Foto: Carolina Antunes/PR)
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Até há algumas semanas, a estridência de quem jurava de pé junto que o presidente iria avançar contra a democracia brasileira tomava conta das redes sociais e dos noticiários.

Acontece que Bolsonaro nunca possuiu articulação ou capacidade de orquestrar um golpe contra a nossa democracia. Ela é muito maior que o presidente e as instituições que a sustentam são ainda mais firmes.

Embora tenha um ou outro aventureiro que ainda avance contra as nossas instituições e contra a nossa Constituição, no geral são bravateiros da boca para fora. Contam com o medo e o acovardamento do outro para que possam se assanhar contra o país, mas dificilmente avançarão de fato.

Não deu outra no caso do presidente, desde gritos aloprados de “já chega, acabou”, até insinuações de descumprimento de decisões judiciais.

Lembro do dia que Bolsonaro afirmou firmemente que as Forças Armadas estavam ao seu lado, sem nenhum militar ao seu lado. Patético.

Acontece que esse tipo de ameaça sempre cobra um custo quando não se concretiza.

Não foi diferente com Bolsonaro que agora oferece até ministérios para o centrão em uma tentativa desesperada de se segurar no poder.

E pelo visto até mesmo o gesto simpático ao centrão foi um destrambelho só.

Ao agir no desespero, acabou incomodando por privilegiar mais o PSD, que nega ser base do governo, em detrimento de outros partidos que apoiam veladamente o presidente. Não deu certo.

Basta ver, inclusive, alguns gestos de “civilidade” do presidente. Ontem, após a peculiar tentativa de invasão aos estúdios da Rede Globo, ele prestou solidariedade aos jornalistas, contrariando o seu próprio discurso e as atitudes dos seus seguidores que já ofenderam, perseguiram e agrediram profissionais da imprensa seguidas vezes.

Será um cálculo difícil de se fazer. Se continuar com a atitude afrontosa, será emparedado pelas instituições, se ficar mais comportado e passar a respeitar a liturgia do cargo que ocupa, então perderá o encanto de seus apoiadores que querem e buscam um delinquente na cadeira do Planalto.

Periga até mesmo a cair nas graças da imprensa junto com seu aliado ministro, Paulo Guedes, que sempre inventa de tirar um número e um dado da cartola sem o mínimo lastro. Infelizmente, são raras as vezes em que é cobrado pelos chutes no vento.

O exército já desembarcou do barco que nunca entrou, parte do empresariado também quer distância, o Supremo Tribunal Federal e parcelas consideráveis do Congresso também não simpatizam com os acintes antidemocráticos.

E o que mais incomoda é que ele faz o que faz sabendo que não irá adiante com o que diz.

De qualquer forma, o presidente não está em uma situação confortável.

Ou ficará com os lamentáveis Valdemar da Costa Neto e Roberto Jefferson ou ficará com a com a sua militância delinquente.

Na primeira hipótese, poderá não se reeleger. Na segunda, não irá concluir o mandato.

Bolsonaro se dobrou para a política e o risco de golpe acabou.

Mas isso não significa que devemos permitir que acintes contra a Constituição e instituições sejam normalizados.

Inclusive, para não abrir caminho para que outros mais capazes e perversos possam solapar a democracia.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum